Papa recebe “Colégio de Escritores” da ‘Civiltà Cattolica’
Cidade do Vaticano (Quinta-feira, 09-02-2017, Gaudium Press) Sessenta membros da comunidade ‘La Civiltà Cattolica’, revista em língua italiana elaborada e editada sob a responsabilidade dos Jesuítas da Companhia de Jesus, foram recebidos em audiência pelo Papa Francisco.
Na ocasião o Santo Padre demonstrou satisfação por encontrar-se com este “colégio de escritores” e também com outros jesuítas da mesma comunidade, as religiosas e todos os leigos que colaboram com escritores, redatores e os que trabalham na revista e na administração da casa em que vivem.
O Papa estendeu seus cumprimentos até aos leitores, porém, sem deixar de lembrar os editores que, a partir de agora estarão publicando ‘La Civiltà Cattolica’ em outros idiomas: espanhol, inglês, francês e coreano.
Uma viagem de 167 anos
O encontro com o Santo Padre comemora um feito histórico: ‘La Civiltà Cattolica’ lança a sua edição de número 4.000: “Um marco único: a revista fez uma viagem de 167 anos no tempo e prossegue com coragem a sua navegação em alto mar”, disse Francisco.
E o Papa Jesuíta recomendo a todos: “Permaneçam em alto mar! O católico não deve ter medo do mar, não deve buscar refúgio em portos seguros. Vocês, jesuítas, evitem se apegar as certezas e seguranças. O Senhor nos chama para sair em missão e não se aposentar para proteger certezas”.
Desde o Beato Pio IX
Em 1866, Pio IX instituiu a revista La Civiltà Cattolica com os Estatutos originários. “Lendo hoje os estatutos -disse Francisco- notamos uma linguagem que não é mais a nossa, mas o sentido profundo e específico da revista é bem descrito e deve permanecer imutável, ou seja, de uma revista que é expressão de uma comunidade de escritores jesuítas que partilham não somente a experiência intelectual, mas também a inspiração carismática e, no núcleo fundamental da redação, a vida cotidiana da comunidade. O centro de La Civiltà Cattolica é o Colégio dos Escritores. Tudo deve girar em torno dele e sua missão”.
Não foi a primeira vez que um Papa recebeu esse “colégio de escritores”. Segundo o Pontífice:
“Os meus predecessores, desde o Beato Pio IX a Bento XVI os encontraram, em audiência, reconhecendo como esta navegação esteja na barca de Pedro. Este vínculo com o Pontífice é desde sempre uma característica essencial dessa revista. Continuemos a navegar impelidos pelo sopro do Espírito Santo que nos guia. “
Quatro mil edições
“Quatro mil fascículos não são uma coleção de papeis. Há uma vida formada de reflexão, muita paixão, lutas e contradições, mas sobretudo de trabalho”.
“Estou feliz de abençoar as (novas) edições de La Civiltà Cattolica em espanhol, inglês, francês e coreano. Uma evolução que os seus predecessores, nos tempos do Concílio, tinham em mente, mas que não foi concretizada.
Esta nova etapa ajudará também a ampliar seus horizontes, e a receber contribuições escritas por outros jesuítas de várias partes do mundo. A tendência da cultura viva é de se abrir, integrar, multiplicar, partilhar, dialogar, dar e receber dentro de um povo e com outros povos com os quais se relaciona”.
Três plavras, três Padroeiros
O Papa destaco três palavras em sua reflexão com a comunidade da “La Civiltà Cattolica”: inquietação, incompletude e imaginação.
E deu também padroeiros, três jesuítas, para os quais dev3m olhar e que poderão servir de modelo, paradigma e padrão, para poderem ir adiante:
Inquietação
“Somente a inquietação dá paz ao coração de um jesuíta. Sem inquietação somos estéreis. Se vocês querem ser pontes e fronteiras devem ter a mente e o coração inquietos. Os valores e as tradições cristãs não são peças raras que devem ficar fechadas nas caixas de um museu. A certeza da fé seja o motor de suas pesquisas”.
O Papa deu como padroeiro São Pedro Fabro (1506-1546), homem de grandes desejos, espírito inquieto, mas satisfeito. Para ele, uma fé autêntica requer sempre um desejo profundo de mudar o mundo.
“Que essa revista tome consciência das feridas deste mundo e encontre terapias. Seja uma escritura que tende a compreender o mal, mas também colocar óleo nas feridas abertas, a curar”.
Incompletude
Francisco afirmou: “Deus é o Deus sempre maior, o Deus que nos surpreende sempre. Por isso, vocês devem ser escritores e jornalistas do pensamento incompleto, ou seja, aberto e não fechado e rígido. Que a fé abra o seu pensamento. Deixem-se guiar pelo espírito profético do Evangelho para ter uma visão original, vital, dinâmica, não óbvia, especialmente hoje num mundo tão complexo e cheio de desafios em que parece triunfar a ‘cultura do naufrágio’, nutrida de messianismo profano, de mediocridade relativista, de suspeita e rigidez, e a ‘cultura da lata de lixo’, onde deve ser jogado fora tudo aquilo que não funciona, como se deveria, ou é considero inútil”.
A crise é global e somente um pensamento aberto pode enfrentar a crise e a compreender para onde o mundo está andando.
O Papa deu como ponto de referência o Servo de Deus Pe. Matteo Ricci (1522-1610). Ele compôs um grande mapa do mundo chinês representando os continentes e ilhas até então conhecidos:
“Com os seus artigos vocês são chamados a compor um mapa do mundo: mostrar as descobertas recentes, dar um nome aos lugares, fazer conhecer qual é o significado da ‘civilização’ católica, e fazer os católicos conhecerem que Deus trabalha também fora dos confins da Igreja, em toda verdadeira ‘civilização’, com o sopro do Espírito”.
Imaginação
Sobre a imaginação disse o Papa: “este é o tempo do discernimento na Igreja e no mundo. O discernimento se realiza sempre na presença do Senhor, vendo os sinais e as coisas que acontecem, ouvindo as pessoas que conhecem o caminho humilde da teimosia cotidiana, especialmente os pobres. A sabedoria do discernimento resgata a ambiguidade necessária da vida, mas é preciso entrar na ambiguidade, como fez o Senhor Jesus assumindo a nossa carne. O pensamento rígido não é divino porque Jesus assumiu a nossa carne que não é rígida, a não ser no momento da morte”.
Este foi o terceiro ponto de referência do Papa, ao qual ele ainda acrescentou:
“Gosto muito da poesia. A poesia é cheia de metáforas. Entender as metáforas ajuda a tornar o pensamento ágil, intuitivo, flexível e afinado. Quem tem imaginação não se enrijece, tem o senso do humorismo, aproveita a doçura da misericórdia e da liberdade interior. É capaz de escancarar visões amplas em espaços restritos como fez em suas obras pitorescas o irmão Andrea Pozzo, abrindo com a imaginação espaços abertos, cúpulas e corredores nos lugares onde existem somente tetos e muros”. (JSG)
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