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“As chagas de Jesus são chagas de misericórdia”: Papa na homilia do II Domingo da Páscoa

Cidade do Vaticano (Segunda-feira, 13-04-2015, Gaudium Press) – Na homilia da Missa do II Domingo de Páscoa, o Papa Francisco tratou da misericórdia divina. Este domingo foi instituído por João Paulo II como sendo o “Domingo da Misericórdia”. E o Papa afirmou em seu sermão: “As chagas de Jesus são chagas de misericórdia”.

O Santo Padre tratou do trecho do Evangelho do dia, quando Jesus aparece aos seus discípulos mostrando as suas chagas, para que acreditassem não tratar-se de uma visão: “Hoje – disse o Papa – o Senhor mostra também a nós, através do Evangelho, as suas chagas. São chagas de misericórdia. É verdade! As chagas de Jesus são chagas de misericórdia”. “Jesus convida-nos a contemplar estas chagas, convida-nos a tocá-las – como fez com Tomé – a fim de curar a nossa incredulidade. Convida-nos sobretudo a entrar no mistério destas chagas, que é o mistério do seu amor misericordioso”.

Francisco comentou que através dessas chagas, “como por uma brecha luminosa, podemos ver todo o mistério de Cristo e de Deus: a sua Paixão, a sua vida terrena – cheia de compaixão pelos pequeninos e os doentes – a sua encarnação no ventre de Maria. E podemos remontar a toda a história da salvação: as profecias – especialmente as do Servo de Yahweh -, os Salmos, a Lei e a aliança, até à libertação do Egito, à primeira Páscoa e ao sangue dos cordeiros imolados; e remontar ainda aos Patriarcas até Abraão e, mais além na noite dos tempos, até a Abel e ao seu sangue que clama da terra. Tudo isto podemos”.

Só Deus preenche os vazios que o Mal abre em nossos corações

O Papa observou que é “Jesus, feito homem e morto na cruz, que preenche o abismo do pecado com o abismo da sua misericórdia”.

Muitas vezes, diante dos acontecimentos trágicos da história humana, perguntamo-nos: “Porquê?”: “A maldade humana pode abrir no mundo como que fossos, grandes vazios: vazios de amor, vazios de bondade, vazios de vida. E surge-nos então a pergunta: Como podemos preencher estes fossos?

A nós, é impossível; só Deus pode preencher estes vazios que o mal abre nos nossos corações e na nossa história. É Jesus, feito homem e morto na cruz, que preenche o abismo do pecado com o abismo da sua misericórdia”.

“Jesus Crucificado e Ressuscitado, e de modo particular “as suas chagas cheias de misericórdia” são “o caminho que Deus nos abriu para sairmos da escravidão do mal e da morte e entrarmos na terra da vida e da paz”, disse o Papa, prosseguindo: “Os Santos ensinam-nos que se muda o mundo a partir da conversão do próprio coração”: “E isto acontece graças à misericórdia de Deus. Por isso, quer perante os meus pecados, quer diante das grandes tragédias do mundo, «a consciência sentir-se-á turvada, mas não será abalada, porque me lembrarei das feridas do Senhor”.

Tendo o olhar posto nas chagas de Jesus Ressuscitado e com as expressões “O seu amor duro para sempre” e “a sua misericórdia é eterna”, o Papa Francisco convidou para que que caminhemos pelas estradas da história, “com a mão na mão de nosso Senhor e Salvador, nossa vida e nossa esperança”. (JSG)

Aqui transcrevemos a homilia do Papa Francisco neste Domingo da Misericórdia:

HOMILIA DO PAPA FRANCISCO

São João, presente no Cenáculo com os outros discípulos ao anoitecer do primeiro dia da semana, refere que Jesus veio, pôs-Se no meio deles e disse: «A paz esteja convosco!». E «mostrou-lhes as mãos e o peito» (20, 19-20), mostrou-lhes as suas chagas. Reconheceram, assim, que não se tratava duma visão, mas era mesmo Ele, o Senhor, e encheram-se de alegria.

