“A única realidade que não está ligada nem ao espaço nem ao tempo é Deus”, diz arcebispo de Porto Alegre
Porto Alegre (Terça-Feira, 05/03/2013, Gaudium Press) Com o tema “Nossa inculturação”, dom Dadeus Grings, arcebispo de Porto Alegre, no Rio Grande do Sul, falou em artigo que a vida não é homogênea, pois há sintomas que indicam profundas mudanças – não só no físico e orgânico, mas também no psíquico e espiritual. Porém, ele afirma que, no fundo, é sempre o mesmo, porque há algo que perpassa os tempos e lhe dá identidade: não só o nome e o registro, mas a vida em evolução, numa diversidade fantástica.
Segundo dom Dadeus, a vida humana, por se situar nas coordenadas do espaço e do tempo, não se consegue viver toda de vez, e então se vive em prestações. Não, porém, matematicamente, ressalta ele, pois há qualidades a serem saboreadas a cada momento específico e em cada lugar. O arcebispo ainda partilha que espaço e tempo condicionam a sua vida. Ele destaca que já teve oportunidade de viajar e, inclusive, passou 14 anos em Roma, o que o permite afirmar que a Itália é sua segunda pátria.
“Visitei diversos países e diversos estados do Brasil. Em cada lugar vivi algo específico. Convivi com gente diferente, o que me proporcionou não só muita alegria como também realização específica. A IV Conferência episcopal latino americana de Santo Domingo, da qual tive oportunidade de participar, falou de inculturação. Significa inserir-se concretamente na cultura que nos cerca e na qual imergimos. Somos mais filhos da cultura que da natureza, ou seja, nossa identidade depende menos do DNA do que da assimilação dos valores do ambiente”, salienta.
O prelado ainda segue dizendo que se entende que ele não seja apenas ele. “Sou eu e os outros. Ser real e, por isso, estar atualizado, se afigura como estar em sintonia com os outros que vivem, hoje, ao meu redor. Não como um abstrato e virtual movimento, mas como existência real de pessoas com as quais entro em contato. Se não consigo me relacionar com ninguém, estou desconectado e, consequentemente, alienado. É o que se chama de desatualizado. Estar fora da atualidade significa estar fora do tempo e, por isso, fora da realidade. É o contrário da realização”, completa.
No entanto, explica o arcebispo, a realização não é unidimensional, porque não basta me relacionar comigo, pela consciência de meu eu, nem basta relacionar-me com os outros, tanto real como virtualmente. É preciso que o faça dentro de duas outras relações, para que a realização seja autêntica: com o mundo e com Deus. “Aparece, então, toda a dimensão da realização e atualização. Viver no tempo significa envolver-se com o passado, com o que aconteceu ao longo dos tempos e se encontra ao nosso alcance, Não posso perder a visão do conjunto. Preciso trazer tudo para o presente. O passado tem um peso de eternidade. Torno-o real na medida em que o integro na vida, no momento atual.”
Por fim, dom Dadeus analisa que a única realidade que não está ligada nem ao espaço nem ao tempo é Deus, pois transcende a ambos. Conforme o prelado, Deus é eterno em si mesmo, não está dividido em prestações, é plenamente realizado e atual, representa a meta final de todo movimento e mudança, além de ser o nosso futuro, mas também o nosso presente, na medida em que nos integramos nele. Para o arcebispo, Deus só pode ser concebido como vida em plenitude, pois fundamentalmente viver nele e para ele se torna o futuro que nos realiza e dá à nossa vida o peso de eternidade.
“O mundo é, ao invés, o palco de nosso drama. Não estamos sujeitos a ele, mas é por ele que nos realizamos. Não que as mudanças do mundo sejam determinantes para nós. É nosso conhecimento que nos relaciona com ele, como condição de nossa caminhada. Aqui as mudanças se tornam cada vez mais rápidas, porque as pesquisas humanas e a técnica modificam continuamente esta relação. Deve levar-nos para além, a transcender o espaço e o tempo, que o enquadram na finitude. Abre o horizonte da eternidade”, conclui. (FB)
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