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Bem-aventurados os pobres em espírito

Possuir ou não bens materiais é secundário. Tudo depende de onde colocamos o nosso coração: em Deus ou nas coisas deste mundo.

Bloch SermonOnTheMount

Redação (29/01/2023 11:11, Gaudium Press) Dentre os numerosos santos que ornam o firmamento da Santa Igreja, São Luís Gonzaga é, sem dúvida, um dos mais conhecidos, sobretudo, entre a mocidade católica.

O simples ecoar de seu nome, faz-nos meditar naquela virtude que mais o caracterizou: uma pureza ilibada, uma virgindade excelsa. Entretanto, pouco se conhece a respeito de sua ascese e dos esforços não pequenos que tal virtude lhe custou.

Por exemplo, com apenas 11 anos, sendo de uma nobre família da Itália, ele vivia como um verdadeiro religioso, mesmo em meio à corte: rezava horas a fio, não se importava com as honras de sua estirpe, fazia mortificações etc. E tão grande era o seu desapego às coisas terrenas e às glórias deste mundo, que chegou a afirmar em certa ocasião: “Não convém que por causa de nosso nascimento nos façamos tão grandes; pois, enfim, as cinzas de um príncipe não se distinguirão das de um pobre, a não ser por uma maior decomposição”.[1]

Foi esta entrega completa a Deus que fez de Luís Gonzaga uma verdadeira luz não só para o século XVI em que viveu, mas para toda a História.

Pobreza material e pobreza espiritual

Naquele tempo, vendo Jesus as multidões, subiu ao monte e sentou-se. Os discípulos se aproximaram, e Jesus começou a ensiná-los (Mt 5,1-2).

Já no início do Evangelho, encontramos uma lição preciosa: para ser contado entre os “alunos” do Divino Mestre, é necessário desapegar-se das tensões e preocupações terrenas e subir ao monte da serenidade, ao monte da vida espiritual.

Coloquemo-nos nesta clave e ouçamos o conhecido “Sermão da montanha” ou “Sermão das bem-aventuranças”, que nos apresenta a liturgia de hoje. Eis o que diz Nosso Senhor:

“Bem-aventurados os pobres em espírito, porque deles é o Reino dos Céus” (Mt 5,3).

Nos versículos anteriores, São Mateus deixou bem claro que estas palavras de Nosso Senhor eram destinadas aos seus mais próximos: aos apóstolos e discípulos. De fato, entre eles não se encontravam muitos doutos e magistrados; em sua maioria, o público de Jesus nesta ocasião era composto de simples pescadores. Poderiam ser aplicadas a eles as palavras de São Paulo na segunda leitura de hoje:

“Entre vós não há muitos sábios de sabedoria humana, nem muitos poderosos, nem muitos nobres” (Cor 1,26).

Entretanto, de modo algum se pode afirmar que, no trecho acima mencionado, o Salvador se referisse apenas às pessoas carentes de recursos materiais. Muito pelo contrário, o Mestre não disse simplesmente “Bem-aventurados os pobres”, mas sim “Bem-aventurados os pobres em espírito, porque deles é o Reino dos Céus”.

Foi o que afirmou o Papa Bento XVI em seu livro Jesus de Nazaré: “A pobreza da qual aqui se fala nunca é um fenômeno puramente material. A pobreza puramente material não salva, embora os desfavorecidos deste mundo, de seguro, possam contar de modo muito particular com a bondade divina. Mas o coração das pessoas que nada possuem pode estar endurecido, intoxicado, corrompido – interiormente cheio de cobiça, esquecido de Deus e ávido apenas de bens materiais”.[2]

“Os ‘pobres em espírito’ mencionados pelo Divino Mestre neste versículo não são os carentes de dinheiro, e sim os homens desapegados dos bens deste mundo, sejam estes muitos ou poucos, para seguirem a Jesus Cristo”.[3]

Os sofrimentos tornam-nos credores das bênçãos de Deus

Portanto, é perfeitamente possível ser rico de bens materiais, e pobre em espírito. São Luís Gonzaga possuía recursos materiais em abundância; um caminho de honras mundanas lhe estava aberto desde a infância; se quisesse, poderia entregar-se aos prazeres terrenos com muita facilidade. Mas ele amava mais a Deus do que qualquer coisa deste mundo e por isso abandonou os bens passageiros para apegar-se aos eternos.

Infelizmente, também é possível ser pobre materialmente e rico em espírito. Como isso se dá? “Um pobre, revoltado com a sua condição, dominado pela inveja, pela ambição ou pelo orgulho, será um ‘rico de espírito’ ao qual o Reino dos Céus jamais poderá pertencer”.[4]

Possuir ou não bens materiais é secundário; tudo depende de onde colocamos o nosso coração: em Deus ou nas coisas deste mundo.

A atitude perfeita consiste, pois, primeiramente, em não nos apegarmos a nada que não seja o próprio Deus. E, se por Ele formos cumulados de bens, sejamos gratos e amemos a Ele não por causa destes bens, mas sim com um amor puro, pelo simples fato d’Ele ser um Deus bondoso e dadivoso. Se, ao contrário, tivermos que passar por dificuldades em nossa vida, nunca nos revoltemos contra a Providência e, sobretudo, não nos deixemos dominar pela inveja alheia. Antes, agradeçamos a Deus por estes padecimentos, pois, quando somos cumulados de bens, nos tornamos devedores de Deus; mas, quando sofremos e amamos a Deus, Ele se torna nosso devedor.[5]

Por Lucas Rezende


[1] CEPARI, Vigilio. Vie de saint Louis Gonzague. Dijon: Antoine Maître, 1855, p. 41.

[2] BENTO XVI. Gesù di Nazaret. Dal Battesimo alla Trasfigurazione. Milano: Rizzoli, 2007, p. 100-101.

[3] CLÁ DIAS, João Scognamiglio. O inédito sobre os evangelhos. Città de Vaticano: LEV, 2013, v. 2, p. 45.

[4] Ibid.

[5] Cf. AFONSO MARIA DE LIGÓRIO, Santo. Clássicos de Espiritualidade: A prática do amor a Jesus Cristo. Trad. Luís Augusto Rodrigues Domingues. São Paulo: Cultor de livros, 2021, v. 19, p. 50-51.

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