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“Espero que o Papa seja ouvido, que se abram os corações para ele”, diz Dom Josef Clemens

Cidade do Vaticano (Quarta-feira, 21-09-2011, Gaudium Press) Em entrevista exclusiva a Gaudium Press, o secretário geral do Pontifício Conselho para Leigos, Dom Josef Clemens, discorreu um pouco a respeito da terceira visita que o Papa Bento XVI fará a Alemanha. Entre outros assuntos, o prelado comentou a respeito da contribuição da viagem do pontífice ao país bávaro e também sobre os sentimentos que ligam o Santo Padre a sua terra natal.

1. Em qual contexto histórico, cultural e social se insere a terceira visita de Bento XVI a sua pátria?
Neste momento o principal argumento de interesse na vida pública da Alemanha são de preocupações de natureza econômica, a questão do euro e todos os problemas ligados à crise monetária. Muitas pessoas, neste cenário de crise, perguntam-se: para onde estamos indo, para onde vai o nosso país, para onde vai a Europa? Qual o papel que temos em um mundo que está se desenvolvendo com novas forças econômicas e culturais? As águas na Alemanha estão um pouco agitadas neste momento. O Papa naturalmente não falará de questões econômicas, mas sim sobre aquelas fundamentais para a vida de toda pessoa, movendo da «quaestio quaestionum», a «questão das questões», isto é, a pergunta de Deus, como diz o próprio lema desta viagem “Onde há Deus, há futuro”. Creio que não somente a Igreja Católica e os fiéis católicos, mas também os protestantes e todos aqueles que se põem sinceramente estas perguntas escutarão o Santo Padre com os ouvidos e o coração abertos. Creio que Bento XVI será muito ouvido graças a este momento um pouco difícil para a sua pátria.

2. Qual contribuição pode oferecer esta visita à sociedade alemã?
Principalmente uma ajuda para pensar o essencial, nas coisas que realmente formam uma vida digna do homem, uma vida na qual o homem pode encontrar realmente as respostas a suas grandes interrogações. Eu creio que o Papa dará um impulso aos jovens, mas também aos menos jovens, a ir com profundidade. A atenção da mídia na Alemanha será muito grande: no campo midiático a sociedade alemã é muito desenvolvida e a mídia desempenha um papel muito importante, por isto a visita do Papa entrará na vida de muitos crentes e não crentes. Espero que ele seja ouvido, espero que não se olhem somente as imagens, mas que se abram também um pouco os ouvidos e os corações de tantos homens e mulheres.

3. A recepção de Bento XVI em sua pátria não parece ser tão calorosa e aberta por parte de muitos. Por que esse comportamento crítico por parte de diversos grupos?
Em minha opinião, as críticas não são dirigidas tanto à pessoa, se referem mais à Doutrina da Igreja que o Papa proclama e defende. Muitas pessoas, como sabemos, não concordam com certas exigências da vida cristã que a Igreja católica propõe, como se vê, por exemplo, pelo alto número de divórcios na Alemanha. Há diferentes visões do matrimônio e dos problemas bioéticos. Esta é uma parte do problema. Um outro aspecto é que nós católicos [na Alemanha] somos numericamente iguais aos evangélicos que não conhecem o sacerdócio ministerial e o ministério de Pedro. Não quero exagerar, mas na Igreja Protestante a gama de respostas possíveis é muito mais ampla. Mesmo entre os representantes mais altos e importantes da Igreja evangélica há pessoas divorciadas, e assim nasce um certo confronto com a Igreja Católica. Mas, repito, as críticas não são tanto em relação à pessoa, mas em relação à função de pontífice. Creio que também junto àqueles que o criticam, Bento XVI tenha uma altíssima credibilidade pessoal. As pessoas, e também os jovens, observam que aquilo que o Papa proclama é a sua mais íntima convicção pessoal e que ele mesmo tenta viver aquilo que pede aos outros.

