"Tornar-se pessoa pacífica requer trabalho pessoal intenso", diz o Arcebispo de Porto Alegre
Porto Alegre – Rio Grande do Sul (Quinta-Feira, 22/01/2015, Gaudium Press) Dom Jaime Spengler, Arcebispo de Porto Alegre, no Rio Grande do Sul, recentemente escreveu um artigo sobre a “Paz”. Ele afirma que no início do ano desejávamos paz às pessoas que encontramos e o gesto pode, talvez, estar marcado por formalidade; mas ele certamente é repercussão de um desejo profundo que o ser humano não consegue saciar enquanto houver excluídos, marginalizados e ignorados.
Segundo o Prelado, desejamos e queremos paz, porém sentimos medo, que é expressão de desconfiança, da falta de relações humanas sadias e equilibradas, da dificuldade de amar sem reservas e se sentir amado. Por outro lado, Dom Spengler salienta que o espírito do cuidado se faz presente, existe cuidado recíproco, se promove o bem comum e se desenvolve o zelo no tocante às necessidades vitais dos indivíduos, tais como saúde, moradia, educação, desaparecem as causas do medo.
Além disso, o Arcebispo ressalta que a paz é possível para pessoas de boa vontade; é possível se as instituições da sociedade demonstrarem autêntico engajamento na promoção e cuidado do bem público, pois assim torna-se viável construir e consolidar corresponsavelmente a obra da paz. “Para isso, precisamos, talvez, reaprender a assumir o que somos: humanos. Somos humanos, dotados de racionalidade e capacidade de decisão; participamos radicalmente de uma mesma condição, e isto nos recorda a necessidade de fomentar e impulsionar o espírito de corresponsabilidade”, completa ele.
Outra coisa mencionada por Dom Spengler é que nestes tempos conturbados o povo anseia por paz, e isso pode se tornar realidade se, individual e socialmente, formos capazes de “fazer” paz e de “ser” paz; ou seja, nos responsabilizarmos pela causa da paz. Para ele, somos pacíficos ou não, ou mais ou menos pacíficos, a partir da compreensão de paz e do ser pacífico que damos a nós mesmos.
“Pode-se certamente perguntar o que seja a paz e o que significa ser pacífico. No entanto, a questão, assim como se apresenta, só pode ser compreendida a partir de uma contrapergunta provocativa: quanto é que você dá à causa da paz? O que e quanto você faz por ela? Dê você a medida daquilo que é a paz e o ser pacífico, pois o que isso for depende da medida do próprio coração”, avalia.
O Prelado ainda fazer os seguintes questionamentos: Será que a medida do coração não se alargaria, se sondássemos e acolhêssemos um novo sentido para a paz e o ser pacífico proveniente da vida, da realidade que está além da medida que damos a nós mesmos? Será que, com a ampliação do nosso coração, não começaríamos a ver a realidade diferente? Não estaria sendo necessário investir vigorosamente no cultivo do coração, da intimidade do ser humano, a fim de a própria pessoa, a partir do seu desenvolvimento humano e espiritual, se tornar uma pessoa pacificada?
Ele explica que sem estar impregnada de paz, sem “estar pacificado”, o indivíduo não é capaz de irradiar paz, respeito, bem-querer, pois atingir o equilíbrio interior, alcançar a tão desejada paz, tornar-se pessoa pacífica, pacificada e pacificadora requer trabalho pessoal intenso. “Trabalho esse que tem seu ponto de partida no seio da instituição familiar, aprofundado e promovido no seio das intuições de ensino, e pode obter auxílio precioso da fé professada”, afirma.
Por fim, Dom Spengler enfatiza que a paz pressupõe o convívio social, a disposição para o encontro com o outro, que é, no fundo, o encontro comigo mesmo, porque a experiência da vida social em paz pressupõe a busca do sentido originário do que seja o outro e eu mesmo. “Assim, quando falamos em acolher o outro, não estaríamos esquecendo que somente podemos acolher o outro na medida em que acolhemos a nós mesmos? Amar o próximo como a si mesmo… Eis o fundamento da verdadeira paz e do ser pacífico”, conclui. (FB)
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