A raiz de todos os males (2)
Redação – (Segunda-feira, 12-01-2015, Gaudium Press) – A Irmã Ariane da Silva Santos, EP, encerrava seu artigo anterior (08-01-2015) com uma reflexão e uma pergunta:
Arrastando consigo a terça parte dos anjos, Lúcifer foi precipitado no inferno, tornando-se o príncipe das trevas. “Como caístes, ó astro resplandecente, que na aurora brilhavas? A tua soberba foi abatida até os infernos” (Is 14, 11-12). Eis o castigo do orgulho!
São Miguel Arcanjo, por sua vez, foi elevado à mais alta hierarquia celeste, tornando-se o condestável dos exércitos angélicos, o baluarte da Santíssima Trindade. Eis o prêmio da humildade!
Com os homens, dá-se o mesmo?
Hoje publicamos a resposta e novas considerações sobre “a raiz de todos os males”:
Anteriormente foi analisada a figura de Lúcifer e seus sequazes que por um ato de insubmissão foram expulsos do Céu, agora consideraremos o homem.
“Sereis como deuses…”
Deus criou Adão em estado de justiça original e o introduziu no Paraíso. Enquanto permaneceu inocente, o homem viveu feliz naquele lugar de delícias, em companhia de Eva, tendo, entretanto, de obedecer à ordem que o Senhor lhes havia dado: “Não comas do fruto da árvore da ciência do bem e do mal; porque no dia em que dele comeres, morrerás indubitavelmente” (Gn 2, 17).
Se nossos primeiros pais tivessem sido fiéis a este preceito, Deus os confirmaria na graça e todos os seus descendentes nasceriam também em estado de justiça. Depois de concluir o curso de sua existência no Paraíso, entrariam na felicidade perfeita, na bem-aventurança eterna. Ademais, tinham eles outras prerrogativas:
Não havia para o homem a possibilidade de morte, nem de enfermidade. Devido à sujeição das forças inferiores à razão, reinava nele uma completa tranquilidade de espírito, porque a razão humana não era perturbada por nenhuma paixão desordenada. Pelo fato de sua vontade estar submissa a Deus, ele dirigia tudo para Deus, como seu fim último, e nisso consistiam sua justiça e sua inocência. 1
Contudo, Eva deixou-se enganar pelas palavras da serpente: “Oh, não! Vós não morrereis! Mas Deus bem sabe que, no dia em que dele comerdes, vossos olhos se abrirão, e sereis como deuses, conhecedores do bem e do mal!” (Gn 3, 4-5). Como a soberba já ofuscava o espírito de Eva, ela tomou o fruto, comeu-o e ofereceu-o ao seu marido, que também o comeu. “A sedução da mulher, embora precedesse o pecado de ação, foi, entretanto, subsequente a um pecado de orgulho interior”,2 ensina São Tomás de Aquino. E nesse mesmo sentido, afirma Santo Agostinho: “Não se deve imaginar que o tentador teria conseguido vencer o homem se no espírito dele não tivesse surgido antes um sentimento de orgulho, o qual ele deveria reprimir”.3
Ainda a respeito do pecado original, o Aquinate explica:
A primeira desordem do apetite humano consistiu em desejar, de forma desordenada, algum bem espiritual. Mas não o teria desejado desordenadamente se o tivesse feito na medida estabelecida pela lei divina. Logo, o primeiro pecado foi o desejo de um bem espiritual, fora da medida conveniente. E isso é próprio da soberba. Por conseguinte, o primeiro pecado do primeiro homem foi manifestadamente a soberba. 4
“A soberba precede à ruína; e o orgulho, à queda” (Pr 16, 18), ressalta o livro dos Provérbios. E foi o que sucedeu ao homem: perdeu todos os dons da graça que de Deus havia recebido, e foi expulso do Paraíso para este vale de lágrimas.
Podemos, assim, constatar uma estreita semelhança entre o pecado dos anjos e o dos homens:
Bem se pode afirmar que o pecado de nossos primeiros pais foi diabólico, pois, na sua essência, foi idêntico ao dos anjos maus. E isso pode ser dito também do vício de orgulho pelo qual somos levados a amar-nos mais a nós mesmos do que a Deus.5
Como castigo, toda a humanidade nasce com a mancha original e sofre suas mazelas, tendo de comer o pão com o suor de seu rosto (cf. Gn 3, 19).
Foi desse modo que o homem iniciou sua luta sobre a terra, tendo de enfrentar não só as adversidades da vida, mas, sobretudo, os vícios da alma. Nesta batalha, os verdadeiros heróis são aqueles que vencem seu próprio orgulho. Ao longo da História, muitos saem vitoriosos, pois sabem confiar em Deus mais do que em si mesmos. Muitos outros, entretanto, são derrotados e, em consequência, sofrem terríveis desastres.
Por Irmã Ariane da Silva Santos, EP,
(Do Instituto Filosófico-Teológico Santa Escolástica)
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1 SÃO TOMÁS DE AQUINO. Compendium theologiae. L.I, C. 186.
2 Id. Suma Teológica. I, q. 94, a. 4, ad 1.
3 SANTO AGOSTINHO. De Genesi ad litteram. L. XI, c. 5; ML 34, 432.
4 SÃO TOMÁS DE AQUINO. Suma Teológica, II-II, q. 163, a. 1.
5 SOLERA LACAYO, Rodrigo Alonso. Foram Adão e Eva enganados pela serpente? In: Arautos do Evangelho. São Paulo. n. 131, Nov. 2012, p. 22.
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