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"A vocação na Igreja exige coragem", afirma o Bispo de Campo Mourão

Campo Mourão – Paraná (Sexta-Feira, 01/08/2014, Gaudium Press) Dom Francisco Javier Delvalle Paredes, Bispo da Diocese de Campo Mourão, no Estado do Paraná, escreveu um artigo para este mês de agosto, tradicionalmente dedicado à reflexão sobre as vocações, partilhando algumas ideias importantes sobre tema de tão grande significado para nossa fé.

O Prelado se restringe à vocação sacerdotal e religiosa. Ele afirma que, primeiramente, em se tratando de vocação devemos ter em conta o significado divino que a reveste. Com efeito, Dom Paredes salienta que, antes de tudo, a vocação ao serviço de Deus na Igreja mediante a consagração é moção de Deus em nós. De fato, o Bispo explica que a origem da vocação de toda pessoa encontra-se no projeto salvífico-libertador de Deus que escolhe homens e mulheres, elegendo-os instrumentos seus destinados a fazer crescer o Mistério do Reino no mundo.

“Sendo assim, a vocação enquanto serviço a Deus e ao mundo prescinde de todo tipo de orgulho, presunção e auto-suficiência. Ninguém dá a vocação a si mesmo. Ao contrário, é dom gratuitamente oferecido pelo Senhor da Messe”, acrescenta.

Para Dom Parades, o segundo aspecto a destacar consiste na finalidade altruísta da vocação, pois quem abraça o ministério sacerdotal ou a vida consagrada não pode fazê-lo impulsionado pelo egoísmo, ambicionando pura auto-realização. Ele destaca que, essencialmente, a vocação em sua vertente religiosa depende do outro para se realizar. Em última análise, o Prelado afirma que essa alteridade para a qual está orientada a vocação na Igreja tem seu fundamento na mística do Jesus Redentor.

“No Mistério Pascal, Jesus Cristo personifica o dever oblativo da vida consagrada. Sua missão redentora é destinada à humanidade necessitada do regresso à vida de comunhão com o Criador. Pois bem, nosso Mestre e Senhor não fez de sua condição divina uma usurpação, mas se despojou, assumindo a forma de escravo, condescendendo conosco, a fim de nos salvar.”

Ele ainda enfatiza que o vocacionado ao serviço de Deus na Igreja há de formar em si esta perspectiva: o nosso “eu” pessoal precisa encontrar realização e regozijo na capacidade de abrir-se às necessidades do gênero humano tão fragilizado e sedento por sentido.

Outra questão analisada pelo Bispo é que a natureza oblativa da vocação é um dado intransponível, mas ela deve ser eco de outra atitude sem a qual não há perseverança e autenticidade. Segundo ele, trata-se do terceiro aspecto que deseja ressaltar: a vida interior. O Prelado recorda que os grandes personagens bíblicos, os padres da Igreja, místicos cristãos e as figuras responsáveis pelas maiores e mais admiráveis transformações positivas na história do Cristianismo sempre foram pessoas de oração, que pressupõe capacidade de escuta, sensibilidade e docilidade à vontade de Deus.

“Portanto, toda reflexão séria sobre o tema vocacional urge considerar o valor desta capacidade humana. Digo capacidade humana porque Deus, em seu amor infinito, suscita em nosso ser pessoal o desejo pelas realidades mais sublimes e elevadas que só se encontram n’Ele, fonte e origem de tudo. Deste modo, a oração, enquanto vida de comunhão com Deus, emerge como termômetro da verdadeira vocação, pois nela transcende a vontade humana de forma a lhe ser possível conhecer e abraçar o real propósito divino”, avalia.

De acordo com Dom Parades, em quarto lugar, não menos importante que os evocados até aqui, está o papel do autoconhecimento. Conforme o Bispo, este é quesito-chave de todo processo de discernimento vocacional, pois quem não conhece a si mesmo terá sérias dificuldades para ouvir, discernir e aceitar a vontade de Deus. Ele também destaca que se sentir vocacionado passa pelo processo de maturidade humana, afetiva e espiritual situado à base de toda conversão e tal processo configura o itinerário percorrido pelos que, antes de nós, se fizeram porta-vozes de Cristo em virtude do seu irresistível convite: “vem e segue-me”.

“Tomemos por exemplo o apóstolo Paulo. Na Carta aos Gálatas, ele fala dos três anos passados na Arábia após a conversão, antes de iniciar as viagens missionárias. Esse período sinaliza o tempo necessário a fim de que o vocacionado conheça a si mesmo no intuito de dar razão e fazer valer a missão abraçada. Após a experiência com o Senhor Ressuscitado no caminho de Damasco, Paulo viu sua vida e história de modo novo, se deu conta da missão confiada pelo Senhor. Todavia, precisou de tempo para descobrir o sentido da novidade segundo a ótica de Deus. Não se apressou, mas obedeceu ao ritmo quisto pelo próprio Deus”, completa.

Para Dom Paredes, falando sobre o tema da vocação precisamos considerar ainda o movimento de renovação lançado sobre a Igreja pelo Concílio Vaticano II. Ele salienta que a eclesiologia de comunhão reproposta pela Lumen Gentium e subjacente a todos os demais documentos conciliares, diz muito para nosso tema. Segundo o Bispo, em uma Igreja compreendida e aceita como mistério de comunhão não há lugar para modelos ministeriais que firam ou desconsiderem esse caráter basilar e essencial da própria Igreja.

Por fim, o Prelado avalia que à luz do Concílio Vaticano II precisamos dar agilidade ao movimento de volta às fontes do cristianismo. Ele acredita que se faz indelegável revisitar o passado como refontização e não como refúgio, pois, nesse sentido, o vocacionado há de prestar atenção ao marco histórico atual, situando-se nele com segurança, criticidade, capacidade dialógica e interativa.

“A Igreja é viva, dinâmica e serva da humanidade a exemplo do seu Senhor. Por isso, a vocação na Igreja exige coragem, sã ousadia, visão prospectiva da história e capacidade reflexiva alargada. Rezemos durante o mês de agosto para que o Senhor da Messe e Pastor do rebanho toque o coração de numerosos jovens, despertando-os e impelindo-os ao serviço ministerial na Igreja”, conclui. (FB)

 

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