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“É necessário agir com coragem e rigor e prestar o serviço com extrema lealdade e fidelidade”, diz chefe da Guarda Suíça

Cidade do Vaticano (Quarta-feira, 04-05-2010, Gaudium Press) Daqui a dois dias, 34 novos guardas suíços irão jurar “servir fielmente, lealmente e honradamente ao Sumo Pontífice”. A solene cerimônia acontecerá no Pátio São Dámaso do Palácio Apostólico, no dia 6 de maio, dia da comemoração do heróico sacrifício de vida dos 147 guardas em defesa do Papa Clemente VII, no Saque de Roma de 1527. O atual comandante da Guarda Suíça Pontifícia, Coronel Daniel Rudolf Anrig, conta sobre sua vida como comandante do mais antigo corpo de guarda do mundo.

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Entre 1992 e 1994, o coronel prestou serviço para João Paulo II como alabardeiro

O Coronel, entre 1992 e 1994, prestou serviço a Papa João Paulo II como alabardeiro, e em 19 de agosto de 2008 foi nomeado como comandante do Corpo.

Gaudium Press – O antigo lema da Guarda Suíça Pontifícia “Acriter et Fideliter” significa que o serviço dos guardas deve ser realizado com “coragem e fidelidade”. Na realidade de hoje, como os guardas vivem e realizam este lema?

Daniel Anrig: A Guarda Suíça, além do serviço de representação, tem também a responsabilidade do serviço de segurança da pessoa do Santo Padre. Estas duas funções sempre foram as principais desenvolvidas pela instituição do Corpo desde 1506 até hoje. Principalmente para a segurança e proteção do Santo Padre, era necessário ser dotado de uma boa dose de coragem e abnegação. Hoje a atmosfera está um pouco mudada, mas o fato de o Santo Padre viver e realizar o seu ministério neste mundo, ter estes dotes, é ainda muito importante. “Acriter et fideliter” quer dizer que no nosso serviço é necessário agir com coragem e rigor e prestar nosso serviço com extrema lealdade e fidelidade ao Santo Padre. E isto não mudou com o tempo.

GP – E quais outros valores têm a Guarda Suíça hoje?

Digamos que, além da coragem e da lealdade, é necessário ter o senso da disciplina, da humildade, do companheirismo e do amor pelo próximo. São valores que servem não somente durante o serviço no âmbito interno ao Palácio Apostólico e em outros lugares, mas também na vida de quartel de todos os dias.

GP – Antes de tornar-se Comandante, de 1992 a 1994 o senhor prestou serviço como alabardeiro. Quais eram as motivações que o levaram a entrar para o Corpo da Guarda Suíça?

Pessoalmente, o que me levou foi ter sentido uma vocação para servir a Igreja em um modo particular e a Igreja se identificava na figura do Santo Padre. Sobre a minha decisão influiu certamente também minha vontade de fazer uma experiência no exterior, fora da Suíça.

GP – Como a sua experiência anterior o ajuda agora no seu novo cargo?

Tenho mais empatia pelos jovens. Entendo melhor seus problemas. Já na fase de instrução dos recrutas tento entender como eles se sentem. Tento acompanhá-los durante a realização de seu trabalho porque sei que há momentos de dificuldade e de entusiasmo. Eu passei por isso também. Acho que adquiri uma certa capacidade de compreensão para as diversas situações dos jovens guardas.

GP – Já se passaram mais de dois anos desde que o senhor dirige o Corpo da Guarda Suíça Pontifícia. Como julga o trabalho destes dois anos?

Como sempre, quando se inicia um novo trabalho, há uma primeira fase de análise da situação, depois da qual se inicia uma fase de mudanças para melhorar o serviço. Estas duas fases já estão para trás. É claro que houve dois anos muito intensos. Esperamos que os próximos anos sejam todos assim intensos. Espero encontrar sempre a mesma motivação, como tinha no início e de continuar com o mesmo ritmo de melhoramento.

GP – Quais mudanças introduziu na Guarda?

A primeira coisa importante para mim foram as análises dos procedimentos vigentes no Corpo. Outro aspecto foram as regras do recrutamento, onde fiz algumas mudanças. Depois me empenhei em melhorar e organizar a vida cotidiana do serviço. Em minha opinião estes são os aspectos mais evidentes, mas há também outros pequenos passos, não tanto evidentes, a cuja realização dei minha contribuição. Creio que seja importante para qualquer estrutura que o responsável avalie as propostas que nascem internamente e aja para realizá-las.

GP – Quais são seus projetos futuros?

