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Assunção de Nossa Senhora aos Céus: Um caminho de luz é aberto a todos

Embora seu Divino Filho já estivesse ressurrecto na companhia dos eleitos, o fato de Nossa Senhora unir-Se a eles, sendo a mais bela, elevada e santa das puras criaturas, foi um surto de consolação para quantos aguardavam a ressurreição de seus corpos.

Assuncao de Nossa Senhora Catedral de Curitiba Brasil Foto Reproducao

Redação (15/08/2023 13:18, Gaudium Press) “Com efeito, por um homem veio a morte e é também por um homem que vem a ressurreição dos mortos. Como em Adão todos morrem, assim também em Cristo todos reviverão” (I Cor 15, 21-22). Ao traçar um paralelo entre Cristo e Adão, o Apóstolo São Paulo mostra que não conheceríamos a morte se não fosse o pecado do primeiro homem, sendo necessário que outro homem triunfasse sobre ele.

Nossas almas já foram purificadas da mancha original pelo Batismo, mas falta-nos ainda vencer a morte com os nossos corpos ressurrectos. “Porém, cada qual segundo uma ordem determinada: em primeiro lugar, Cristo, como primícias; depois os que pertencem a Cristo, por ocasião da sua vinda” (I Cor 15, 23). Entre os que são d’Ele destaca-Se Nossa Senhora, a mais excelsa criatura humana, que adquire corpo glorioso e ocupa no Céu um lugar especial por ser a Mãe de Deus.

Embora a Igreja não tenha definido se Maria morreu ou não, é dogma de Fé que Ela transpôs os umbrais da eternidade em corpo e alma, realizando o plano de Deus. Sua Assunção oferece-nos um penhor de esperança, que em certo sentido pode ser considerado maior que o da Ressurreição de Nosso Senhor Jesus Cristo.

Esta ousada afirmação prende-se a que Ela, enquanto pura criatura, é a Filha primogênita da Igreja, o membro de máxima elevação do Corpo Místico de Cristo, e Se encontra, portanto, mais próxima de nossa contingência humana que seu Divino Filho, que é Homem mas também é Deus.

A exemplo de Maria

Na passagem de Maria Santíssima deste mundo para a eternidade vislumbramos desde já o que nos acontecerá no Juízo Final, caso venhamos a morrer em estado de graça. Todos nós – esta é uma profecia que qualquer um pode fazer, sem risco de incorrer em erro – partiremos desta vida. E quanto tempo mediará entre a morte e a ressurreição? Não importa, pois para Deus nada é impossível. Nossa alma foi por Ele criada a partir do nada e o corpo, embora tenha origem humana nos pais, foi constituído por Ele.

Sendo onipotente, Deus pode criar e recriar todos os seres. Assim como nos formou individualmente e infunde a alma em cada criança recém-concebida, pode mandar que os restos mortais de homens falecidos – alguns há milhares de anos, como nossos pais Adão e Eva – sejam reunidos e seus corpos reconstituídos em estado glorioso.

Em última análise, a ressurreição certifica a onipotência divina. Pela simples lembrança de que morreremos, seremos sepultados e esperaremos até sermos recompostos de forma gloriosa, a ponto de adquirirmos um corpo espiritualizado, já antegozamos esse momento de extraordinária beleza em que triunfaremos, como Nossa Senhora no dia da Assunção.

Maria não podia conter mais graça

É edificante considerar que, independentemente de Maria Santíssima ter morrido ou não, pelo fato de ser imaculada nunca sofreu Ela nenhuma enfermidade, não envelheceu ou padeceu a menor mazela decorrente do pecado, e seu corpo não esteve sujeito à decomposição, sendo esta uma das razões de sua Assunção ao Céu.

Levantemos, porém, algumas hipóteses a respeito de outros motivos que terão levado Nossa Senhora a passar desta vida para a eternidade com seu corpo glorioso.

Ensina a doutrina católica ser a caridade uma virtude que se radica na vontade. Quando é muito forte, o amor impele quem ama a unir-se a quem é amado. Todo cristão, no dia do Juízo, deve apresentar seu progresso na caridade, por ser ela imprescindível para entrar no Céu.

Ora, houve alguém que partiu desta vida não com amor, mas por amor: Nossa Senhora. Afirma Santo Alberto Magno que “mais obrigação tem de amar aquele a quem se dá mais. À Beatíssima Virgem foi dado mais que a todas as criaturas; logo, estava obrigada a amar mais do que qualquer outra”.

E assim o fez, conclui o santo doutor. N’Ela, a caridade intensificou-se de tal maneira que o corpo não mais podia sustentar a alma, e o desejo de contemplar a Deus face a face para unir-Se a Ele fez com que a alma de Maria Santíssima, ao subir, levasse também o corpo.

