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A intervenção de Deus na História

Pe. José Manuel de Andrade, EP

A agitação e o frenesim próprios ao Carnaval iam longe quando uma notícia resolveu tirar o protagonismo televisivo e jornalístico da maior festa pagã ocidental. Longe, num dos menores Estados dotado de soberana autonomia, o Sumo Pontífice anunciava renunciar a seu cargo. Sendo ele a autoridade suprema da Igreja, fazia-o livre e manifestamente, sem a necessidade da aceitação de quem quer que seja, conforme prescreve o cânone 332 §2 do Código de Direito Canônico. Historicamente, outros Papas o haviam feito. Não se tratava, portanto, nem de uma novidade, nem de uma impossibilidade.

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Ao longo destes dias, a Basílica com a sua praça em forma de chave têm sido o centro das atenções. Para aí se dirigem as câmaras, os olhares e o pensamento de muitos especialistas, jornalistas e vaticanistas, tentando perscrutar e vislumbrar os acontecimentos por detrás daqueles muros sagrados. Falam de crises, desgastes, querelas… E esquecem que aquelas paredes e pedras para além das quais querem conjecturar, revelam já terem suportado um número maior de tempestades contrárias que se abateram contra a edificação que Jesus edificou sobre a rocha firme (Mt 7, 25), e que parecem repetir a famosa frase imortalizada por Cícero: “Eu vi outros ventos e enfrentei sem temor outras tempestades”.

O mundo gira agora num emaranhado de suposições, enquanto a cruz que repousa no alto do obelisco permanece de pé. As casas de jogo aceitam propostas e a imprensa apresenta a biografia dos papabiles. Apesar de tudo isso, não consta que o Espírito Santo se deixe influenciar por apostas ou que seja tendente a ler os jornais. Para a eleição do novo Pontífice, existem critérios mais altos. Foi Jesus quem escolheu os Apóstolos, elegeu Pedro entre eles para apascentar o seu rebanho e ser cabeça do colégio episcopal (Jo 21, 15-17; Mt 16, 18). E adverte: “Não fostes vós que me escolhestes; fui Eu que vos escolhi” (Jo 15, 16). A Igreja tem isso bem presente quando celebra a missa “Pro Eligendo Romano Pontifice”, e posteriormente, no momento em que os cardeais se dirigem à Capela Sistina, entoando o Veni Creator Spiritus.

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A história não é um desenrolar de fatos que obedece ao fatalismo inexorável das leis naturais ou ao capricho do acaso. Para os católicos, ela é iluminada “com um clarão todo especial: o da Fé”. É Deus quem age, Pai, Filho e Espírito Santo. E entre as três pessoas divinas, não há dúvida nem indecisão. O Conclave fará com que Deus aja na história concreta dos homens, mais uma vez.

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1 “Si contingat ut Romanus Pontifex muneri suo renuntiet, ad validitatem requiritur ut renuntiatio libere fiat et rite manifestetur, non vero ut a quopiam acceptetur” (c. 332 §2).
2 “Alios vidi ventos, alias prospexi animo procellas”. In: CÍCERO M. Tullius. Epistolarum ad Familiares libri. SJÖGREN (dir.). Leipzig, 1925. Calpurnium Pisonem, oratio, 9.
3 Cf. Corrêa de Oliveira, Plinio. O valor de uma renúncia. In: Opera Omnia: Reedição de escritos, pronunciamentos e obras. São Paulo: Retornarei, 2008. Vol. I. p. 364-366.

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