No mundo no qual vivemos, a principal demanda é aquela da segurança, que hoje tem uma importância preponderante em relação à representação. É um desafio que nos empenha muito. E sobre este aspecto posso dizer que as minhas precedentes experiências profissionais na Suíça, onde trabalhei como comandante na polícia, podem ser úteis ao Corpo. Por isto vejo este aspecto da segurança, principalmente com os olhos abertos a todos os eventuais problemas que existem ou que talvez existirão. É uma responsabilidade precisa da pessoa que dirige o Corpo e nisto gostaria de me empenhar cada vez mais.

GP – Quais dentre as novas tecnologias acha que seja útil introduzir ao Corpo?

Sempre fui muito cético quando se fala de novas tecnologias. Certamente nos ajudam na realização de nosso trabalho. Mas o principal na segurança é sempre o ser humano. Quero dizer que é o próprio guarda, a própria pessoa que garante a segurança. Não são as máquinas ou as técnicas que a garantem. São as pessoas que estão por trás destas técnicas que as fazem funcionar. Hoje estão muito na moda as câmeras, mas quando não se sabe administrá-las, quando não se sabe como reagir de maneira apropriada, as informações que se recebem não servem para nada. Por isto eu sou um comandante que, principalmente, deve instruir os meus homens a serem guardas no verdadeiro sentido da palavra, isto é, a serem espertos e preparados para qualquer situação.

GP – Entre as diversas funções, o Comandante encontra também tempo de se dedicar à própria vida privada?

Nós temos a vantagem de viver onde trabalhamos. O nosso quartel é o lugar onde nós vivemos e trabalhamos, onde estão também nossas famílias. Isto certamente é um privilégio.
Por outro lado, há um desafio porque se vive quase sempre entre os colaboradores e portanto não há uma esfera privada. É necessário se habituar a isso senão não nos sentimos à vontade.

GP – Como alabardeiro o senhor teve oportunidade de conhecer João Paulo II. Alguma recordação particular daquele período…

Tive a sorte de prestar serviço de 1992 a 1994. Nestes dois anos tive também a sorte de encontrá-lo várias vezes, até em momentos mais pessoais. Acho que seu carisma deriva do fato que em todo encontro se percebia um calor que permanece conosco para sempre. Tenho uma recordação muito especial de um encontro que tive com ele na noite de Natal de 1992 quando veio em minha direção depois de 5 horas de serviço e pude estar com ele sozinho no pórtico. Este encontro foi para mim um grande presente. Creio que também outros tenham tido uma experiência como a minha. Mas para mim eram sempre encontros muito especiais pelo fato que me sentia inspirado pelo seu carisma.

GP – Naquele período o senhor pôde conhecer o cardeal Joseph Ratzinger. Hoje de novo se encontram como dois chefes. O senhor tornou-se Comandante da Guarda Suíça Pontifícia, o Cardeal Ratzinger, por sua vez, foi eleito Papa. Como era ele quando era prefeito da Congregação para a Doutrina da Fé e como é hoje em suas funções de Santo Padre?

Na época daqueles encontros nos anos 90, eu era só um jovem guarda. Eu o cumprimentava e ele nos parecia uma pessoa de grande humildade mas também de profunda sabedoria. Os jovens ficavam impressionados. Com aquele cardeal se falava sempre com uma grande estima e respeito. Mas ele mesmo era muito cordial com os jovens guardas. Hoje tudo mudou, nos encontramos em um modo diferente. Mas certamente também hoje, como pontífice, é ainda a mesma pessoa que conheci na época. Toda pessoa que o encontra hoje o estima em maneira total porque se percebe que nele há um grande personagem, não somente pela sua inteligência teológica, mas também pelo calor que suscita. Todos aqueles que o encontram têm esta sensação. Eu tenho mais a sorte de encontrá-lo com mais frequência do que os outros.

 

O Coronel Daniel Rudolf Anrig nasceu no dia 10 de julho de 1972 em Walenstadt (Cantão de São Galo, Suíça). É casado e tem quatro filhos. Foi Alabardeiro da Guarda Suíça Pontifícia de 1992 a 1994. Ao voltar para sua pátria formou-se em Direito Civil e Eclesiástico na Universidade de Friburgo (1999) e foi Assistente de Cátedra de Direito Civil na mesma universidade (1999-2001). Foi Chefe de Polícia criminal do Cantão de Glarona de 2002 a 2006. A partir de 2006, nomeado Capitão do Exército Suíço, exerce o cargo de Comandante Geral do Corpo de Polícia do Cantão de Glarona. No dia 19 de agosto de 2008 foi nomeado como 34° Comandante da Guarda Suíça Pontifícia. O Comandante tem a direção geral da Guarda. Além disso, se ocupa do recrutamento, da observância do regulamento e das disposições dos superiores. Em geral o Comandante é responsável pelo bom andamento do Corpo e da manutenção da disciplina. Além disso, representa a Guarda externamente.

 

Por Anna Artymiak

 

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