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Em Uganda, trabalho contínuo da Igreja ajuda crianças vítimas do recrutamento

Kampala (Quinta-feira, 15-03-2012, Gaudium Press) Uganda encontra-se no centro da atenção mundial devido a um vídeo difundido através da internet e que faz parte de uma campanha para exigir a detenção de Joseph Kony, responsável pelo recrutamento de milhares de crianças, além de múltiplas atrocidades durante a guerra.

Em meio da consternação gerada, uma entrevista concedida à Rádio Vaticano por Dom José Franzeli, Bispo da Diocese de Lira, em Uganda, mostra verdadeira realidade atual da infância e as ações que há anos a Igreja faz a favor dos pequeninos.

O prelado destacou a necessidade de conhecer a realidade de Uganda de uma forma mais integral e passar do fato mediático a uma atenção real às vítimas.

O bispo afirmou que o compromisso da Igreja em atenção às “crianças soldado” tem sido constante desde o início e “não apenas agora que o ocidente voltou a tomar consciência delas”.

“Temos trabalhado ali durante anos”, assinalou Dom Franzelli, “e o fazemos mediante o estabelecimento de centros de acolhida”.

Também ele relatou que “Radio Wa”, a emissora da Diocese, tem um espaço chamado “Bem vindo de novo a casa”, no qual são enviadas mensagem para que essas crianças regressem voluntariamente a seus lugares.

“Os que enviam estas mensagens são, de fato alguns desses meninos que foram capazes de fugir e foram acolhidos nestes centros de recuperação da Igreja. A eles foi dada a oportunidade que lhes haviam arrebatado de começar sua educação”, comentou o prelado.

Dom Franzelli expressou que a maior parte dos meninos retornou e recebeu um tratamento especial: “Eles estão acompanhados durante a fase de reintegração, porque são pessoas que ficaram traumatizadas pela violência e que eles mesmos se viram obrigados a tirar dos demais”.

Este caminho de recuperação da infância é um reflexo da restauração que necessita toda a nação depois da situação de violência generalizada.

A reconstrução mais profunda é a liberdade moral e espiritual

“Quando trata-se da reconstrução”, afirmou o bispo, “a gente pensa primeiro na infraestrutura, os caminhos que não estão aí e que se deve se construir, as capelas que foram queimadas, escolas e lugares destruídos”.

Mas não é esta reconstrução física a que mais preocupa a Igreja, nas palavras de Dom Franzalli: “A reconstrução mais profunda, a mais necessária, é a da liberdade moral e espiritual das pessoas. Dar-lhes esperança e um sentido de dignidade, de seu valor. É neste sentido, agora mais que antes, é que a evangelização é necessária”.

É precisamente o abraçar a fé o que pode trazer a verdadeira reconciliação a um país profundamente ferido. “A boa notícia é que Deus é Pai de todos”, destacou Dom Franzelli, “somos irmãos e irmãs e temos que aprender a viver juntos como uma família.

O primeiro Sínodo sobre a África falou da “Igreja como família de Deus”: esse é o desafio que nós enfrentamos como Igreja, ainda que estando em uma situação difícil pela falta de pessoas e de meios”.

Sobre o impacto real de iniciativas como o vídeo que tem escandalizado o mundo, o prelado destacou que é positivo não permitir que a tragédia caia no esquecimento, ainda que exista um sentimento de “incomodo” em alguns setores, e inclusive nas próprias vítimas.

“As coisas que estão dizendo são certas, mas não constituem toda a verdade”, afirmou o bispo. “Há muitos aspectos do fenômeno que devem ser abordados, afim de que a responsabilidade das atrocidades não recai só sobre os rebeldes, mas que há cumplicidade de outros, como ocorre sempre em situações de guerra”.

“Por outra parte”, continuou Dom Franzelli, “está o fato – que deixa confundido um pouco – de todo este dinheiro invertido em publicidade e apoio a esta ONG. Só uma proporção relativamente baixa, ao final, vai diretamente ajudar as vítimas da tragédia que foi posta em primeiro plano da atenção mundial”, concluiu.

 

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