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A “Lepra” da impiedade e a discriminação

Chega a tanto esta soberba e loucura que já não há quase ninguém que se atreva a repreender e avisar a outrem de suas faltas, porque ninguém quer comprar pendências com seu próprio dinheiro. E nisto mesmo tem o homem o seu merecido castigo; pois, o que merece o enfermo que não se deixa curar?

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Redação (14/02/2021 09:46, Gaudium Press) A Liturgia deste domingo nos fala de dois leprosos e de duas curas.

A primeira leitura (2 Rs, 5, 9-14) narra a cura de Naamã, chefe de exército do rei de Aram, realizada por intermédio do profeta Eliseu.

Já no Evangelho (Mc 1, 40-45), o próprio Nosso Senhor Jesus Cristo restitui a saúde ao leproso que lhe implorava, cheio de fé: “Se queres, tens o poder de me curar”.

Um detalhe nos chama a atenção: em um e outro caso, a iniciativa da cura não partiu nem de Eliseu, nem de Nosso Senhor; foram os dois leprosos que acorreram ao encontro dos homens de Deus – um deles era o próprio Deus – para pedir que os curassem. No primeiro caso, a cura ainda implicava condições: Naamã devia se banhar sete vezes no Jordão – arbitrariedade realizada, visivelmente, a contragosto.

Por outro lado, do leproso do Evangelho a fé e a confiança foram indispensáveis para que ele obtivesse a cura.

O que se conclui daí? Um princípio muito importante: somente os que querem podem ser curados.

E já não mais falemos tanto de doença física, mas sim da espiritual, que se alastra com rapidez espantosa no mundo; falemos da “lepra do pecado”.

É dever do católico trabalhar pela santificação própria e a dos outros; mas, de que adianta querermos, sob pretexto de “inclusão fraterna”, admitir que certos pecados graves e conscientes sejam cometidos em nossa presença? Está certo que releguemos a nossa Fé a um patamar rebaixado para “fazer o bem” a pessoas que sabem estar no mau caminho e nele desejam permanecer?

“Haverá – dirão alguns – possibilidades de este ou daquele pecador empedernido se converter à nossa fé, não o tratemos com desprezo!”

Ao célebre sacerdote jesuíta[1] encomendamos a resposta:

“Chega a tanto esta soberba e loucura que já não há quase ninguém que se atreva a repreender e avisar a outrem de suas faltas, porque ninguém quer comprar pendências com seu próprio dinheiro. E nisto mesmo tem o homem o seu merecido castigo; pois, o que merece o enfermo que não se deixa curar? Que o deixem morrer sem remédio.

É o que merece quem não quer que o repreendam, e leva a mal o aviso que lhe dão. E este é um dos maiores castigos que lhe pode advir: ‘não se quer aproveitar da cura e da medicina? Deixemo-lo.’

Pois ‘Quem despreza a correção morrerá’, diz o sábio (Prov 12, 1).”

* * *

Meditemos um pouco nestas verdades; será que Nosso Senhor curaria leprosos que quisessem, obstinadamente, permanecer doentes e com suas chagas malignas? E nós, faríamos bem se, por exemplo, nos dedicássemos a trabalhar num leprosário onde os doentes não desejam nem cura nem tratamento? Abandoná-los à sua sorte, e deles nos afastarmos seria, por acaso, um ato de “discriminação”?

Não nos esqueçamos de que a “lepra do pecado” é também, a seu modo, contagiosa.

Por: Afonso Costa


[1] Cf. AFONSO RODRIGUES. Exercícios de perfeição e virtudes cristãs. Lisboa: União Gráfica.

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