Confiemos no perdão de Deus!
Quem não teme a suprema tribulação, tão terrível que até ao próprio Cristo fez tremer? Como ter esperança na misericórdia e no perdão de Deus?
Redação (03/02/2022 10:31, Gaudium Press) Quando Adão e Eva desobedeceram ao Criador, estabeleceu-se em sua natureza uma fundamental desordem, pela qual as leis da carne e as do espírito entraram em conflito.
Um verdadeiro torvelinho de aflições e de solicitações para o mal se levantou em suas almas, e eles se tornaram incapazes, por suas próprias forças, de praticar de maneira estável os Mandamentos.
Esta é a pior desgraça decorrente da culpa original, muito mais terrível que qualquer angústia, provação, doença, ou mesmo a morte: viver nas trevas do pecado, tendo perdido o claro entendimento de todas as coisas e a inerrância do juízo.
A humanidade atravessou milênios nesse estado de maldição, para o qual não havia remédio. Inúmeras quedas dos descendentes de Adão nos são relatadas pelas Escrituras: os desastres precedentes ao dilúvio, os desatinos que culminaram na construção da Torre de Babel, as reiteradas infidelidades do povo eleito à aliança com o Deus de Israel…
A proclamação que soará por toda a eternidade
Entretanto, dessa condição péssima passamos à melhor das situações, graças à palavra de uma Virgem. Com seus dons místicos e proféticos, Maria idealizou em seu Sapiencial Coração como seria o Salvador prometido e tomou-Se de grande amor por Ele.
Desejava servi-Lo, enquanto escrava de sua Mãe, e rezou com ardor pedindo sua vinda. Ao receber a visita do Anjo para Lhe anunciar os desígnios da Providência a seu respeito no plano da Encarnação, Nossa Senhora respondeu: “Faça-se em Mim segundo a tua palavra” (Lc 1, 38). E com esse “fiat!” tudo se solucionou!
Em seu seio puríssimo o Verbo Eterno Se fez Homem, para que nós nos tornássemos filhos de Deus.
Gerado pelo Pai desde toda a eternidade e idêntico a Ele, o Verbo é seu único Filho por natureza. Esta verdade transcende tanto a inteligência humana, e até a angélica, que só a assimilaremos na glória, mediante um empréstimo da luz de Deus.
A fé recebida no Batismo apenas ampara nossa inteligência para aceitá-la, mas não para entendê-la. Esse Filho Unigênito, vendo as portas do Céu fechadas para os homens em decorrência do pecado e, sobretudo, considerando a ofensa feita ao Pai, a Si mesmo e ao Espírito Santo, desejou reparar tal injúria e, assim, pôr fim à triste situação da humanidade.
O oferecimento de uma vítima expiatória
Sabemos pelas páginas do Antigo Testamento que um dos modos de realizar essa reparação consistia no oferecimento de uma vítima expiatória.
E devia haver efusão de sangue, por ser este o símbolo da vida. Imolavam-se animais em sinal de louvor, ação de graças ou petição, mas, sobretudo, para satisfazer a honra de Deus ultrajada por algum pecado.
Em um dos momentos auge da História Sagrada, por exemplo, Abraão é convocado por Deus a oferecer em holocausto seu único filho, Isaac. Sobre o menino pairava a promessa feita pelo Senhor de que o patriarca, já avançado em idade, teria uma descendência tão numerosa quanto as estrelas do céu e a areia das praias (cf. Gn 13, 16; 15, 5).
Abraão, porém, não vacilou. Cheio de fé, dirigiu-se até o alto de um monte levando consigo Isaac e, no instante em que ia cravar-lhe o cutelo, um Anjo o impediu. Encontrando ali um cordeiro preso pelos chifres num espinheiro, Abraão o tomou e o apresentou como vítima em lugar de seu filho (cf. Gn 22, 3-13).
No entanto, se reuníssemos todos os cordeiros criados, desde o primeiro saído das mãos do Divino Artífice até aqueles que servirão de alimento para Elias no fim do mundo, e os imolássemos em holocausto, não obteríamos o perdão de um pecado venial sequer.
Com efeito, por ser uma ofensa cometida contra Deus, o pecado tem gravidade infinita e só pode ser expiado por uma vítima de valor infinito.
Como, então, reparar a falta de nossos primeiros pais e todas as outras que lhe seguiram? Somente o Sangue de um Cordeiro que fosse Filho de Deus seria capaz de tirar o pecado do mundo.
E assim aconteceu: a própria Segunda Pessoa da Santíssima Trindade Se encarnou e ofereceu-Se como Vítima imaculada e perfeitíssima pela humanidade, num ato inteiramente lúcido, voluntário e livre.
Por essa satisfação apresentada ao Pai, abriram-se de novo para os homens as portas do Céu.
O perdão de Deus
Quando nos recordarmos de nossas faltas passadas, ou nos afligirmos por nossa fidelidade futura, devemos nos lembrar desta proclamação feita por São João: “Eis o Cordeiro de Deus, que tira o pecado do mundo”.
Então teremos a certeza de que Ele quer nos limpar de todas as nossas misérias. Jesus Se ofereceu para ser imolado na Cruz e verteu até a última gota de Sangue por cada um de nós individualmente.
Se Adão e Eva houvessem sido fiéis e, em consequência, a humanidade inteira tivesse nascido no Paraíso, mas uma única pessoa pecasse, Nosso Senhor estaria disposto a sofrer a Paixão a fim de livrá-la da condenação eterna.
Portanto, devo confiar em que, se eu reconhecer minhas faltas e Lhe pedir perdão, Ele me purificará e me assistirá em todas as dificuldades, sobretudo no momento da morte.
Quem não teme a suprema tribulação, tão terrível que até ao próprio Cristo fez tremer? Contudo, saber que Deus Se fez Homem e Se dispôs a morrer por mim me enche de esperança no perdão.
Por seus méritos infinitos, obterei misericórdia e serei assistido pelos dons e graças do Espírito Santo na hora final.
Para nos mantermos nessa clave de abandono e confiança, nunca nos esqueçamos da maior prova do amor de Deus para conosco, depois da Redenção: Ele nos deixou Maria Santíssima, Mãe extraordinária, pervadida de afeto e benquerença por cada um de nós e disposta a tudo para nos amparar.
Que, pela intercessão d’Ela, nunca nos esqueçamos de nossa condição de filhos de Deus e templos da Santíssima Trindade. Se nos mantivermos nesta perspectiva, a graça tornará fértil a terra de nossas almas e fará que nela germine uma nova era histórica, o Reino de Maria!
Por Mons João Scognamiglio Clá Dias, EP.
Texto extraído, com adaptações, da Revista Arautos do Evangelho n. 2017, janeiro 2020.
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