Gaudium news > ENTREVISTA – “O que fazemos, o fazemos orientados e iluminados pela experiência da fé”, disse o arcebispo de Porto Alegre

ENTREVISTA – “O que fazemos, o fazemos orientados e iluminados pela experiência da fé”, disse o arcebispo de Porto Alegre

Porto Alegre – Rio Grande do Sul (Quarta-Feira, 09/04/2014, Gaudium Press) No último dia 29 de março saiu no boletim de imprensa da Santa Sé a nomeação do arcebispo metropolitano de Porto Alegre, Dom Jaime Spengler, como um dos novos membros da Congregação para os Institutos de Vida Consagrada e as Sociedades de Vida Apostólica.

Dom Jaime, que é o sétimo arcebispo metropolitano de Porto Alegre, tem sua origem vocacional na Ordem dos Frades Menores, OFM. No Brasil, o prelado é membro da Comissão Episcopal Pastoral para os Ministérios Ordenados e a Vida Consagrada da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil. Em entrevista exclusiva para a Gaudium Press, o arcebispo falou da surpresa em ser nomeado e de suas expectativas em relação ao novo cargo.

Gaudium Press – O Brasil não imaginava ver mais um brasileiro como membro da Congregação para os Institutos de Vida Consagrada e as Sociedades de Vida Apostólica. Para o senhor, Dom Jaime Spengler, há pouco tempo como Arcebispo Metropolitano de Porto Alegre e já membro da Comissão para os Ministérios Ordenados e a Vida Consagrada da CNBB, como foi receber esta nomeação?

Dom Jaime – Recebi a comunicação de nomeação para membro da Congregação para os Institutos de Vida Consagrada e as Sociedades de Vida Apostólica com absoluta surpresa. Certamente tal nomeação é expressão de confiança do Santo Padre! Espero poder colaborar da melhor forma possível na Igreja em prol da Vida Consagrada e da Vida Apostólica.

GP – Ser nomeado, ou melhor seria dizer “receber um novo encargo”, estar ainda mais “a serviço da Igreja”. Como será conciliar tudo isso somado a outras obrigações?

Dom Jaime – Quando nos dispomos ao exercício de determinados ministérios no seio da comunidade de fé, ‘deixamos’ de nos pertencer! Trata-se de um serviço acolhido com amor e disposição. Quanto às demais obrigações que já temos, seja no seio da Arquidiocese, no seio do Regional Sul 3 da CNBB, da Comissão Episcopal para os Ministérios Ordenados e a Vida Consagrada, trata-se de aprender a conciliar as solicitações e buscar corresponder da melhor forma possível. O que fazemos, o fazemos orientados e iluminados pela experiência da fé; e segundo a fé, Deus mesmo, na força de seu Espírito, haverá de nos inspirar e orientar!

GP – Qual a relação que o senhor faz entre um consagrado e o seu testemunho de vida diante dos fiéis?

Dom Jaime – Todos nós, pelo batismo, fomos consagrados. Como consagrados, somos exortados a dar razões de nossa fé e de nossa esperança. Isto se expressa de muitos modos na vida cotidiana. É uma exigência que faz parte da vida do Bispo, do presbítero, do diácono, dos religiosos/as, dos consagrados/as, de todos os fiéis. Nós não somos simplesmente adeptos de uma Igreja; somos antes de tudo, seguidores de Jesus Cristo – o homem que passou por entre nós fazendo o bem, e que fazia bem todas as coisas. E como tal somos exortados a agir.

GP – O número de vocacionados (diminuição ou aumento) tem algo a ver com a autenticidade daqueles que abraçaram a vida consagrada?

Dom Jaime – Certamente a questão do número de vocações preocupa a muitos. Sentimos que algumas famílias religiosas começam a se ressentir diante desta realidade. Acompanhamos algumas decisões de religiosos/as, no sentido de unir Províncias, remanejar as formas de presença, fechar casas. É uma realidade que faz pensar e convida à reflexão e autocrítica. Podemos certamente encontrar muitas possíveis explicações para tal constatação. Não podemos, porém, esquecer que vocação é antes de tudo graça! É o Senhor quem chama! É o Senhor quem inspira! Mas também não podemos descuidar do necessário testemunho de vida. Será que nossos olhos expressam alegria por aquilo que somos? Manifestamos prazer naquilo que fazemos? O jovem é muito sensível ao fator testemunho! Será que os jovens que nos veem, que nos veem como vivemos e convivemos, como cuidamos uns dos outros e nos deixamos cuidar uns pelos outros, sentem curiosidade, desejo, vontade de conhecer nossa forma de vida? Se sentem atraídos pelas nossas famílias religiosas? Hoje falamos de refundação de Vida Consagrada. Em que consiste? Não basta seguramente voltar o olhar para trás, não! Se trata de em olhando nossas origens, buscar captar indicações de como viver o carisma originário no hoje de nossa história.

GP – Como o senhor vê os novos movimentos de leigos que surgem atualmente e que têm crescido e difundido seus carismas?

Dom Jaime – Trata-se de sinais de um novo Pentecostes. O Espírito do Senhor continua inspirando e suscitando novos carismas, nas inspirações. Creio que junto a este movimento podemos ler um desejo de vida de comunhão, sede de espiritualidade. Cabe à Igreja acompanhar e avaliar tais inspirações. É necessário também que tais movimentos sejam provados na fidelidade.

GP – Ainda nos dias de hoje, existe alguma relação entre vocação religiosa ou de vida consagrada com a família? Qual é esta relação?

Dom Jaime – Existem coisas que se aprende “de berço”. O que aprendemos no colo de nossos pais, no ambiente familiar, isto permanece. É verdade que existem também outras experiências religiosas que vão nos marcando e nos auxiliando em nosso caminho existencial. No entanto, não se pode negar a influência positiva e sempre necessária do ambiente familiar.

GP – Uma pergunta de ordem mais pessoal: o senhor já havia imaginado estar mais a serviço da Igreja sendo nomeado para este alto e importante cargo? Como foi saber desta indicação, qual sua reação primeira?

Dom Jaime – Quando vi no telefone as mensagens que estavam chegando, pensei que fosse brincadeira! Quando vi no site da Santa Sé a nomeação, percebi que não era brincadeira! Assim, se conseguir e puder colaborar para que a vida da Igreja se torne mais dinâmica, ainda mais viva e vigorosa terei motivos para render graças a Deus. Somos servos inúteis! Estamos a serviço do Reino! Creio que isto é o fundamental. Quando temos isto presente, tudo o mais será graça.

Para Fernanda Baldini / João Sérgio Guimarães

Deixe seu comentário

Notícias Relacionadas