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Domingo Gaudete: a alegria dos bons e o desconcerto dos maus

A alegria suscitada pelo iminente nascimento do Redentor é para todos, sem distinção, ou só para aqueles que abrem o coração ao seu amor transformante?

Sao Joao Batista increpando os fariseus

Redação (17/12/2023 15:09, Gaudium Press) A experiência de todos aqueles que convivem com pessoas atingidas por qualquer sofrimento, físico ou moral, comprova que este se torna muito mais difícil de suportar pelo fato de elas não saberem quando será o seu término. Ao se receber a garantia de que a dor cessará em determinado momento, grande parte do tormento desaparece. Da mesma forma, sabe-se por estudos científicos que a alegria é causa do prolongamento de nossa existência e, pelo contrário, quando nos deixamos abater pela tristeza, a vida se encurta.

Algo análogo se verifica na Liturgia deste Domingo Gaudete — a mais significativa de todo o Advento —, cujo principal objetivo é dar a cada um a vigorosa esperança de que, por fim, nosso Redentor está prestes a nascer, e ajudar-nos a compreender com maior profundidade o Vinde, Senhor Jesus!, repetido ao longo destas quatro semanas. Hoje transpomos o marco da ascensão penitencial e somos cumulados de alegria na perspectiva da vinda do Esperado de todas as Nações, que quase comemoramos antecipadamente. Em vista disso, a Igreja celebra este domingo com júbilo, flores, instrumentos musicais e paramentos róseos, implorando na Oração do Dia: “Dai chegarmos às alegrias da salvação e celebrá-las sempre com intenso júbilo na solene Liturgia”.[1]

A voz que clama no deserto, contemplada no Evangelho de São João, pede que aplainemos “o caminho do Senhor”, mudemos de mentalidade e nos enchamos do seu espírito. Mas a Igreja quer que o façamos em meio à alegria, pois saímos de uma situação ruim e melhoramos, e o progresso só pode ser motivo de regozijo. São Tomás[2] explica que a alegria é fruto do amor e, portanto, quem ama tem alegria. A caridade, por sua vez, leva a pessoa a ter um grande desejo de possuir aquilo que a enleva, e nós estamos na expectativa da vinda de alguém que é o Ser por excelência, o próprio Deus Encarnado, o nosso Redentor. Resta saber se há alguma condição para se obter esta alegria, inseparável da vinda d’Ele, ou se ela se destina a todos, sem quaisquer exigências.

Não nos deixemos enganar pela aparente alegria do pecado!

De modo bem diferente à incondicional alegria que a vinda do Redentor deveria trazer, eis a correlação entre júbilo e tristeza, euforia e provação, evocada pelo Evangelho deste 3º Domingo do Advento. Enquanto os bons são assistidos pela alegria da esperança, como aconteceu a São João Batista e aos que se converteram ante a perspectiva do aparecimento do Messias, na alma dos maus, há tristeza e insatisfação. Cabe ao bom saber interpretar a frustração de quem vive no pecado e não pensar que ele está sendo bem-sucedido. Quando, na segunda leitura (1Tes 5,16-24), São Paulo exorta “estai sempre alegres!” (1Tes 5,16), deseja mostrar que quem se une a Deus, pratica a virtude e trilha o bom caminho não pode de forma alguma deixar-se tomar pela má tristeza.

O Domingo da Alegria nos revela uma divisão claríssima que caracteriza a humanidade: os bons estão sempre alegres e os maus, por mais que procurem aparentar alegria, vivem na tristeza. Aqueles que estão ligados a Deus têm o contentamento, a segurança e a felicidade de que carece quem se apega às coisas materiais e Lhe dá as costas. Ambos vivem juntos, mas, no momento em que o homem que pôs sua esperança no mundo e no pecado vê a alegria verdadeira manifestada pelo bom, ou se converte ou quer matá-lo, tal como fizeram a Nosso Senhor Jesus Cristo.

Peçamos, nesta Liturgia, a graça de viver na alegria da virtude, como sinal de nossa inteira adesão ao Salvador que em breve chegará!

Extraído, com alterações, de: CLÁ DIAS, João Scognamiglio. O inédito sobre os Evangelhos: comentários aos Evangelhos dominicais. Città del Vaticano-São Paulo: LEV-Instituto Lumen Sapientiæ, 2014, v. 3, p. 45-61.


[1] TERCEIRO DOMINGO DO ADVENTO. Oração do Dia. In: MISSAL ROMANO. Trad. Portuguesa da 3ª. edição típica para o Brasil realizada e publicada pela CNBB com acréscimos aprovados pela Sé Apostólica. 9. ed. Brasília: CNBB, 2023, p.110.

[2] Cf. TOMÁS DE AQUINO. Suma Teológica, I-II, q.70, a.3.

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