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Artigo: A alma de todo pecado

 

É famoso em todo o mundo católico o livro do grande abade do mosteiro cistercience de Sept-Fons, na França, Dom Jean Baptiste Chautard, intitulado “A Alma de todo Apostolado”, no qual o venerado monge ensina que a oração é a base e a alma de todo apostolado.

Fazendo um paralelo, do outro lado da balança, se poderia perguntar: e… qual seria, então, a “alma” de todo pecado? – se é que o pecado pode ter alma…

Uma análise de qualquer pecado, desde a aceitação de Eva à sugestão da serpente, até as estrondosas contestações a Deus de nossos dias, encontraremos sempre um denominador comum, uma semente da qual nunca brotam bons frutos: o orgulho e, sobretudo no relacionamento humano, a manifestação deste vício sob sua forma mais sibilina e satânica: a inveja.

Recentemente, nos Estados Unidos, um jovem abriu um processo judicial, para “divorciar-se” de seu próprio pai. O fato é chocante, mas é quase que um fruto natural de uma sociedade que “divorciou-se” de Deus.

Houve um caso, há muitos anos, muito difícil e complicado. Um problema de alma muito grave, nascido de um defeito que, infelizmente, atinge a muitos de nós nos dias de hoje: a inveja.

Para nós adultos, este assunto não está distante nem longínquo, mas tão próximo que quase diríamos que convivemos com ele todos os dias de nossa vida. Às vezes sentimos inveja, outras vezes, somos movidos por ela, sem mesmo perceber e ainda muitas vezes somos vítimas da inveja de outros.

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Dom Jean Baptiste Chautard

Comete-se um pecado de inveja, quando por malevolência se tem prazer pelo mal do próximo ou tristeza pelo bem que lhe acontece.

Invejar vem do latim: in privação e videre ver. O invejoso não pode ver a felicidade dos outros e procura fazer-lhes mal por palavras e obras. Ele se parece com a traça que rói os tecidos bonitos, ou à ferrugem que destrói o ferro (Santo Agostinho).

O invejoso que se alegra com o mal do próximo é como o urubu que só se alimenta de podridão.

O primeiro invejoso e o pai da inveja é o próprio Satanás; o pecado de Adão e Eva no Paraíso, foi fruto da inveja; Caim matou seu próprio irmão Abel, por inveja do seu sacrifício, que foi agradável a Deus (Gên. IV); assim, poderíamos citar muitos e muitos casos na nossa história, em que a inveja trouxe como fruto muitos e muitos males.
A inveja espiritual é um pecado contra o Espírito Santo. Esta foi a inveja que os fariseus tiveram de Jesus Cristo: quando o viram fazer milagres, decidiram a sua morte (S. João, XI, 47). São Gregório Magno diz que a inveja é o pecado particular dos demônios, porque, basta verem uma alma progredir no bem, para logo se enfurecerem e a perseguirem.

Já São Vicente Ferrer diz que, assim como Jesus Cristo disse: “Por este sinal conhecerão que sois meus discípulos: se vos amais uns aos outros”, assim também o demônio pode dizer: “conhecerão que sois meus discípulos, se vos invejais como eu vos invejei”.

De todos os pecados que existem, a inveja é o que tem a maior malícia, porque cada pecado e cada vício têm circunstâncias atenuantes: a intemperança desculpa-se pelo apetite; a vingança pela defesa do direito; o roubo pela pobreza etc. O invejoso, porém, não pode alegar desculpa alguma (São João Crisóstomo). A inveja é pior que a guerra, porque a guerra tem motivos, a inveja não os tem; além disso, a guerra acaba-se: a inveja nunca.

A malícia do invejoso é, por assim dizer, ainda maior que a do demônio; porque o demônio só inveja o homem e não os seus semelhantes; mas o homem inveja seus irmãos , diz S. J. Crisóstomo.

S. João Damasceno dizia: “Alimenta os cães e serão domesticados; afaga o leão e será domado; mas ao invejoso delicadeza e condescendência não servem senão para o excitar mais”.

Este defeito de alma é tão prejudicial que atinge até nosso corpo, pois o invejoso perde a paz interior e até a saúde corporal.

Hoje em dia, não há um bairro que não tenha vários institutos de beleza. Todo o mundo quer melhorar sua aparência. Usa-se maquiagem para “retocar” as falhas e disfarçar as rugas. Luís de Granada, diz que, quando a inveja entra numa alma, ela se manifesta no próprio rosto da pessoa, como aconteceu com o semblante lívido de Caim (Gênesis IV, 5); tira ao rosto o frescor de suas cores e revela na palidez e no embaciado dos olhos, a pena que produz no interior (Luís de Granada).

A própria Bíblia diz que “a inveja encurta a vida humana” (Eclesiástico XXX, 24).

São Boaventura diz que a inveja é a garantia mais segura da eterna condenação.

Por tudo isso, nós vemos o quanto a inveja é prejudicial a nossa vida, ao próximo e a toda a sociedade.

Deus, porém, é de uma sabedoria infinita e misericordiosa e tem por cada um de nós um amor tão grande que nenhuma palavra humana seria capaz de exprimir. Conhecendo a maldade de que nós seríamos capazes, com nossos desvios e nossos pecados, Ele mesmo deixou um caminho pronto para o retorno, através de Maria, que Ele mesmo destinou a ser Mãe de cada um de nós.

A humildade de Maria esmagou a cabeça do demônio, a sua humildade pode nos curar deste verme roedor que é a inveja. Não há caso tão difícil que Ela não possa resolver, não há problema tão sério, que Ela não consiga solucionar. Para Maria, a palavra impossível não existe, pois nEla está a onipotência de Deus, transformada em súplica.

Alexandre José Rocha de Hollanda Cavalcanti

Fonte: CATECISMO CATÓLICO POPULAR (Pe. Francisco Spirago 6ª Edição revista e atualizada Segunda Parte – Páginas. 37-41

 

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