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Artigo: Gosto pelas boas maneiras recrudesce

 

Muito se tem dito a respeito das boas maneiras, atribuindo-lhes como principal desvantagem a falta de sinceridade no relacionamento mútuo.

De Paris nos chega a notícia [1] de que voltaram elas a serem bem vistas em geral pela população.

Outrora ocupavam um papel preponderante no convívio social. O movimento libertário de maio de 1968 na França teve como empenho fundamental varrê-las em boa parte da sociedade. Ensinar as crianças a terem regras de educação equivalia então a romper culposamente a espontaneidade de suas personalidades.

Diziam alguns centros de informação que a repreensão tolhia o potencial criativo dos jovens, como, aliás, também dos menos jovens…

Ora, esse ponto de vista está mal fundamentado. Ao evitar alguém de praticar o indesejável, na realidade se o está ajudando a trilhar de modo desimpedido rumo ao bem. Tal será, por exemplo o caso do policial que interrompe a tentativa do suicida; impedindo o mal, levou-o ao bem, pela conservação de sua vida.

Ou então o caso do ancião que necessita do corrimão para subir a escada íngreme. Apoiando-se nele não estará debilitando sua personalidade, mas pelo contrário dará sinal de lucidez escolhendo um meio ao seu alcance para atingir a meta que tem em vista, qual seja, de subir ao pavimento superior.

Mas, as coisas óbvias por vezes custam em serem percebidas.

Entretanto, chassez le naturel et il reviendra au galop (afugentai o que é natural e ele voltará a galope), dizem os franceses. O galope no caso das boas maneiras levou perto de meio século, mas acabou em certa medida fazendo-se ouvir.

Informa a referida notícia de La Croix que os guias de boas maneiras são vendidos atualmente como pãezinhos.
Portar-se bem à mesa volta a ser de bom tom. Quem diria?

A arte de bem receber é propalada por um dos sites de cozinha entre os mais populares [2], contendo normas a respeito da disposição dos talheres, copos, vinhos nas mesas.

Sem manifestar um apego às questões de protocolo, as indicações levam em conta certas regras naturais, tal como, por exemplo deixar o lugar de maior precedência às pessoas a quem queremos mais especialmente homenagear.

A polidez parece efetivamente voltar a estar ao gosto do dia.

Bertrand Buffon, chefe de gabinete de um centro de investimentos internacionais – continua informando La Croix – acaba de publicar um ensaio intitulado “O Gosto da polidez” no qual declara que “face à ascensão das incivilidades – termo estranho, diz ele, que evita falar do desaparecimento da polidez – passou-se a ter consciência de que o homem, naturalmente sociável, tem necessidade da polidez para ser feliz e expandir-se”.

Dominique Picard, psico-socióloga e autora de dois livros sobre este tema explica que, “fundamentalmente a polidez é o azeite que se põe no entrelaçamento das relações sociais, é o que nos permite viver juntos, respeitando os outros. É sabido que não é viável viver segundo a espontaneidade. Ao acordarmos de manhã de mau humor não podemos responder ao vizinho que nos cumprimenta: não me amole!”.

– É a razão pela qual declaramos ter muito prazer em conhecer alguém que nos é apresentado, mesmo que não tenhamos encanto nenhum em passar a tê-lo descoberto. Importa que tenhamos disponibilidade social para convivermos.

Resume a psico-socióloga que “as regras de polidez permitem às pessoas viverem juntas no respeito mútuo, sem colocá-las em posição incômoda ou mal à vontade”.

Obviamente as regras de polidez são fruto da cultura dos povos que a geraram. Dominique Picard cita como exemplo o fato de que na Europa quando uma criança fala a um adulto, deve olhá-lo de frente, enquanto na Ásia a regra é de que abaixe os olhos. Assim, o modo de demonstrar respeito para com alguém varia entre estes dois mundos, mas o princípio fundamental que se quer afirmar é o mesmo: exteriorizar o respeito que se tem por certas pessoas.

Para além da diversidade de modos de ser, o que importa conhecer são os princípios fundamentais que regem as relações mútuas.

Em termos católicos, o respeito mútuo que se pratica pela polidez é lei fundamental, prescrita pelo próprio Deus, ao nos mandar amar “também ao próximo como a nós mesmos”. O interesse pela alma dos outros leva a tratá-los bem sempre que tenhamos ocasião, para poder aproximá-lo mais de sua finalidade eterna, que é de conhecer a Deus.

[1] Jornal La Croix; 12/01/2011

[2] www.marmiton.org

 

Guy de Ridder

 

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