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Como odiar o próximo?

A liturgia deste 23º Domingo do Tempo Comum ressalta o valor da correção no convívio humano, como meio eficaz para conduzir as almas no caminho da virtude.

Nosso Senhor ensinando aos Apostolos

Redação (09/09/2023 19:04, Gaudium Press) Nos tempos permissivos em que vivemos, pensamos muitas vezes, ainda que de modo subconsciente, que a correção é má e, por isso, deve ser evitada para não causar constrangimentos. Ora, quem assim raciocina está equivocado e, antes de “amar” o próximo, o está odiando.

A correção, ao contrário, quando feita no momento oportuno e por amor a Deus, pode ser benéfica ao corrigido, desde que esse a aceite com sincera humildade. Sem embargo, a quem compete o papel de corrigir, somente às autoridades? De modo primordial sim, mas não exclusivo.

Na primeira leitura, extraída da profecia de Ezequiel, o Senhor assim se dirige aos pastores:

Se eu disser ao ímpio que ele vai morrer, e tu não lhe falares, advertindo-o a respeito de sua própria conduta, o ímpio vai morrer por própria culpa, mas eu te pedirei contas de sua morte” (Ez 33,8).

Tal trecho bem pode ser aplicado a todos aqueles que exercem autoridade: clérigos, superiores de um conjunto de almas, pais de família, ou qualquer outro superior. Estes, ao negligenciarem seu ofício de pastor poupando a vara a suas ovelhas, sob o pretexto de não as ferir, antes de lhes fazerem o bem, encaminham-nas aos vales e abismos.

Lembrem-se esses que, ao se apresentarem diante de Deus, no dia de sua morte, terão de prestar contas de cada um dos que lhes foi confiado como subalterno.

Como já mencionado, a correção não deve ser aplicada só pelas autoridades, mas por todos. No Evangelho, vemos como Nosso Senhor o atesta de modo claro:

“Se o teu irmão pecar contra ti, vai corrigi-lo, a sós contigo! Se ele te ouvir, tu ganhaste o teu irmão. Se ele não te ouvir, toma contigo mais uma ou duas pessoas, para que toda a questão seja decidida sob a palavra de duas ou três testemunhas” (Mt 18,15-16).

Vê-se como Nosso Senhor estimula o papel da correção individual e, em seguida, se necessária, da correção diante de outras testemunhas. Por quê? Se, num primeiro momento, o corrigido não reconhecer a sua falta, terá nova ocasião por meio de outras pessoas que lhe insistam na mesma ideia, podendo vir a reconhecê-la.

Ademais, a humilhação pública, se bem recebida pelo acusado, apesar de lhe causar dor num primeiro momento, será benfazeja para aumentar a humildade, e encherá a sua alma de paz.

É o que diz a epístola aos Hebreus:

“Na realidade, na hora em que é feita, nenhuma correção parece alegrar, mas causa dor. Depois, porém, produz um fruto de paz e de justiça para aqueles que nela foram exercitados” (Hb 12,11).

Não é necessário apenas que o corrigido aceite bem a correção, mas que aquele que corrige aja no momento oportuno, sem carga temperamental, e movido pela virtude da caridade. Às vezes, a espera pela ocasião certeira leva dias, meses e até anos.

Ora, quantas vezes não somos condescendentes com as faltas de nossos próximos? Em quantas outras não nos custa dirigir-lhes uma palavra de repreensão, com o receio de perder a sua amizade? Nosso Senhor nos está convidando, uma vez mais, a fazermos nossos os Seus divinos critérios, em atenção à sua voz:

“Não fecheis o coração, ouvi hoje a voz de Deus” (Cf. Sl 94,7-8).

Com efeito, segundo o apontado pela liturgia deste domingo, alguém que nos reconduz ao bom caminho, por meio de uma correção, bem pode representar para nós a voz de Deus, tornando o nosso coração atento às palavras de Deus.

Logo, lembremo-nos de que:

“Os mandamentos: “não cometerás adultério”, “não matarás”, “não roubarás”, “não cobiçarás” e qualquer outro mandamento se resumem neste: “amarás o teu próximo como a ti mesmo”. O amor não faz nenhum mal contra o próximo” (Rm 13,9-10).

Peçamos, assim, por intermédio de Nossa Senhora, a graça de nunca deixarmos passar uma ocasião de alertar nossos irmãos, e que não o façamos por amor-próprio, mas por amor a Deus. Deste modo, estaremos amando o nosso próximo de modo sincero; caso contrário, odiando-o…

Por Guilherme Maia

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