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Arcebispo de Porto Alegre aponta redução da natalidade como ‘crise desumana’

Porto Alegre (Terça, 15-09-2009, Gaudium Press) O arcebispo de Porto Alegre, dom Dadeus Grings, apontou a existência de uma ‘crise desumana no plano da maternidade’, provocada pela redução ‘drástica de nascimentos’. A afirmação foi feita em um artigo publicado ontem pela arquidiocese da capital gaúcha.

“As razões são múltiplas. Houve, sem dúvida, uma campanha sistemática, apoiada por governos e pelos meios de comunicação, contra a natalidade. Orquestrava o medo da superpopulação, num clima de explosão demográfica”, diz o texto.

O arcebispo recorda o ‘apreciável valor’ dos filhos no tempo da ‘família patriarcal’, quando normalmente ajudavam a produzir riqueza para a família. A chegada das leis que proíbem o trabalho dos menores teria sido, segundo dom Dadeus, o motivo do desinteresse em gerar filhos. “Era mais fácil renunciar ao prazer de gerar uma vida que arcar com a responsabilidade de uma nova vida”

No entanto, a crise consiste principalmente, ainda de acordo com o arcebispo, na concepção acerca da própria vida. “A sociedade valoriza mais a mulher pelo ganho financeiro que pela maternidade”, afirma, ao colocar que a sociedade de hoje pretende cada vez mais equiparar a mulher com o homem.

Para dom Dadeus, no momento em que é depreciada a maternidade, se deprecia também a humanidade como um todo e ‘a própria vida humana cai em descrédito’, provocando uma ‘crise da própria vida’.

Confira o texto na íntegra:

A crise da maternidade

A crise mais desumana aconteceu no plano da maternidade. Houve, nos últimos anos, uma redução drástica de nascimentos. Contradizem todas as previsões de meio século atrás. As razões são múltiplas. Houve, sem dúvida, uma campanha sistemática, apoiada por governos e pelos meios de comunicação, contra a natalidade. Orquestrava o medo da superpopulação, num clima de explosão demográfica.

No tempo da família patriarcal o filho era também fator econômico de apreciável valor. Todos ajudavam, desde os mais tenros anos, na economia do lar. Vieram, logo mais, leis, cada vez mais drásticas, proibindo determinantemente o trabalho dos menores. Ter filho não era mais vantagem nem econômica, nem social. Era mais fácil renunciar ao prazer de gerar uma vida – ainda mais que os anticoncepcionais possibilitavam o uso do sexo sem o risco de gravidez – que arcar com a responsabilidade de uma nova vida. A sociedade em peso contribuía para esta mudança de mentalidade.

Até aqui a problemática se distribuía eqüitativamente entre homem e mulher. Com o surgimento da questão do gênero e a preponderância da subjetividade nas decisões, a mulher começou a se precaver mais. Reivindicou o direito de decidir, tanto para o início da fecundação como para a responsabilidade de levar a termo uma gestação. Considera direito exclusivo seu optar pela geração de filhos. Conseqüentemente a natalidade cai drasticamente.

Mas o que revela mais profundamente a crise da maternidade é a concepção acerca da própria vida. Desceu a um nível extremamente baixo. Na alternativa entre produção, com o conseqüente ganho técnico, e a geração, com a exigência da educação de filhos, prevaleceu a primeira. A sociedade valoriza mais a mulher pelo ganho financeiro que pela maternidade. Quer-se equiparar ao homem. A sociedade, como um todo, virou uni-sex. Vale apenas o produto técnico e intelectual. A mulher é arrancada do lar para correr, em pé de igualdade, com os homens: ter iguais salários e iguais competências. Não quer mais ser considerada mulher, mas simplesmente deseja ser vista como humana. Sem distinção nem especificação.

É claro que, ao se colocar, nesta dimensão, a realização do ser humano, desapareça a maternidade. É vista como uma excrescência, quando não como empecilho para a verdadeira promoção humana, entendida como eliminação do feminino. Quer-se igualdade com os homens, o que equivale a dizer que se pretende fazer tabula rasa da feminilidade e da maternidade. O pivô da crise da maternidade está exatamente na desvalorização de uma função humana, que sempre se considerou a mais profunda e mais dignificante. A Igreja, ao apresentar Maria como Mãe de Deus, quer exaltá-la ao máximo grau da dignidade humana. E ao acolher a maternidade de cada mulher, com sua profunda ligação à educação dos filhos, através do amor materno, considerado insubstituível, quer colocar a mulher no mais alto pedestal da realização humana. Ali estará sua mais profunda auto-estima.

No momento em que se deprecia a maternidade, a humanidade, como um todo, entra em crise. A própria vida humana cai em descrédito. A crise da maternidade é o sintoma mais claro e palpável da crise da humanidade e da crise da própria vida, que se abateu sobre o gênero humano nesta mudança de época.

Dom Dadeus Grings – arcebispo de Porto Alegre

 

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