Gaudium news > "O migrante é pessoa humana", afirma o Arcebispo de Porto Alegre

"O migrante é pessoa humana", afirma o Arcebispo de Porto Alegre

Porto Alegre – Rio Grande do Sul (Quarta-Feira, 30/07/2014, Gaudium Press) Nas últimas semanas, o Rio Grande do Sul tem sido escolhido por centenas de migrantes haitianos, peruanos, senegaleses, ganeses, entre outros, que chegam ao Estado para tentar uma nova vida. É sobre esse assunto que o Arcebispo de Porto Alegre, Dom Jaime Spengler, fala em seu mais recente artigo, intitulado “Migrantes”.

Segundo o Prelado, trata-se de uma realidade difícil e desafiadora: difícil, pois estas pessoas, às vezes marcadas pelo sonho de uma vida economicamente melhor para si e para os seus, outras vezes por razões de perseguição política, deixam suas famílias, sua realidade local, partem sem nada, trazendo consigo somente esperanças; desafiadora, pois não sabem o que encontrarão, e se encontrarão humana acolhida.

“Tal busca orientou também a tantos de nossos antepassados: pessoas provenientes em sua grande maioria do continente europeu, que viam na América a possibilidade de concretização de um mundo melhor, de uma vida melhor. Tratou-se e se trata do fenômeno da mobilidade humana, do fenômeno migratório, sempre presente na história da humanidade”, ressalta.

O Arcebispo explica que em um passado não muito distante, tantos gaúchos partiram em direção ao Oeste de Santa Catarina, ao Paraná, Mato Grosso, Goiás, em busca de terras, onde pudessem desenvolver a atividade agrícola, construir novas possibilidades de vida, realidade que contribuiu para o desenvolvimento do Brasil. Para ele, ousadia, coragem, determinação marcaram e marcam a vida tanto destes como daqueles, mas não se pode esquecer que ambas as realidades foram também marcadas por rejeições, discriminações, explorações de todo tipo, dores e mortes.

Além disso, Dom Jaime destaca que apesar das dificuldades e dos riscos que sempre precisam ser considerados, a confiança e a esperança estão na base das migrações. Conforme ele, o desejo de vida digna para si e para o seus dá coragem e forças para partir em busca do novo.

Um novo que significa “ser liberto da miséria, encontrar com mais segurança a subsistência, a saúde, um emprego estável; ter maior participação nas responsabilidades, excluindo qualquer opressão e situação que ofendam a sua dignidade de homens; ter maior instrução; em uma palavra, realizar, conhecer e possuir mais, para ser mais…” (Paulo VI. Populorum Progressio, n. 6). “Isto porque o coração humano quer não simplesmente conhecer e ter mais, mas anseia, sobretudo, ser mais” (Papa Francisco).

Outra questão abordada pelo Prelado é que o fenômeno da globalização está produzindo uma sempre maior interdependência e interação entre as nações, entre os povos, entre as pessoas. Ele afirma que ao mesmo tempo corre-se o risco de favorecer uma cultura do descartável, que chega a considerar pessoas como “resíduos” e “sobras”, em detrimento de uma cultura do encontro, da acolhida, da misericórdia.

‘Em se falando do fenômeno migratório que estamos presenciando, causa estranheza observações genéricas de caráter, por vezes, preconceituosas e discriminatórias. Há quem afirme que os migrantes que estão chegando até nós sejam delinquentes… Este tipo de observação célere é, certamente, expressão de falta de compreensão da questão. Generalizar é ir muito além do razoável”, avalia.

Por fim, Dom Jaime salienta que na cidade de Porto Alegre há pessoas e entidades que há anos se dedicam ao atendimento dos migrantes, refugiados, apátridas, vítimas do tráfico de pessoas, estudantes e trabalhadores itinerantes. De acordo com ele, um trabalho meritório e nem sempre conhecido e reconhecido, marcado pela acolhida e apoio humano, alimentação, vestuário e encaminhamentos legais: Expressões de respeito humano e caridade cristã.

“O migrante é pessoa humana! Como diz o Papa Francisco, acolhe-lo pode ser visto como uma oportunidade que a providência nos oferece para contribuir na construção e uma sociedade mais justa, de uma democracia mais completa, de um país mais inclusivo, de um mundo mais fraterno e de uma comunidade cristã mais aberta, de acordo com o Evangelho”, conclui. (FB)

Deixe seu comentário

Notícias Relacionadas