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As implicações da visita do ministro israelense ao Vaticano

Eli Cohen esteve no Vaticano, no dia 13 de julho, e garantiu que o Estado judeu terá tolerância zero para qualquer tipo de crime de ódio.

Ministro israelense

Redação (25/07/2023 08:54, Gaudium Press) Os insultos e agressões, também físicas, de judeus ortodoxos contra cristãos em Jerusalém preocupam as autoridades católicas e judaicas que veem esses fatos serem colocados em foco pela mídia em geral, comprometendo o prestígio de Israel em todo o mundo. Ademais, estão atraindo cada vez mais a atenção de analistas que acreditam que Israel pode ser um pequeno espelho do que acontece no mundo inteiro.

Segundo o Il Sismografo, há doze anos, um ministro das Relações Exteriores israelense não pisava em solo vaticano. Eli Cohen esteve lá em 13 de julho, para assegurar que, em seu país: vigora a lei de liberdade de culto para todas as religiões, que o Estado israelense está comprometido em cuidar da segurança dos cristãos e que haverá tolerância zero com qualquer tipo de crime de ódio contra os cristãos.

Atento ao Ministro Cohen estava o experiente Dom Paul Richard Gallagher, Secretário para as Relações com os Estados e Organismos Internacionais. O ministro agradeceu a posição constante da Santa Sé contra o antissemitismo e convidou o Vaticano a adotar a definição de antissemitismo de acordo com a International Holocaust Remembrance Alliance (Aliança Internacional para a Memória do Holocausto – IHRA). Não parecia o melhor momento para pedir mais compromissos antissemitas, justamente quando nos encontramos no auge de cuspes e insultos às freiras e aos peregrinos em Jerusalém, mas certamente Dom Gallagher deve ter recebido o pedido benignamente, como de costume.

No site de notícias Crux, John Allen lembrou que o último encontro entre essas autoridades, em 2011, havia sido uma tentativa para estabilizar a situação fiscal das propriedades da Igreja na Terra Santa, e que agora o motivo é o aumento das agressões, o que mostra a degradação da situação do cristianismo no país onde Jesus nasceu.

Degradação posta mais uma vez em foco, depois do ocorrido com o abade Schnabel no Muro das Lamentações, há poucos dias, quando uma funcionária israelita lhe pediu para cobrir ou retirar a sua cruz peitoral, a qual portava por fazer parte de sua veste como superior da abadia da Dormição de Maria. O abade recusou educadamente e firmemente, não deixando de afirmar que era mais um fato da numerosa intolerância recentemente registrada contra os cristãos.

Jerusalém, santa só para os judeus?

Entretanto, uma frase proferida pelo abade parece fundamental para qualquer análise do assunto, “Jerusalém é grande o suficiente para todos”, o que implicava a pergunta: está deixando de ser?

Porque se é isso que está acontecendo, a questão é complicada pela simples razão de que a Cidade Santa não é apenas para judeus, mas para bilhões de pessoas de outras religiões, que estão cada vez mais sentindo faltar ar para respirar a liberdade de sua religião.

Israel não pode esquecer que a sua própria existência contemporânea se deve, em grande parte, à benevolência dos líderes do mundo cristão. Também deveria lembrar o que a História não esquece, o que aconteceu quando se implantou o exclusivismo total e discriminatório do uso daquele solo sagrado. Alguns chegam a afirmar que a primeira guerra mundial não foi propriamente a da Batalha de Verdun no século passado, mas as Cruzadas, e que, embora os cristãos no final tenham perdido essa “guerra mundial”, a memória dos fatos e motivações – fundamentalmente de natureza religiosa – não morreu, tanto que, séculos mais tarde, o general Gouraud chegou ao túmulo de Saladino em Damasco, e quis “acordá-lo” dizendo que “tinham” voltado.

De qualquer forma, a visita do ministro das Relações Exteriores israelense ao Vaticano pelo menos abre a esperança de que o Estado judeu não quer se acostumar com a intolerância, ou não acalenta a esperança de que essa situação de assédio venha a ser vista como algo normal, o que seria uma falsa ilusão.

Alguns veem a próxima elevação ao cardinalato do patriarca latino de Jerusalém, o franciscano Pierbattista Pizzaballa, como um aviso de que para o Vaticano o assunto não é menor. Porque não é menor o que este arcebispo, chefe visível da Igreja naqueles territórios, declarou que ele próprio tem sido alvo dos cuspes, embora “não com frequência”, e até por… crianças.

“Talvez haja uma geração jovem, por exemplo, nos assentamentos, que cresceu em um contexto extremista ou polarizado e não conhece a diversidade”, declarou Dom Pizzaballa recentemente. “Não é uma questão de judaísmo tradicional, mas de grupos marginais.”

De qualquer forma, e apesar do futuro cardeal franciscano falar em atos marginais, há muitos analistas que veem neste movimento discriminatório ultraortodoxo mais uma manifestação da fragilidade e dependência do atual governo em relação a esse setor que, na sua base, se sentiria mais livre para expressar os seus reais sentimentos. Na verdade, a base ultraortodoxa está crescendo demograficamente, e os partidos ultraortodoxos atualmente detêm 32 assentos dos 120 no Parlamento, o Knesset.

A publicidade destes fatos não deve ser de todo simpática às muitas comunidades judaicas no exterior – normalmente bem estabelecidas, respeitadas, influentes, mas minoritárias, como são os cristãos em Israel –, porque, no mundo globalizado da fibra óptica e da internet, em muitos aspectos, as fronteiras estão sendo apagadas e tudo corre na velocidade da luz. (SCM)

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