Como manter a harmonia na família
O respeito, a polidez e as boas maneiras têm um importante papel… até na intimidade do lar.
Redação (23/12/2020 19:03, Gaudium Press) Napoleão III, Imperador da França de 1852 a 1870, era casado com a condessa Eugênia de Montijo, uma espanhola de rara beleza, atraente conversação e espírito um tanto “apimentado”. Na época, havia algo que a sociedade atual, infelizmente, vai perdendo aos poucos, quase sem se dar conta: a arte de conviver.
Assim, era sobretudo nas recepções da Corte e nos tranquilos momentos de convívio familiar que o casal imperial encontrava suas ocasiões de entretenimento.
Certo dia, o Imperador recebeu inquietantes informações a respeito de uma conspiração com o objetivo de depô-lo do trono. Por isto, ao entrar em seu palácio, no final da tarde, vinha carregado de graves preocupações. Mas não queria afligir sua esposa com o fardo dessas perspectivas perturbadoras.
Encontrou a Imperatriz em seu luxuoso gabinete de toilette, diante do espelho, arranjando-se para uma festa na qual ela devia ser o centro das atenções.
Sentou-se a seu lado, aproveitando a ocasião para distender-se durante alguns instantes de agradável conversa na intimidade familiar.
Enquanto se enfeitava, ela discorria despreocupadamente sobre o “tudo e nada” da vida doméstica, os diz-que-diz da alta sociedade parisiense, e assuntos congêneres. Ele se entretinha ouvindo-a, e isto aliviava-lhe o peso dos inquietantes problemas políticos.
Mas parece que nesse dia a bela e culta espanhola ultrapassou os limites normais da loquacidade. Em certo momento, o Imperador deixou-se tomar por um impulso de impaciência diante das palavras irrefletidas da esposa e interrompeu-a com uma pergunta inesperada:
— Senhora, sabeis qual é a diferença entre vós e o espelho?
— Senhor, nem posso imaginar. Mas quem faz perguntas deste gênero costuma saber a resposta. Dizei-me vós — replicou ela, após poucos segundos de hesitação.
— É que o espelho reflete…
A provocação fora forte! Mas não desconcertante para essa nobre dama dotada de notável presença de espírito. A réplica não se fez esperar:
— E qual é a diferença entre o espelho e vós, senhor?
Por esta ele não esperava. Pensou durante alguns instantes e, por fim, declarou-se vencido:
— Senhora, pusestes em xeque o rei. Não sei responder.
— Vede como o espelho é polido… — concluiu ela, triunfante.
Seguiu-se um curto tempo de silêncio e suspense. Quantas vezes, em circunstâncias semelhantes, um pequeno incidente como este degenerou em áspera discussão e talvez tenha acabado em divórcio! Com Napoleão III e a Imperatriz Eugênia, o que aconteceu?
Respeito, polidez e boas maneiras
Infelizmente, não se pode elogiar neles a vida de piedade, mas viviam numa época em que, mesmo na intimidade, as pessoas de todas as classes sociais estavam habituadas a um trato muito respeitoso, à polidez e às boas maneiras.
Além disto, unia-os uma verdadeira estima mútua, fortalecida pelo vínculo matrimonial. Uma simples troca de olhares e de sorrisos encerrou o episódio.
Ela aprendeu a ser um pouco mais refletida em suas palavras, e ele recebeu uma pequena lição de polidez… Trato respeitoso, polidez e boas maneiras: três valores fundamentais para a boa convivência, sobretudo para manter a concórdia no lar.
São eles elementos importantes de uma arte muito útil para as pessoas de todas as idades, profissões e classes sociais. Genuíno produto da Civilização Cristã, bem pode ela ser chamada de “arte de conviver”. Sabendo manejá-la, o pai e a mãe têm o condão de tornar agradável o convívio em família e de exercer sobre os filhos uma benéfica influência, indispensável para conduzi-los no reto caminho.
Mais importante ainda é a prática da Religião
Essa arte de conviver tem grande importância na vida familiar. Mas não é suficiente. Sem dúvida, a falta de boas maneiras, respeito e polidez é responsável por muitos pequenos incidentes domésticos dos quais decorrem desentendimentos que por vezes terminam em separações.
Porém, a principal causa da ruína de incontáveis lares é a descristianização da sociedade moderna. Ou seja, o afastamento da Lei de Deus, o abandono da oração, da prática da Religião.
Assim, a “arte de manter a concórdia no lar” compõe-se destes elementos: respeito, boas maneiras, polidez, serenidade e, sobretudo, prática da Religião.
Isto é o que havia em grau máximo na Sagrada Família, em Nazaré, modelo supremo para todas as famílias.
Texto extraído da Revista Arautos do Evangelho n. 28. Abril 2004. Por Antonio Queiroz.
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