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Agora e na hora da nossa morte

 Há muitas pessoas que trabalham em hospitais, as quais afirmam ouvirem coisas, verem vultos e sentirem sensações incomuns. Qual é a explicação para isso?

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Redação (12/05/2023 10:07, Gaudium Press) Nos últimos meses, vi a morte levar cinco pessoas próximas. A primeira foi uma amiga de 51 anos, aparentemente saudável, cheia de ânimo e planos para a vida. Teve uma dor de cabeça e foi para o pronto-socorro; era um aneurisma. Morreu dois dias depois. Em seguida, foi a esposa de um colega de trabalho, uma jovem de 22 anos, que deixou um filhinho de três anos. Ela estava bem quando, num domingo, teve uma indisposição e também foi ao pronto-socorro. Precisou ficar internada. Passou uma semana no hospital, piorando a cada dia; entrou numa anemia profunda e morreu sem que os médicos chegassem a um diagnóstico – apenas disseram que ela foi acometida por uma doença autoimune, o que abre um leque de possibilidades, mas nada em concreto.

Dois amigos morreram de câncer. Um já na casa dos 70, porém muito jovial. Tinha um comércio e trabalhava todos os dias, de domingo a domingo, desde a manhãzinha até as oito da noite. Era um homem de bom caráter e de bom coração, estimado por todos. O outro era um intelectual de renome, figura de destaque na sua área de atuação, e que acabara de fazer 50 anos. O quinto tinha 41 anos, estava com depressão e tirou a própria vida.

Todas essas mortes aconteceram a intervalos muito curtos e, mal me recuperara do luto de uma, já estava acontecendo outra. Isso me tem feito refletir muito profundamente sobre o sentido e a brevidade da vida e me perguntar: se a morte é a única certeza que temos, por que nunca estamos preparados para ela, seja a morte das pessoas que gostamos ou a nossa própria?

Uma frase tem estado presente em meus pensamentos, o finalzinho da oração da Ave-Maria: “Rogai por nós, pecadores, agora e na hora de nossa morte”. É comum que, ao rezarmos, peçamos pelas coisas presentes, por nossos desejos, nossas necessidades, pela paz do mundo, por alguém que precisa de ajuda. Contudo, na Ave-Maria, estendemos o nosso pedido de proteção a Nossa Senhora não apenas agora mas também na hora da nossa morte.

O que acontece na hora da nossa morte?

Afinal, o que será que acontece na hora da nossa morte? É possível nos prepararmos para ela? Ou será que, mesmo sendo pessoas piedosas, levando uma vida de oração, pautada nas boas ações, teremos dificuldade de encará-la e de estarmos, de fato, preparados para recebê-la?

Acredito que o primeiro entrave seja justamente não sabermos quando será a hora da nossa morte. Por outro lado, talvez esse conhecimento não nos ajudasse muito, e poderia até nos deixar aflitos e preocupados, piorando as coisas. Mas, falando friamente, saber que podemos ser colhidos pela morte a qualquer momento, em qualquer esquina, até mesmo dormindo, não deixa de ser aflitivo e de nos recordar a nossa insignificância e completa ignorância a respeito dos mistérios da vida.

Falar da morte sempre foi um tabu. Até alguns anos atrás, quando uma pessoa tinha câncer, por exemplo, era comum o médico falar para alguém da família, mas não falar para o paciente, deixando aos familiares a responsabilidade de decidir se contavam ou não para a pessoa que ela estava com aquela “doença ruim”, até então, vista como sinônimo de morte.

Apesar de haver vários tipos de câncer que têm cura, sobretudo quando diagnosticados cedo, essa ainda é uma das doenças que mais mata no mundo. Os tratamentos se tornaram menos agressivos, novos remédios vêm sendo testados, e a abordagem médica mudou radicalmente. Hoje existem os médicos paliativistas, que tratam das pessoas que não têm cura, procurando lhes dar conforto e qualidade de vida, e conversar abertamente sobre a morte. Com isso, aqueles que são acometidos por doenças incuráveis são tratados com dignidade e podem tomar decisões importantes a respeito de suas vidas, suas famílias e seus negócios. E, o ideal seria que tomassem decisões assertivas também a respeito de sua vida espiritual…

É possível enganar a morte?

A morte tem seus desígnios, nem sempre fáceis de entender. Durante a pandemia, vimos o falecimento de pessoas jovens e saudáveis, sem as chamadas comorbidades, e testemunhamos o adoecimento e a cura de pessoas idosas, algumas com mais de 100 anos, várias com sérios problemas de saúde preexistentes.

Muitos devem se lembrar de um caso acontecido em 2019 e amplamente noticiado pela imprensa: um homem com câncer em estado terminal que aceitou ser voluntário em um tratamento dito revolucionário. Vamberto Luiz de Castro tinha um linfoma muito agressivo nos ossos e já estava em estado terminal, quando se voluntariou para o tratamento com a terapia genética conhecida como CART-Cell, no Hospital das Clínicas de Ribeirão Preto, interior de São Paulo.

A cura do Sr. Vamberto foi rápida e provocou o entusiasmo da equipe de médicos e cientistas à frente da experiência, e seu caso foi conhecido mundialmente. Entretanto, passados apenas dois meses da comprovação da cura, ele sofreu um acidente doméstico, caiu, teve traumatismo craniano e morreu. Um caso que talvez confirme a sabedoria popular que afirma que é impossível driblar a morte: quando chega a hora, de um jeito ou de outro, ela vem. Isso não significa que devemos ser negligentes e não nos tratarmos, mas sim que os desígnios de Deus estão muito acima de nossa compreensão e que vida e morte a Ele pertencem.

