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A perenidade dos Mandamentos

Hoje em dia parece estar na moda questionar a atualidade dos Dez Mandamentos: ditados há tantos milênios, seriam eles ainda válidos na vida moderna, teatro de circunstâncias tão diferentes?  

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Redação (18/04/2021 15:47, Gaudium Press) Sendo talvez o elemento mais comum — e simultaneamente o mais valioso — do nosso entorno, a água é condição para qualquer forma de vida. E, na sua infinita sabedoria, Deus dispôs que ela cobrisse mais de setenta por cento da superfície de nosso belo planeta, além de constituir a maior parte da composição de qualquer ser vivo.

Instrumento na mão do Altíssimo — vivifica pela chuva ou castiga pelas inundações — serviu ela inúmeras vezes ao longo da História para ensinar os homens: salvou o povo judeu no Mar Vermelho, enquanto puniu os egípcios, e até hoje cura em Lourdes… Mas, sobretudo, a água foi criada por Deus para nos falar de realidades sobrenaturais, pois toda criatura é, “pelo mais profundo de seu ser, uma ‘palavra’ que Deus pronuncia sobre Si mesmo”.[1]

Assim, no Batismo, a água que lava o corpo significa e realiza a purificação da alma, e introduz uma nova vida, que nos era destinada desde o princípio, mas cuja continuidade fora cortada pelo pecado original. Nossa participação na vida divina pela graça estabelece uma relação altíssima com Deus, e nos possibilita agir como Ele, com o fim de unir-nos a Ele pela inteligência e pela vontade, à busca de aperfeiçoar em nós a imagem do Criador.

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Para alcançar esta belíssima meta deu-nos Ele, como guia perfeito, o Decálogo.

Hoje em dia, contudo, parece estar na moda questionar a atualidade dos Dez Mandamentos: ditados há tantos milênios, seriam eles ainda válidos na vida moderna, teatro de circunstâncias tão diferentes?

Na primeira leitura deste III Domingo de Páscoa, temos uma contundente afirmação do Apóstolo Virgem, com relação àqueles que não observam sua Lei, apesar de se considerarem conhecedores de Deus: “Aquele que diz ‘Eu o conheço’, mas não guarda os seus mandamentos, é mentiroso, e a verdade não está nele.” (I Jo 2, 5)

Seriam, pois, ainda hoje tais Mandamentos idênticos aos que vigoraram em tempos tão remotos?

Para responder a estas perguntas, cumpre considerar que os preceitos morais foram dados ao homem como meio de este se relacionar com Deus, correspondendo a exigências não circunstanciais, mas essenciais, porque inerentes à natureza humana. Por isto, também, o Decálogo é atemporal, e disto deu Javé prova patente ao gravá-lo, não num frágil papiro, e sim em pedra, sinal de perenidade; e o Verbo Encarnado ratificaria isto depois pessoalmente (cf. Lc 16, 17; Mt 5, 17).

Ademais, cuida Deus de imprimir esta Lei em cada alma criada: revoltar-se contra ela significa, portanto, além de uma revolta contra o Criador, um atentado contra nossa própria natureza.

E quanto a adaptar a Lei divina aos costumes do tempo, cumpre tomar cuidado para não merecer a censura feita por Cristo aos fariseus: “Vós sabeis muito bem como anular o Mandamento de Deus, a fim de guardar as vossas tradições” (Mc 7, 9). Teimar em reformar o Decálogo com base em conceitos humanos, enquanto afirma “crer em Deus”, é uma doença do coração que pode levar à morte… eterna!

Assim como a essência da água não sofreu alteração alguma ao longo de tantos milênios, e continua sendo imagem da perenidade das coisas, também o homem, nas suas características essenciais, permanece o mesmo desde o dia de sua criação até hoje. Mas, sobretudo, Deus não mudou, por ser imutável e sempre esplendorosamente idêntico a Si mesmo.

Por que, então, mudariam os Mandamentos?

Extraído, com adaptações, de: EDITORIAL. Água, essa “Palavra” de Deus.  In: Arautos do Evangelho, ano XIV, n. 164, ago. 2015, p. 5.


[1] BANDERA GONZÁLEZ, OP, Armando. Tratado de los Ángeles. Introducción a las cuestiones 50 a 64. In: SÃO TOMÁS DE AQUINO. Suma de Teología. 4.ed. Madrid: BAC, 2001, v.I, p.492.

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