Cardeal Sarah sobre distribuição da Eucaristia em saquinhos: “O problema é a crise de fé dos sacerdotes”
Em entrevista, o cardeal Robert Sarah declara que “o diabo ataca fortemente a Eucaristia” nos dias de hoje. A comunhão, a ser recebida, deve ser feita de “maneira digna”: “Não estamos num supermercado”.
Roma – Itália (02/05/2020 16:25, Gaudium Press) Na Itália ainda não terminou a discussão sobre a retomada das missas na assim chamada “fase 2” da saída da quarentena. Bispos italianos, como Dom Giovanni D’Ercole, declararam aberta oposição ao governo italiano por prorrogar a abertura das igrejas sine die: “É uma ditadura impedir o culto”, pontuou o Bispo de Ascoli Piceno.
Com efeito, vaticanistas de La Stampa informaram que especialistas do governo italiano ainda avaliam que a comunhão traria consigo altíssimo risco de contágio. Por isso, estaria sendo elaborado uma espécie de protocolo propondo distribuir a Eucaristia de modo self-service ou take-away.
Sim, nessa concepção, as hóstias consagradas seriam “fechadas cada uma em pequenos sacos de plástico apoiados em estantes”. Recentemente, o governo de Santa Catarina propôs algo análogo, mas voltou atrás, ante a reação contrária da opinião pública.
A Eucaristia deve ser tratada com fé, não como algo trivial
Quando o Prefeito da Congregação para o Culto Divino e Disciplina dos Sacramentos foi perguntado pelo portal Nuova Bussola Quotidiana a respeito dessa possibilidade, respondeu escandalizado:
“Não, não, não, isso não é absolutamente possível, Deus merece respeito, não pode ser colocado num saco. Não sei quem pensou nesse absurdo, mas se é verdade que a privação da Eucaristia é certamente um sofrimento, não se pode negociar sobre o modo de comungar. Comunga-se de maneira digna, digna de Deus que vem até nós. A Eucaristia deve ser tratada com fé, não podemos tratá-la como um objeto trivial, não estamos no supermercado. É totalmente insano”.
Eucaristia em saquinhos?
Sobre um sacerdote jesuíta na Alemanha que distribui a Eucaristia em saquinhos, comentou:
“Infelizmente, muitas coisas são feitas na Alemanha que não têm nada de católico, mas isso não significa que devemos imitá-las. Recentemente, ouvi um bispo dizer que, no futuro, não haverá mais assembleias eucarísticas, apenas a liturgia da Palavra. Mas isso é protestantismo”.
“A resposta à privação da Eucaristia não pode ser profanação”
Quanto às razões de comiseração pelos fiéis em busca da Sagrada Eucaristia, da qual estão privados, aliado ao fato de que existiria alto risco do contágio, comenta:
“Há duas questões que devem ser absolutamente esclarecidas. Antes de tudo, a Eucaristia não é um direito nem um dever: é um dom que recebemos livremente de Deus e que devemos acolher com veneração e amor. O Senhor é uma pessoa, ninguém daria boas-vindas à pessoa que ama em um saquinho ou de qualquer outro modo indigno. A resposta à privação da Eucaristia não pode ser profanação. Isso realmente é uma questão de fé, se acreditarmos que não podemos tratá-la indignamente”.
Os fiéis podem pedir para confessar ou receber a comunhão
Uma outra questão é ainda esclarecida pelo purpurado:
“Ninguém pode impedir um padre de confessar e dar comunhão, ninguém pode impedir. O sacramento deve ser respeitado. Assim, mesmo que não seja possível assistir as missas, os fiéis podem pedir para se confessar e receber a Comunhão”.
Missas por internet: não podemos nos acostumar com isso; a missa não é um espetáculo
A respeito das missas via internet ou por televisão, comenta:
“Não podemos nos acostumar com isso, Deus se encarnou, ele é carne e sangue, não é uma realidade virtual. Também é altamente enganador para os padres. Na missa, o padre precisa olhar para Deus, mas em vez disso está se acostumando a olhar para a câmera, como se fosse um espetáculo. Não podemos continuar assim”.
Comunhão na mão ou na boca?
Sobre a discussão da recepção da comunhão na mão ou na boca, Nuova Bussola Quotidiana recorda a declaração de um médico especialista (que contraria a obrigatoriedade por parte da Conferência Episcopal Italiana) que alertou que a recepção na boca seria mais higiênica, precisamente porque as mãos são o principal meio de contágio, segundo evidências epidemiológicas. Sobre isso, comenta o cardeal:
“Já existe uma regra na Igreja e isso deve ser respeitado: os fiéis são livres para receber a Comunhão na boca ou nas mãos”.
“Jesus não pode ser tratado assim”
Sobre a sensação de que a Eucaristia está sofrendo um ataque nesses dias, declarou:
“Não deveria nos surpreender. O diabo ataca fortemente a Eucaristia, porque ela é o coração da vida da Igreja. Mas acredito, como já escrevi em meus livros, que o cerne do problema é a crise de fé dos sacerdotes. Se os padres estão cientes do que é a Missa e do que é a Eucaristia, certas maneiras de celebrar ou certas hipóteses sobre a Comunhão sequer passariam pela cabeça. Jesus não pode ser tratado assim”.
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