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Com igrejas fechadas, ouvir os alto-falantes das paróquias comprova saudades da volta das celebrações

Com celebrações a portas fechadas, fiéis do Nordeste acompanham as celebrações e atos religiosos pelos alto-falantes que levam a eles a confiança de que Deus não os esqueceu.

 Com celebrações a portas fechadas, fiéis do Nordeste acompanham as celebrações e atos religiosos pelos alto-falantes que levam a eles a confiança de que Deus não os esqueceu.

 

 Redação (06/06/2020 16:34, Gaudium Press) A história da cidade de Santa Cruz, no Rio Grande do Norte, foi passada –em grande parte–  diante da Igreja Matriz de Santa Rita de Cássia.

A própria Matriz “protagonizou” um dos episódios marcantes da cidade. Em 1º de abril de 1981, os alto-falantes do templo católico ecoaram a voz do monsenhor Raimundo Barbosa anunciando que uma grande enchente se aproximava.

As chamadas “bocas de ferro” do sistema de som externo do templo alertaram a população a procurar abrigo e fugir das áreas mais baixas.
Aquele anúncio salvou milhares de vidas e, semanas depois, as novenas a Santa Rita pediam pela reconstrução de Santa Cruz. Aqueles alto-falantes transmitiram a voz do monsenhor Raimundo, levando mensagem de esperança e alento para os santa-cruzenses.

Os anos se passaram e em 2020, em plena pandemia do novo coronavírus, os católicos do município voltam a escutar uma mensagens de ânimo, agora na voz do padre Vicente Fernandes.
Com celebrações a portas fechadas, as pregações do novo pároco procuram levar para os habitantes a confiança de que Deus não os esqueceu e a certeza de que dias melhores virão.

“Bocas de ferro” levam palavras de esperança frente a ameaça da Covid-19

As mesmas “bocas de ferro”, que anunciaram a mensagem de salvação diante da enchente, também anunciam –quase 40 anos depois– palavras de esperança frente a ameaça da Covid-19 em todo o mundo.

Por meio de um sistema simples, sem a sofisticação dos tempos de alta tecnologia e funcionalidades digitais, os cabos de áudio ativam as bobinas daquela estrutura antiga, extremamente eficaz e simbólica para a história da cidade.

Os alto-falantes, desgastados pelo tempo, são eles mesmos testemunhas da sua utilidade em propagar a vida. Agora eles comunicam a Palavra de Deus para uma população sem celebrações e atos religiosos públicos que leva os fiéis a já considerar demasiadamente longo o período de fechamento das igrejas.

Eles passam a ser consideradas uma necessidade em locais onde a internet e os sinais de TV e rádio são precários e… as igrejas estão fechadas.

Paróquias transmitem as Missas, o terço diário e a oração do Angelus

Não é só Santa Cruz que guarda seu tradicional e eficaz serviço de comunicação. No território da Arquidiocese de Natal, nos municípios mais interioranos, há comunidades que que ainda contam com o alto-falante para as comunicações.

Em Taipu, por exemplo, esse sistema de comunicação é utilizado na igreja matriz de Nossa Senhora do Livramento.
De acordo com o coordenador paroquial da Pastoral da Comunicação (Pascom), Paulo Viana, há mais de 30 anos a paróquia mantém a tradição de transmitir, pelos alto-falantes, a recitação do terço mariano diariamente, às 18h, e a missa, às quintas-feiras e aos domingos, às 19h30.

Paulo atesta que “Nesta pandemia, durante as transmissões das missas, os fiéis ficam em frente às suas casas e, no momento da comunhão, várias pessoas vão até à porta da Igreja, tomando os devidos cuidados, para receber a Eucaristia”.

Outro exemplo está na igreja de Nossa Senhora da Conceição, imponente templo religioso da cidade de Ceará-Mirim, na região metropolitana de Natal. Lá o sistema de som transmite o terço nos sábados, e a missa de terça a sexta, às 19h, e aos domingos, às 8h. Neste período, os fiéis têm acompanhado as celebrações da praça que fica em frente à matriz.

Sinos convidam para as Missas “assistidas” das portas de casa

No sertão potiguar, onde os recursos tecnológicos são ainda mais escassos, os alto-falantes se tornaram um grande aliado da evangelização. É assim na cidade Agreste de Cima, distante 7 quilômetros da sede da Diocese de Mossoró (RN), mais exatamente na Paróquia São Miguel.

Minutos antes da missa começar na igreja matriz o sino avisa que a celebração já vai começar. Prontamente, convidados pelos badalos, casais colocam tamboretes na calçada diante de suas casas e, atentos, neles se acomodam para melhor poder acompanhar a celebração litúrgica.

E, em várias casas, o mesmo acontece: saudosos das missas e outras cerimônias, eles, “participam” dos atos religiosos …respeitando o longo isolamento social.

“Somos uma comunidade pequena onde não dispomos de todos os meios de comunicação, mas percebemos a importância do nosso alto-falante –nesse excepcional tempo de quarentena– na transmissão da Palavra de Deus e no processo de evangelização da comunidade”, afirma o agente da Pascom da Paróquia de São Miguel, Antônio Chaves da Silva.

“O Evangelho precisa chegar a todos os homens”, mesmo com igrejas fechadas

Também isso tem acontecido em outras cidades como nas paróquias de Campo Grande, Encanto, Luis Gomes e na Área Pastoral de Santo Antônio, no município de Antônio Martins.
Nessas localidades, as difusoras, ou “bocas de ferro”, transmitem, além da missa dominical com o bispo diocesano, dom Mariano Manzana, a Hora do Angelus, a novena da festa do padroeiro, os informes paroquiais e de órgãos públicos de interesse da comunidade.

Interpretando o que pensam aqueles que recebem e os que promovem a difusão do som dos velhos alto-falantes, o diácono José Vitor dos Santos, da paróquia da cidade de Luis Gomes diz para finalizar:

“O Evangelho precisa chegar a todos os homens”. (JSG)

 

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