A expressividade do silêncio
Redação (Sexta-feira, 15-09-2017, Gaudium Press) Ao percorrermos as páginas das Sagradas Escrituras, deparamo-nos com inúmeras recomendações e importantíssimas afirmações dadas pelo próprio Espírito Santo a fim de nos ensinar o caminho certo para chegar à Pátria Celestial. Detenhamo-nos em um aspecto dos conselhos que nos apresentam os livros sapienciais: “Não te apresses em abrir a boca; […]que tuas palavras sejam, portanto, pouco numerosas.” (Ecl 5,1) e ” […] o homem sábio guarda silêncio” (Pv 11,12) Não obstante, o ditado popular resumiu em: “A palavra é de prata e o silêncio é de ouro”.
Qual é a grandeza do silêncio? O que o torna superior à palavra?
Primeiramente, o silêncio não pode ser considerado somente no seu aspecto negativo – exclusão de palavras, pois o silêncio também fala. Esta verdade é oferecida pela própria experiência, pois, em inúmeras ocasiões de nossa vida, deixamos transparecer o que acontece dentro do nosso interior através, não só de palavras, mas também do silêncio. Com ele afirmamos, negamos, consentimos, reprovamos e mostramos a nossa alegria ou recriminação em relação a algo. O próprio Nosso Senhor Jesus Cristo, na hora da crucificação, depois de dirigir aquelas extraordinárias palavras ao bom ladrão, ofereceu um frio silêncio ao mau ladrão, que teve mais expressividade do que um colossal discurso.1
O silêncio é um extraordinário instrumento capaz de transmitir, em várias ocasiões, mais ideias do que as próprias palavras. Referindo-se ao Espírito Santo afirma o Padre Plus:2 “Fala sem articular palavras, e todos ouvem seu divino silêncio (…) Sem necessidade de estar atento, ouve a menor palavra dita no mais íntimo do coração.” Ou seja, o silêncio é perfeitamente interpretado por Deus, sendo um dos meios que Ele mais usa para relacionar-se com as suas criaturas e revelar-lhes maravilhas que apenas podem ser entendidas na sacralidade e tranquilidade próprias ao silêncio.
Para viver de Deus, com Ele e para Ele, as pessoas, sempre que possível, abandonam o bulício do mundo e abraçam o isolamento.3 São Jerônimo conta que Davi, em sua infância, fugia da agitação da cidade e buscava a solidão dos desertos. E as Escrituras nos contam que Judite tinha, na parte mais elevada de sua casa, um quarto recolhido onde permanecia enclausurada com suas fiéis servas (Jt 8, 5).
Mas o que são estas maravilhas que Deus nos revela através do silêncio? O que ele diz em nossos corações? A que nos convida? Certa ocasião, Monsenhor João Clá Dias esclareceu a seus filhos espirituais:
“O que diz o silêncio?[…] Escute-me porque o timbre de minha voz é grave e suave. Escute-me porque o que tenho a dizer eleva a alma, descansa e entretém. Escute-me porque minhas palavras põem em sua alma um certo refrigério, uma certa luz, uma certa paz que você havia esquecido que existe e que agora quando fala com você, o chama para maravilhosas solidões de que já havia perdido a lembrança e as saudades. À força de falar com o silêncio, você mesmo começa a ser um daqueles que, pelo silêncio, fala, o seu silêncio interior faz ouvir palavras e você começa a entender, a dizer dentro de si mesmo que não é uma recordação que isso traz, é uma esperança, são os dias vindouros que o aguardam”.4
São João da Cruz nos lembra: “Uma palavra pronunciou o Pai, que foi seu Filho, e esta fala sempre em eterno silêncio, e em silêncio há de ser ouvida pela alma”.5 E assim, as virtudes serão praticadas mais facilmente conforme afirma São Rafael Arnaiz:
“É o silêncio que nos faz humildes, que nos faz sofridos; que, ao termos sofrimentos, nos faz contar somente a Jesus para que Ele também, no silêncio, nos cure sem que os outros saibam […] O silêncio é necessário para a oração. Com o silêncio é difícil faltar com a caridade; com ele se agradece, mais do que com palavras, o amor e carinho de um irmão […]”.6
E São Bernardo declara: “É o silêncio guardião da religião, nele está nosso vigor”.7
Portanto, o silêncio é indispensável para escutar a Deus e acolher a sua comunicação. Ele nos convida a permanecer em um estado de espírito profundo, claro e elevado para que, ouvindo seus sábios conselhos, vivamos santamente em um convívio digno e sublime, não só com os homens, mas principalmente com Aquele que nos criou.
Por Gabriela Victoria Silva Tejada
1 Cf. Id. Devoção ao sagrado Coração de Jesus. In: Dr. Plinio. São Paulo: Ano XIV, n. 155, feb. 2011, p. 10.
2 PLUS, SJ, Raúl. Cristo en nosotros. Barcelona: L. Religiosa, 1943, p. 153.
3 Cf. Imitação de Cristo, Liv. I, c. 20, m.1.
4 CLÁ DIAS, Jõao Scognamiglio.A seriedade e o silêncio que proclamam: Retiro. São Paulo, jul. 2002.
5 Obras Completas, BAC, Madrid, 1946, p. 1200.
6 SAN RAFAEL ARNÁIZ. Hermano Rafael Arnáiz Barón Obras completo. Burgos: Monte Carmelo, 2002, p. 291.
7 Cf. SAN BERNARDO DE CLARAVAL. Domenica prima post octavam Epiphaniae. Sermo 2, 7. “silentium scilicet, custos religionis, et in quo est fortitudo”
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