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Artigo: Salvo no último momento

 

Quase todas as pessoas têm alguma aventura para contar, sobretudo, quando o fato que se deu está cheio de riscos. Alguns narrarão o fato miraculoso de como escaparam ilesos de um acidente de automóvel; outros dirão como quase foram mortos em um assalto; quantos riscos pessoas já sofreram em serem atacadas por animais perigosos; riscos na profissão. Imaginemos, por exemplo, um policial… Quanta coisa teria para contar!

O certo é que cada vez que se sai ileso de alguma enrascada, se tem a impressão de uma pequena ressurreição, pois poderia não se ter saído do outro lado. É uma sensação de alívio e conforto. Agora, se isto se passa com a vida natural, por que não se passaria com a sobrenatural?

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A vida natural só pode ser perdida uma única vez enquanto que a sobrenatural, que é perdida através de um pecado mortal, pode ser readquirida pelo sacramento da confissão. No entanto, o estado de alma que uma pessoa tem quando deixa este mundo permanecerá eternamente; se uma pessoa morrer em estado de graça (amizade com Deus), assim permanecerá para sempre, mas se morrer em estado de pecado mortal… Não haverá salvação.

Por isso, mais que escapar com vida de algum risco iminente, é poder salvar a própria alma no último momento de vida. Exemplo muito cogente oferece o Evangelho de São Lucas ao narrar a conversão do bom ladrão.

Enquanto Jesus era levado ao alto do Calvário, “eram conduzidos ao mesmo tempo dois malfeitores para serem mortos com Jesus” (Lc 23,32). Reparem que temos três personagens a serem executados: Jesus Cristo, o Filho de Deus, sem pecado algum e dois ladrões.

Após serem crucificados, enquanto aguardavam sua morte, houve uma discussão entre os ladrões, e um dos malfeitores blasfemou contra Jesus: “Se és o Cristo, salva-te a ti mesmo e salva-nos a nós!” (Lc 23,39). O outro, porém, retrucou: “Nem sequer temes a Deus, tu que sofres no mesmo suplício?” (Lc 23,40). E voltando-se para Jesus lhe pediu: “Jesus, lembra-te de mim, quando tiveres entrado no teu Reino” (Lc 23,42).

E qual foi a resposta de Jesus para este bandido miserável cujo suplício deveria estar sendo assistido, inclusive, pelas pessoas às quais causou algum dano e que lhe levaram a juízo? “Jesus respondeu-lhe: Em verdade te digo: hoje estarás comigo no paraíso” (Lc 23,43).

Jesus Cristo é mesmo Deus, pois somente um Ser divino é capaz de uma atitude tão misericordiosa. A misericórdia triunfou sobre a justiça (cf. St 2,13). E com todo respeito e admiração podemos dizer que o bom ladrão conseguiu “roubar” o céu. Ele recebeu um perdão imediato e a alegria inefável de fazer parte daquele Reino, o qual Jesus veio pregar. Mas, esta atitude de Deus não se refere unicamente a um ladrão que estava dependurado na cruz naquele momento histórico, “com estas palavras, Jesus, do trono da cruz, acolhe cada homem com infinita misericórdia”.1

No alto da cruz, Jesus fazia o papel de balança da justiça: “Podia ver-se ao Salvador entre os ladrões, como a balança da justiça, pesando a fé e a infidelidade”.2 Mas Jesus, como um Juiz, foi diferente dos outros juízes. Estes últimos quando lhes era declinado o erro, aplicavam a merecida justiça de acordo com o crime cometido. Jesus, porém, perdoou o criminoso justamente quando este reconheceu ser culpado: “ante o homem, o castigo segue à confissão, enquanto que ante Deus, à confissão segue a salvação”.3

Ainda há uma figura ímpar ao pé da cruz que ressalta todo este episódio: a Mãe de Deus. Diante de seu Filho desfigurado e despojado de toda glória, Ela manteve sua fé n’Ele: “a fé de Maria, que une no seu Coração também este fragmento do mosaico da vida do seu Filho; Ela ainda não consegue ver tudo, mas continua a confiar em Deus, repetindo mais uma vez com o mesmo abandono: ‘Eis a serva do Senhor’ (Lc 1, 38). E além disso há a fé do bom ladrão: uma fé superficial, mas suficiente para lhe garantir a salvação: ‘Hoje estarás comigo no Paraíso’. É decisivo aquele ‘comigo’. Sim, é isto que o salva”.4

Nossa Senhora, fidelíssima, sempre permaneceu com Jesus em todas as ocasiões, mas o bom ladrão se voltou para Ele apenas no último momento e até aí chegou a infinita misericórdia. E por que não cogitar que o bom ladrão se tenha convertido por causa das orações d’Ela?

A Virgem Maria é a Mãe de Deus, mas também é nossa Mãe. É, portanto, Mãe dos dois bandidos que estavam sendo crucificados com Jesus. Não era possível que Ela rezasse apenas por seu divino Filho e deixasse desamparados os outros dois crucificados. Deve ter rezado pelos dois, com a diferença que o bom ladrão aceitou sua ajuda enquanto que o mau ladrão não. Vamos, então, ao encontro de Jesus sendo ajudados por Maria Santíssima. Assim, não haverá risco que não possamos atravessar…

Thiago de Oliveira Geraldo

 

1 BENTO XVI, Angelus de 21 de Novembro de 2010.

2 CRISÓSTOMO. Apud San Tomás de Aquino. Catena Aurea (IV San Lucas). Buenos Aires: Cursos de Cultura Católica, 1946. p. 522.

3 CRISÓSTOMO. Op. Cit., p. 521.

4 BENTO XVI, Homilia de 21 de Novembro de 2010.

 

 

 

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