4. Pela primeira vez se trata de uma visita de Estado do Papa Ratzinger na Alemanha. O Papa irá ao Parlamento Federal e encontrará os juízes da Corte Constitucional Federal. Qual importância para o país têm esses encontros com chefe da Igreja Católica?
Na minha opinião esta visita significa uma consideração e uma manifestação de alegria pela Alemanha unida, mesmo com todos os problemas que existem. A situação, depois da Segunda Guerra Mundial, de divisão em dois países não era uma coisa agradável para ninguém, nem para os cidadãos do Oeste, nem para aqueles do Leste. Agora o Papa com esta viagem quer prestar sua homenagem à Alemanha unida e também expressar seu agradecimento cordial aos católicos do Leste, que durante o período do comunismo mantiveram a fé mesmo entre tantas dificuldades na vida pessoal: quem era praticante não podia fazer estudar os próprios filhos, era muitas vezes espionado e tinha desvantagens na vida pública e profissional.

5. Há também um outro pequeno detalhe interessante no programa da visita de Bento XVI à Alemanha: as Vésperas marianas em Etzelsbach. Elemento muito presente também nas outras viagens. O senhor que conheceu por muitos anos o atual pontífice, como é a sua devoção mariana?
O Santo Padre possui uma grande devoção mariana que faz parte da identidade religiosa bávara. Não nos esqueçamos que ele nasceu e cresceu em lugares próximos a Altötting, que é o maior santuário mariano na Alemanha. Além disso, seus pais e sua família tinham uma profunda devoção mariana que se expressava, por exemplo, na recitação cotidiana do Rosário.

6. E Etzelsbach?
A escolha deste santuário mariano tem relação com tudo que foi dito antes. De um lado é o agradecimento pela fidelidade dos católicos do Leste, do outro, se insere no programa da terceira viagem à Alemanha um lugar de devoção mariana. Etzelsbach se encontra em uma região da Alemanha do Leste com o número mais elevado de católicos e eu acho muito bonito que o Papa vá agora, na liberdade reencontrada, a um lugar que teve um significado importante para tantas famílias que viveram e conservaram a fé sob o governo da ex República Democrática.

7. Quais relações e sentimentos ligam o Papa Ratzinger a sua pátria? O que está mais próximo do seu coração na tradição alemã?
Além dos vínculos familiares e de amizade que ligam o Papa a sua pátria, me parece que ele seja grato por tudo aquilo que recebeu da grande tradição cultural e teológica alemã. O Gymnasium bávaro tinha um perfil humanístico muito forte, havia muita atenção pelo estudo da história, da literatura e das línguas clássicas, latim e grego. E o Papa sempre falou de seus professores com grande respeito, diria quase com grande devoção.

8. Pela sua experiência como secretário do Pontifício Conselho para os Leigos e como um dos organizadores da Jornada Mundial da Juventude (JMJ) em Colonia, Sua Excelência pode dar um exemplo dos frutos desta primeira visita de Bento XVI, logo depois de eleito, à Alemanha?
Creio que a JMJ de 2005 em Colonia tenha sido para tantas pessoas, também não católicas e não crentes, uma grande surpresa sob vários aspectos, não somente pelo número de jovens participantes, mas também pelo seu próprio desenrolar. Para o pontificado de Bento XVI foi um belíssimo “arco de entrada”. Por um lado expressava a continuidade com o pontificado precedente, por outro ressaltava a importância da pastoral juvenil para a Igreja Católica. Fala-se tanto dos jovens, mas pouco se faz concretamente para o crescimento cultural e religioso do mundo jovem. A JMJ como viva manifestação de fé mostra que a Igreja é jovem e tenta dar uma resposta aos grandes interrogativos da vida, que emergem principalmente em idade jovem. A Jornada Mundial se compõe de vários elementos, não somente as grandes celebrações litúrgicas, as catequeses, as confissões, mas também numerosos encontros e eventos culturais. Parece-me que a JMJ de Colônia tenha sido realmente um evento importante para a Igreja e para a sociedade alemã, porque abriu os

Anna Artmiak

 

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