A par disso, é certo que n’Ela a graça, embora plena desde sua concepção, aumentou incessantemente ao longo da vida a ponto de mais não comportar quando ocorreu a Assunção.

Eis a maravilha de uma criatura humana que, de plenitude em plenitude, de perfeição em perfeição, havia chegado ao extremo limite de todas as medidas, até quase não existir diferença entre a sua compreensão do universo e a própria visão de Deus.

O que Lhe faltava? Apenas a Assunção. Sua alma atingiu tal sublimidade, alcandoramento e esplendor, que o véu de separação entre a natureza humana e a visão beatífica tornou-se tênue, se desfez, e – sem necessidade de passar por qualquer julgamento – Ela viu a Deus. Em consequência, seu corpo tornou-se glorioso e Ela elevou-Se ao Céu.

A humanidade divinizada entra na glória

Outra razão da conveniência deste magnífico acontecimento é a restituição prestada a Deus por todos os benefícios concedidos ao gênero humano. Uma vez que a Segunda Pessoa da Santíssima Trindade desceu dos Céus, para Se encarnar, trazendo ao mundo a divindade humanizada, seria justo que uma pessoa humana fizesse um oferecimento harmonicamente contrário e levasse para o Céu o melhor da santidade, o que de mais belo, excelente e extraordinário ­pudesse existir na terra: a humanidade divinizada. Tal missão foi reservada a Maria. Por outro lado, Ela foi o sacrário do Filho de Deus durante os nove meses nos quais gerou a humanidade santíssima de Cristo. Era compreensível que havendo-O recebido como tabernáculo na terra, também Ele A recebesse em seu Santuário Celeste.

Júbilo na eternidade

Que gáudio incomparável experimentaram todas as almas bem-aventuradas quando Nossa Senhora ali entrou em corpo e alma! Embora seu Divino Filho já estivesse ressurrecto na companhia dos eleitos, o fato de unir-Se a eles, sendo a mais bela, elevada e santa das puras criaturas, foi um surto de consolação para quantos aguardavam a ressurreição de seus corpos. No que diz respeito aos Anjos, vinham eles esperando havia muito tempo tal acontecimento, pois Maria fora a pedra de escândalo, o sinal de contradição que dividira o mundo angélico, e a fidelidade a Ela, enquanto protagonista do plano divino, havia sido a causa da beatitude dos bons.

É possível que Deus tenha deixado os anjos em certo suspense, sem revelar pormenores sobre a sua natividade, a fim de que levantassem hipóteses ao longo da História da salvação, permanecendo sempre atentos para discernir quando a prevaricação do povo eleito O levaria a suscitar aquela Filha perfeita. Ávidos de vê-La sentada no trono que Lhe fora destinado, queriam venerá-La, prestar honras e homenagens a uma Rainha que, sendo apenas criatura humana, teria mais graça que todos eles juntos. É no instante de sua subida aos Céus que, finalmente, veem a realização desse anseio, e com quanto júbilo!

A coroação da Santíssima Virgem

Tendo Nossa Senhora completado sua missão, bem podemos imaginar como foi seu triunfo no Céu: as três Pessoas da Santíssima Trindade A receberam e A glorificaram. Coroada pelo Pai, que Lhe conferia o poder impetratório e depositava em suas mãos o governo da criação, Maria Santíssima passou a ser a administradora dos tesouros divinos; um suspiro d’Ela é capaz de mover a vontade do Criador. O Filho, a Sabedoria Eterna e Encarnada, Lhe deu toda a sabedoria, e o Espírito Santo, enquanto seu Esposo, Lhe concedeu a faculdade de santificar as almas.

Diante do penhor de nossa ressurreição, que nos é dado pelo mistério da Assunção de Maria Santíssima, deveríamos nos considerar mutuamente uns aos outros segundo esse ­ideal, como se estivéssemos já ressurrectos, pois acima do abatimento e das provações desta vida brilha a esperança da glorificação para a qual rumamos.

Vivamos buscando os bens do alto, e que nosso pensamento acompanhe o trajeto seguido por Maria Virgem. Ela penetrou no Céu em corpo e alma e foi exaltada; nós, na hora presente, como não podemos adentrá-lo fisicamente, façamo-lo ao menos em desejo. Voltemo-nos para o trono de Maria Assunta, e assim receberemos graças sobre graças para estarmos sempre postos nesta via que nos conduzirá à ressurreição feliz e eterna, quando recuperaremos os nossos corpos em estado glorioso.

Mons. João Scognamiglio Clá Dias, EP

Texto extraído, com adaptações, da Revista Arautos do Evangelho n. 188, agosto 2017.

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