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Devemos rezar mais pelos vivos ou pelos mortos?

Padecem penas atrozes as almas que se encontram nas chamas do purgatório, mas correm grave risco os vivos que trilham as vias do pecado; para quem devem se dirigir nossas orações?

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Redação (06/08/2020 11:12, Gaudium Press) Iniciou-se uma calorosa discussão em um claustro. Dois personagens de eminente virtude, B. Bertrand de Garrigue e Frei Bento, prior de Montpellier, ambos dominicanos, tratavam da sequinte questão:

Devemos rezar mais pela conversão dos pecadores ou pelas almas do purgatório?

Bertrand de Garrigue sustentava a causa dos pecadores e multiplicava por eles as boas obras. Afirmava que os pecadores, privados da graça, se encontram num estado de perdição; o demônio não cessa de lhes oferecer armadilhas para afastá-los de Deus e conduzi-los à morada das dores eternas, onde haverá pranto ranger de dentes. Quando uma alma se perde, consigo vai também o preço de sua redenção. Quanto às almas do purgatório, elas estão sãs e salvas, seguras de sua salvação eterna.

O prior de Montpellier, tomando o partido das almas do purgatório, expunha:

“Os pecadores estão presos nas correntes que eles mesmos forjaram para si. Eles podem sair da via da iniquidade tão rápido quanto queiram; a graça está sempre próxima, prevenindo, solicitando e apressando seu retorno. Os mortos, ao contrário, com as mãos e os pés atados, estão retidos contra a sua vontade em meio as mais cruéis torturas”.

Uma comparação

“Encontram-se, diante de vós, dois mendigos: um, forte e de boa saúde, podendo fazer uso de suas mãos e trabalhar, se quiser. Entretanto, ele prefere sofrer os rigores da pobreza a renunciar às delicias da preguiça; o outro, ao contrário, doente, aleijado, incapaz de fazer algo por si mesmo, pode apenas implorar a compaixão dos transeuntes por seus gritos e suas lágrimas. Qual dos dois é o mais digno de piedade?

É a história dos pecadores e das almas do purgatório. As almas suportam o mais cruel dos martírios e estão impedidas de fazer qualquer coisa por si mesmas. Elas mereceram seus suplícios, é verdade, mas foram purificadas pela graça de Deus, caso contrário, não estariam salvas. Portanto, são queridas por Deus, queridas de maneira indizível”.

Bertrand de Garrigue não estava, entretanto, convencido e continuou tomando o partido dos pecadores, especialmente o das almas sofredoras. Mas à noite, ele teve uma visão terrível. Um homem, condenado a indizíveis tormentos, o perseguia e o ameaçava, fazendo-o despertar quase dez vezes naquela noite.

Ele compreendeu que era uma alma do purgatório e, a partir de então, ofereceu por elas suas Missas e suas boas obras.

Rezar por quem então?

Como se vê, toda oração tem muito valor aos olhos de Deus, pois, do contrário, nem se colocaria o problema: é melhor rezar para os vivos ou para os mortos?

Com efeito, a autoridade de São Tomás de Aquino confirma a tese de Frei Bento que dá preferência às almas do purgatório. A oração pelos mortos, assegura ele, é mais agradável aos olhos de Deus do que a oração pelos vivos, pois os defuntos têm uma maior necessidade de socorro, uma vez que eles não podem ajudar a si mesmos, como o podem os vivos.

No entanto, alguns homens transidos de generosidade, não se contentando em favorecer apenas um dos conjuntos – o da Igreja Padecente ou o da Igreja Militante –, simplesmente rezando, oferecem-se como vítimas, dispostos a empregar toda sua vida em holocausto pelos seus irmãos. E Deus se agrada dessas almas!

São João Maria Vianney, segundo narra uma biografia sua, atendendo seu pároco no leito de morte, reecebeu dele um conselho para lembrar-se das almas sofredoras. Assim, rezava, durante o dia, pela conversão dos pecadores e, à noite, sofria pelas almas do purgatório, tanto que não conseguia conciliar mais que uma hora de agradável sono.

O sofrimento é o melhor remédio para reparar os pecados próprios ou de outrem. Por isso, causam tanto agrado a Deus aqueles que aceitam bem os sacrifícios. E, sofrendo pelas almas do purgatório, fazem bons amigos no Reino do Céu, onde nada se corrói ou estraga.[1]

 

Por Jiordano Carraro

[1] Baseado em Causeries du dimanche, septimème série. Paris: Bonne Presse.

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