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Comunicar a beleza da Fé

À beleza da Fé opõe-se, antes de tudo, o pecado, que ofende a Deus e desfigura a obra da criação.

Comunicar a beleza da Fe

Foto: Cathopic.

Redação (27/05/2022 10:34, Gaudium Press) Pela relação que tem com o culto eucarístico, pareceu-me oportuno reproduzir, com alguns ajustes, uma reflexão que escrevi há onze anos para a revista “Celebrar” da Comissão de Liturgia da Conferência Episcopal do Equador. Transcorrida uma década, o escrito permanece atual e pertinente; levava por título “Comunicar a beleza da Fé”:

“Na sua mensagem à Assembleia Nacional da Ação Católica Italiana, o Papa Bento XVI encorajou os leigos a oferecer a beleza da Fé ao mundo: “Peço-vos que sejais generosos, solidários e, acima de tudo, comunicadores da beleza da Fé” (09/05/2011). Este pedido é dirigido a toda a Igreja, embora no contexto do momento sejam os leigos da Ação Católica que são exortados. Todo membro da Igreja, seja clérigo ou leigo, deve comunicar essa beleza.

Ora, não se percebe nem se comunica a beleza da Fé como um conjunto de verdades veneráveis ​​que são aceitas como se fossem um fardo, e das que não podem ser negadas sob pena de cair em heresia… A beleza da Fé se traduz para os fiéis em uma opção, em uma vivência assumida. Supõe a conversão do coração que necessariamente segue o encontro pessoal com Cristo, o Senhor. O Papa reinante nos diz em sua primeira encíclica: “Não se começa a ser cristão por uma decisão ética ou por uma grande ideia, mas pelo encontro com um acontecimento, com uma Pessoa, que dá um novo horizonte à vida, e com isto, uma orientação decisiva” (Deus caritas est, n. 1, 25/12/2005).

O homem é mente e coração; deve abrir-se ao amor de Deus com encanto sem cair nas arbitrariedades do subjetivismo, nem aprisionar-se atrás das grades de um racionalismo estéril. Receber o dom de Deus significa aceitá-lo para depois retribuir e dar, pois o amor pede uma resposta. Esta é a chave da revelação cristã que temos às vezes restringido apenas a verdades dogmáticas e a normas disciplinares; ela é consciência, por meio do simbólico e do intelectual, que se torna conduta. Quanta relação têm a música e a arte – para se referir a esses aspectos do testemunho cristão – com a Fé e com sua intrínseca beleza! Na verdade, falar da Beleza da Fé é quase um pleonasmo; por sua originalidade, sua coerência, sua sutileza, por sua esplendorosa riqueza, a Fé é bela.

Mas ela não se comunica apenas por corações apaixonados. Também é transmitida por um conjunto de instituições, costumes, leis, que a Igreja vem assimilando, vivendo e codificando ao longo de dois mil anos, em um caminhar no qual o antigo e o novo caminham de mãos dadas para avançar juntos. É por isso que não se podem subestimar as leis e as normas que emanam da Igreja, como se fossem laços que cortam o ímpeto da alma que quer elevar-se até Deus. Trata-se justamente do contrário: a norma e a lei ajudam a voar, dando base ao voo; são uma guia, um padrão seguro de inspiração que garante a ortodoxia. São, elas mesmas, “jugo suportável e peso leve” (cf. Mt. 11, 30).

A arte sacra, em suas diversas manifestações consoantes com as sábias normas eclesiais, é uma patrimônio precioso e vivo desse “sentir com a Igreja” que leva o fiel a transmitir a Fé. É como a estrutura que dá lugar ao sentimento para que se traduza em convicção. E quando a sensibilidade não acompanha – o que acontece com frequência – a normativa fixa a mente em caminho seguro, impedindo relativizar a Fé. Atenção: não somos comunicadores de sentimentos nem insufladores de fervor. Somos simplesmente testemunhas convencidas e campo de ação do Espírito Santo que é o único santificador.

Assim sendo, não é indiferente que uma melodia executada durante uma celebração litúrgica seja de certa forma, ou que o altar ou o ambão do templo estejam em consonância com os mistérios celebrados. Sinais e símbolos palpáveis ​​significam e simbolizam o divino, por si mesmo tão inefável; são necessários, indispensáveis. O aforismo “Lex orandi, lex credendi” é um princípio básico da teologia litúrgica: “a lei de orar estabelece a lei de crer” ou, em outras palavras: “assim como rezas, assim acreditas”. Quão importante é a norma! Como é fácil desfigurar a Fé!

No mundo secularizado de nossos dias, as regras do culto divino e a disciplina dos sacramentos devidamente respeitados e amados (leis, rubricas e costumes veneráveis) amparam e comunicam a beleza da Fé”. Fim do artigo.

Um veículo privilegiado para transmitir a pulcritude da Fé é, por certo, a liturgia eucarística. Por isso, quando se avaliar o que é a Missa, se conclui que a beleza deva ser um atributo essencial em sua celebração.

À beleza da Fé opõe-se, antes de tudo, o pecado, que ofende a Deus e desfigura a obra da criação. E, em um nível mais operacional, coisas como o improviso, o descuido, a vulgaridade, o mau gosto, o protagonismo arrogante…

Há quem pense que o empenho da beleza se explica em históricas catedrais ou santuários que recebem muitos visitantes e também recursos, e não, por exemplo, em humildes capelas na selva amazônica. Não é assim.

A beleza não implica riqueza, muito menos luxo, não é um benefício para alguns privilegiados, é um requisito de primeira necessidade para todos. Além disso, a promoção na educação e na cultura – que anda de mãos dadas com a beleza – é um direito humano que a Igreja defende nos territórios de missão. A beleza bem concebida, além do meramente estético, como valor metafísico e com seus reflexos materiais, é uma janela aberta para o transcendente… para Deus.

As celebrações eucarísticas não podem ser feridas a golpes pelo pauperismo ou pela mediocridade; a liturgia não é propriedade privada do oficiante ou do povo. Se um templo está descuidado ou uma Missa é celebrada de qualquer maneira, o que resta daquela aclamação que se deve a Deus “toda honra e toda glória”?

Mairiporã, Brasil, maio de 2022.

Por Padre Rafael Ibarguren EP – Assistente Eclesiástico das Obras Eucarísticas da Igreja.

Traduzido por Emílio Portugal Coutinho.

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