Quase sempre ela nos pega despreparados

Conversando com sacerdotes que costumam atender pacientes em hospitais ou mesmo em casa, quando já estão desenganados pelos médicos, eles afirmam que uma das coisas mais difíceis é encontrar alguém que esteja, de fato, preparado para a morte. As pessoas se transformam diante da possibilidade de morrer. Sejam elas egoístas e materialistas ou boas e altruístas, geralmente, saem de seu estado normal diante da perspectiva da partida próxima.

Há aqueles que sequer aceitam a presença de um sacerdote, muitas vezes chamados pela família, quando na iminência da morte. E, em outros casos, pode ser o paciente quem queira falar com um padre, confessar-se e receber os sacramentos, mas a família não aceita, porque deseja que a pessoa viva e tem a enganosa impressão de que a visita do sacerdote traz mau agouro e apressa a morte.

Obviamente, isso não é verdadeiro e esse é um medo infundado. Há, sim, casos em que o enfermo está há muito tempo em agonia e a presença de um padre o ajuda a tranquilizar-se, e a morte acontece de forma serena, assim como também há casos de pessoas que estão para morrer, recebem a unção dos enfermos e se curam, inexplicavelmente.

A função da visita do padre, no entanto, não é nem curar a pessoa e tampouco apressar a morte. O sacerdote, ao oferecer a unção dos enfermos, a possibilidade da confissão e a Sagrada Eucaristia para aqueles que ainda têm condições de receber esses dois sacramentos, está cumprindo o seu papel de servo de Deus e colaborando para que a vontade de Deus seja cumprida. Se todos soubessem a importância deste encontro com Deus, pela visita de um sacerdote, muitos se comportariam de outra maneira.

Foto: Olga Kononenko/ Unsplash

Foto: Olga Kononenko/ Unsplash

Histórias de hospital

De vez em quando, costumam circular na internet algumas histórias contadas por médicos, enfermeiros e socorristas, principalmente aqueles que trabalham em UTIs ou com pacientes terminais de modo geral. São histórias que, para muitos, podem até parecer exageradas, mas, pela idoneidade das pessoas que partilham esses relatos, merecem ser levados em consideração.

É comum contarem casos de aparelhos que parecem ganhar autonomia e ligar ou desligar sozinhos; pacientes que afirmam terem sido “avisados” de que a sua hora chegou e adotam uma postura tranquila, se despedem das pessoas e morrem tranquilamente. Há também aqueles que ficam desesperados e com medo, e relatam estar vendo inimigos ou formas assustadoras, ficando agitados, e afirmando que não querem morrer.

Existem muitas histórias de pessoas que entram num estado de tranquilidade, serenidade e paz, mesmo quando enfrentam muitas dores, alegando ver algo que os olhos humanos não alcançam, alguma energia, algum quadro que não conseguem descrever ou até mesmo anjos e pessoas que parecem ter vindo buscá-las.

Entre os relatos dos trabalhadores da área da saúde, há muitos que afirmam ouvirem coisas, verem vultos e sentirem sensações incomuns como arrepios, lacrimação, sensação de mal-estar e medo ou sentimentos benfazejos e harmoniosos. Qual é a explicação para isso?

Para quem não crê, a morte é o fim da vida

Infelizmente, muitos não creem e, para quem não crê, a morte é apenas o fim da vida, sem nenhuma perspectiva ou esperança de continuidade. Deve ser muito triste e desesperador morrer assim, ver se avizinhar a morte estando nesta condição mental.

Entretanto, para os que creem, os que viveram bem as suas vidas e estão em comunhão com Deus, a morte não deve ser vista com pavor e medo, não deve ser encarada como inimiga, mas sim como uma porta, uma ponte, uma transição entre o céu e a terra, entre esta vida e a vida verdadeira.

Devemos viver como se nunca fôssemos morrer – e não vamos, porque nossa alma é imortal –, mas estando preparados para morrer, porque a morte pode vir a qualquer momento. Em seu livro Preparação para a morte, nos diz Santo Afonso Maria de Ligório: “Considera os mandamentos divinos, recorda os cargos e ocupações que tiveste, as amizades que cultivaste, anota as tuas faltas e faze – se ainda não o fizeste – uma confissão geral de toda a tua vida… Ó, quanto contribui a confissão geral para pôr em boa ordem a vida de um cristão!

Mas quando devemos fazer essa confissão geral? Somente quando estivermos doentes ou mais velhos? Não! Faça-a agora, pois a morte pode surpreendê-lo durante o sono desta noite ou estar à sua espera amanhã de manhã. O momento para pôr a vida em ordem é este, é agora. Não espere o amanhã que pode nunca chegar.

O difícil de agora é o impossível do momento da morte

Santo Afonso diz ainda: “Cuida que essa conta sirva para a eternidade, e trata de resolvê-la como se tu te apresentasses no tribunal de Jesus Cristo. Afasta de teu coração todo afeto mau e todo rancor ou ódio. Satisfaze qualquer motivo de escrúpulo acerca dos bens alheios, da reputação lesada, de escândalos dados, e propõe firmemente fugir de todas as ocasiões em que possas perder a Deus. Pensa que aquilo que agora parece difícil, impossível parecerá no momento da morte. O que mais importa é que resolvas pôr em execução os meios de conservar a graça de Deus”.

Portanto, vivamos bem, coloquemos as coisas em ordem, conscientizemo-nos da fugacidade da vida e, principalmente, não nos esqueçamos de recorrer a Maria, que Deus, por Sua infinita bondade, nos deu por intercessora e apoio na hora da nossa morte. Peçamos isso a Ela todos os dias, várias vezes ao dia e, muito provavelmente, seja qual for o dia e o motivo da nossa morte, Ela estará ao nosso lado, segurando a nossa mão, disposta a nos conduzir ao céu, se assim tivermos feito por merecer.

Por Afonso Pessoa

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