Gaudium news > Cardeal Sarah: “A Igreja não muda, somos nós que devemos mudar”

Cardeal Sarah: “A Igreja não muda, somos nós que devemos mudar”

O Cardeal Sarah pode explicar e desenvolver seu pensamento sobre vários temas da atualidade além de falar sobre a crise na Igreja

Cardeal Robert Sarah prefeito da Congregação para o Culto divino e a disciplina dos Sacramentos

Redação (quinta-feira 23/09/2021 19:15, Gaudium Press) Em entrevista concedida à Cath.ch, o antigo prefeito da Congregação do Culto divino, Cardeal Sarah falou um pouco sobre diversos assuntos que fazem a atualidade bem como a crise na Igreja e no mundo.

“A Religião Católica é exigente”

Quando perguntado se ele concorda com o adjetivo “intransigente” que alguns lhe dão com frequência, o Cardeal Sarah afirmou: “Deus é exigente, porque o amor é exigente. Se intransigente se entende nesse sentido , eu concordo (…) A religião cristão é exigente. Ela não é fácil” e explicou que não se pode viver a fé com frivolidade.

Apesar de ter deixado a Congregação para o culto divino no começo do ano, o Cardeal explicou que sua missão atual é confirmar os fiéis na fé, a fim de que o objeto da fé não mude. “O Evangelho ainda é válido, como foi para os Apóstolos, para os padres da Igreja e para os santos ao longo da história. Como nós cantamos todos os Sábados Santos: ‘Cristo é o mesmo ontem, hoje e eternamente”.

A Crise atual e a Tradição da Igreja

Sobre a recente publicação de Bento XVI, o Cardeal Sarah afirmou que compartilha da mesma visão de Bento XVI: a crise atual é antropológica. “O ser-humano acredita ser capaz de se inventar, de se criar por si mesmo. Ele não quer depender de Deus”.

Sobre a Tradição da Igreja, o prelado explicou que o Ocidente esqueceu a herança (da tradição) e “uma árvore sem raízes morre” é preciso progredir levando em consideração à história e a tradição, sob o risco de cair em um desgoverno.

Cardeal Sarah recebera titulo de Honoris Causa pela Universidade Catolica de Valencia 2

Suposta rivalidade contra Francisco

Sobre as recentes afirmações do Papa Francisco sobre não ter medo da liberdade nem da novidade, ele disse: “É preciso se abrir, mas permanecendo o mesmo. Se eu me abro a alguém, eu não devo desaparecer. Eu devo permanecer quem eu sou. Cristão, eu permaneço cristão.”

Sobre sua possível rivalidade contra Francisco, O Cardeal afirmou “É uma etiquete que me colam. Mas ninguém vai achar uma só palavra, ou frase que eu tenha dito ou escrito contra ele”.

“A Igreja não muda, somos nós que devemos mudar”

Um assunto longamente abordado durante a entrevista foi se a Igreja é ou não mutável. Diversas vezes, o Cardeal se exprimiu afirmando que não, a Igreja Católica não muda. Abaixo alguns trechos:

“Não, a Igreja não muda. Ela nasceu do costado transpassado do Cristo na Cruz. Somos nós que devemos mudar”.

“O Vaticano II não diz que a Igreja deve mudar. Ela cresce em número e santidade, mas ela não muda o que ela é, um prolongamento de Cristo”.

“Não importa qual seja minha cultura, meu lugar de nascimento, meu continente, minha fé em Jesus Cristo não muda”.

Quando o repórter lhe diz que os tradicionalistas o veem como um “porta-estandarte”, o Cardeal Sarah retrucou: “Não, eu não sou um porta-voz. Eu afirmo o que a Igreja Católica sempre acreditou e afirmou. Eu afirmo a doutrina e o ensinamento moral da Igreja”.

A liturgia é para Deus

Outro tema abordado foi a liturgia, o silêncio e o latim. Assim se expressou o ex-Secretário da Congregação para o Culto Divino:

“Quando um muçulmano se prepara para suas orações ele faz suas abluções e se põe em um canto em silêncio e quando termina, ele vai rezar. O que fazem os sacerdotes? Se preparam na sacristia conversando e continuam conversando durante a procissão de entrada”.

“É um mal ter acabado com o latim”. “A língua da Igreja, da liturgia é o latim. Quando estamos juntos entre africanos ou com pessoas de outros continentes, o latim nos une e nos permite celebrar juntos”.

Sobre a Missa explicou: “Com frequência [durante a Missa] nós apenas falamos. O Padre fala, fala, sem espaço para o silêncio. Na África nós temos muitas danças, aplausos, mas podemos dançar diante de um morto? (…) A Liturgia não é para o homem, ela é para Deus.” (FM)

Deixe seu comentário

Notícias Relacionadas