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Dois senhores rivais: Deus e o dinheiro

A frenética busca dos bens materiais causa ansiedade e divide os homens. Eis a solução para as crises atuais: a da desgastada questão social e a da ameaçada economia mundial.

Deus e dinheiro

Redação (18/09/2020 11:51, Gaudium Press) Aqueles que se afanam pelos tesouros deste mundo com desvario acabam por se perder em meio às aflitivas preocupações da vida presente.

O problema central não está em ter bens materiais, mas sim no valor que a eles se tributa e, sobretudo, no afeto que se lhes tenha. O apego às riquezas constitui, a partir de certo grau, uma real escravidão.

De fato, Nosso Senhor Jesus Cristo afirma que ninguém pode servir a dois senhores, porque ou há de odiar um e amar o outro, ou há de afeiçoar-se a um e desprezar o outro. Não podeis servir a Deus e às riquezas.

Um servo não pode entregar sua vontade a dois senhores

Com efeito, havendo um apreço desequilibrado pelos bens deste mundo, quem o possua terá conferido a esses bens o caráter de senhorio. Ora, sabemos o quanto a escravidão, em si mesma, é avassaladora. As faculdades do escravo pertencem ao senhor e a este deve ele entregar todo o seu serviço.

Dá-se o nome de senhor a qualquer coisa a que nos tenhamos entregado em demasia, à qual servimos de alguma maneira: ‘Não sabeis que, quando vos ofereceis a alguém para lhe obedecer, sois escravos daquele a quem obedeceis, quer seja do pecado para a morte, quer da obediência para a justiça?’ (Rm 6, 16).

 “Um senhor pode ter muitos servos, mas um servo não pode ter muitos senhores; pois o próprio do senhor é governar o servo, e não precisamente amá-lo; o específico do servo, porém, é amar, e não governar seu senhor; o mando pode dividir-se, mas o amor, não.

Servir refere-se à situação de um servo que, sem restrição alguma, entrega sua vontade a um senhor. Neste caso, torna-se impossível ao servo obedecer a um segundo senhor que lhe dê qualquer incumbência oposta e simultânea à exigida pelo primeiro. Ademais, acabará por amar menos seu autêntico senhor, atitude à qual equivale o significado do termo “odiar” na língua hebraica.

Na realidade, Deus não quer apenas uma parte de nosso coração, ainda que esta seja grande. Ele o deseja na sua íntegra, e essa entrega deve ser realizada por nós com alegria, generosidade e constância.

Dois opostos: Deus e o dinheiro

O Divino Mestre nos coloca diante de dois senhores diametralmente opostos no que concerne aos seus respectivos interesses: Deus e o dinheiro. O primeiro nos exige a crença nEle e em Suas revelações, a esperança em Suas promessas com amor total, além da prática da castidade, da humildade, como também do cortejo de todas as virtudes.

O dinheiro cobra de nós e nos inspira ambição, volúpia de prazeres, vaidade, orgulho, menosprezo do próximo, etc. Um nos dá forças para praticar o bem e a este inclina nossas paixões, enquanto o outro nos arrasta para o mal e nele nos vicia. O Céu e sua eterna felicidade constituem o estímulo para os esforços exigidos por um dos senhores. A terra e seus prazeres fugazes são os atrativos oferecidos pelo outro.

Esses dois senhores não admitem rivais. O pior rival do dinheiro é Deus, e vice-versa. Por isso, a desgraça do rico que entrega seu coração aos bens da terra consiste em buscar em vão sua felicidade neles; e a desgraça do pobre, em iludir-se com a pseudofelicidade oferecida pelas riquezas. É preciso ter sempre diante dos olhos o quanto são opostos entre si, Deus e o mundo.

Portanto, não queiramos servir a ambos ao mesmo tempo, pois o coração do homem só está em paz quando encontra Deus. Essa “felicidade e bem-aventurança” não estão no afã das riquezas, pois, ao desejá-las fora do amor a Deus, pobres ou ricos entregar-se-ão às ânsias voluptuosas de querer sempre mais.

Deve-se procurar os bens materiais, mas sem inquietação

Evidentemente, não exclui o Divino Mestre nossa obrigação em relação ao trabalho. Sobre este particular há numerosos comentários de santos doutores, demonstrando ser o trabalho um excelente meio de santificação.

Jesus tem diante de Si todos aqueles que colocam como último limite de seus horizontes os bens materiais, e na obtenção destes aplicam sofregamente toda a sua preocupação. Essa atitude carrega consigo uma boa parcela de culpabilidade, além de ser autodestrutiva. Antes de tudo, por ofender de certa forma a Deus, ao manifestar-Lhe desconfiança de Sua bondade. E ademais, perde o apoio divino ao colocar toda a sua segurança em esforços e planejamentos pessoais.

Em síntese, torna-se patente o quanto o homem não pode descuidar dos bens eternos, pelo fato de ir atrás do indispensável à vida. Deve-se buscar os bens materiais, mas sem inquietação, pois esta implicaria em negar a infinita generosidade de Deus.

Busquemos, em primeiro lugar, a nossa santificação

Preocupemo-nos primordialmente em santificar-nos a fim de obtermos o Reino de Deus. Pratiquemos as virtudes e enriqueçamo-nos dos bens do Céu na plena confiança de que, assim, não nos faltarão os da terra.

Evitemos a ruína do relativismo moral de nossos dias e cumpramos nossos deveres do dia-a-dia sem as aflições do amanhã. Não nos é vedado fazer uso de uma sábia e moderada prudência no que tange à nossa manutenção.

É-nos proibido, isto sim, uma destrutiva inquietação com o nosso futuro material que nos leve a esquecer das obrigações de maior atualidade e importância, com relação ao Reino de Deus.

“A cada dia basta o seu mal”, pois jamais devemos nos esquecer da infinita bondade e carinho do Senhor: “Pode uma mulher esquecer-se daquele que amamenta? Não ter ternura pelo fruto de suas entranhas? E mesmo que ela o esquecesse, Eu nunca te esqueceria” (Is 49, 14-15).

Mons João Scognamiglio Clá Dias, EP

 

Texto extraído, com adaptações, da revista Arautos do Evangelho n.77 maio 2008.

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