Oito dias depois, Jesus veio de novo ao Cenáculo e mostrou as chagas a Tomé a fim de que as tocasse como ele pretendia para poder acreditar e tornar-se, também ele, uma testemunha da Ressurreição.

Hoje, neste Domingo que São João Paulo II quis intitular à Misericórdia Divina, o Senhor mostra-nos também a nós, através do Evangelho, as suas chagas. São chagas de misericórdia. É verdade! As chagas de Jesus são chagas de misericórdia. «Fomos curados pelas suas chagas» (Is 53, 5).

Jesus convida-nos a contemplar estas chagas, convida-nos a tocá-las – como fez com Tomé – a fim de curar a nossa incredulidade. Convida-nos sobretudo a entrar no mistério destas chagas, que é o mistério do seu amor misericordioso.

Através delas, como por uma brecha luminosa, podemos ver todo o mistério de Cristo e de Deus: a sua Paixão, a sua vida terrena – cheia de compaixão pelos pequeninos e os doentes – a sua encarnação no ventre de Maria. E podemos remontar a toda a história da salvação: as profecias – especialmente as do Servo de Yahweh -, os Salmos, a Lei e a aliança, até à libertação do Egipto, à primeira Páscoa e ao sangue dos cordeiros imolados; e remontar ainda aos Patriarcas até Abraão e, mais além na noite dos tempos, até a Abel e ao seu sangue que clama da terra. Tudo isto podemos ver através das chagas de Jesus Crucificado e Ressuscitado e, como Maria no Magnificat, podemos reconhecer que «a sua misericórdia se estende de geração em geração» (Lc1, 50).

Às vezes, perante os acontecimentos trágicos da história humana, ficamos como que esmagados e perguntamo-nos: «Porquê?». A maldade humana pode abrir no mundo como que fossos, grandes vazios: vazios de amor, vazios de bondade, vazios de vida. E surge-nos então a pergunta: Como podemos preencher estes fossos? A nós, é impossível; só Deus pode preencher estes vazios que o mal abre nos nossos corações e na nossa história. É Jesus, feito homem e morto na cruz, que preenche o abismo do pecado com o abismo da sua misericórdia.

Num dos seus comentários ao Cântico dos Cânticos (Disc. 61, 3-5: Opera omnia 2, 150-151), São Bernardo detém-se precisamente sobre o mistério das chagas do Senhor, usando expressões fortes, corajosas, que nos faz bem retomar hoje. Diz ele que, «através das feridas do corpo, manifesta-se a recôndita caridade do coração [de Cristo], torna-se evidente o grande mistério do amor, mostram-se as entranhas de misericórdia do nosso Deus».

Temos aqui, irmãos e irmãs, o caminho que Deus nos abriu, para sairmos, finalmente, da escravidão do mal e da morte e entrarmos na terra da vida e da paz. Este Caminho é Ele – Jesus, Crucificado e Ressuscitado – e são-no, de modo particular, as suas chagas cheias de misericórdia.

Os Santos ensinam-nos que se muda o mundo a partir da conversão do próprio coração, e isto acontece graças à misericórdia de Deus. Por isso, quer perante os meus pecados, quer diante das grandes tragédias do mundo, «a consciência sentir-se-á turvada, mas não será abalada, porque me lembrarei das feridas do Senhor. De facto, “foi trespassado por causa dos nossos crimes” (Is53, 5). Que haverá de tão mortal que não possa ser dissolvido pela morte de Cristo? » (ibid.).

Com o olhar voltado para as chagas de Jesus Ressuscitado, podemos cantar com a Igreja: «O seu amor dura para sempre» (Sal117, 2); a sua misericórdia é eterna. E, com estas palavras gravadas no coração, caminhemos pelas estradas da história, com a mão na mão de nosso Senhor e Salvador, nossa vida e nossa esperança.

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