1º Domingo da Quaresma: sofrimento, uma opção?
Qual é o homem que gosta do sofrimento? Muitos, inclusive, questionam-se sobre sua finalidade. Outros, enfim, procuram esquivar-se dele o quanto conseguem…
Redação (18/02/2024 14:35, Gaudium Press) Nosso Senhor, neste 1º Domingo da quaresma, nos convida a uma conversão:
“O tempo já se completou e o Reino de Deus está próximo. Convertei-vos e crede no Evangelho” (Mc 1,15).
O que significa essa conversão pedida por Nosso Senhor? A conversão, dentre muitos aspectos, exige uma mudança no nosso modo de pensar e de agir e, portanto, uma adequação completa de nossa vontade à Divina Vontade de Nosso Senhor. Ora, qual é o Seu desígnio a nosso respeito?
“Quem quiser ser meu discípulo, renuncie-se a si mesmo, tome sua cruz cada dia e Me siga. Pois quem quiser salvar a sua vida vai perdê-la. e quem perder a sua vida por causa de Mim, esse a salvará” (Lc 9,23-24)
Como devemos compreender estas palavras?
Sofrimento, um instrumento de santificação
Tendo nossos primeiros pais, Adão e Eva, pecado no paraíso, entre os castigos que herdaram para si e sua posteridade, quiçá o maior tenha sido a perda do dom de integridade, a partir da qual o homem, que até então não sofria, passaria a sofrer:
“Comerás o pão com o suor do teu rosto, até que voltes à terra de onde fostes tirado” (Gn 3,19).
Promulgada a sentença, a humanidade conviveria com o sofrimento quotidianamente, como meio de sanar, em parte, a imensa dívida que contraíra com Deus, mas também como meio de santificar-se no dia a dia. Daí as palavras de Jesus: “Tome a sua cruz cada dia” (cf. Lc 9,23).
Assim, é necessário considerar que, sendo o sofrimento algo intencionado por Deus, devemos ter a convicção de que se trata, portanto, de algo benéfico e, por isso, não devemos suportá-lo como masoquistas – o que nos seria altamente prejudicial –, mas com alegria, oferecendo tais padecimentos ao nosso Redentor, sabendo que o que nos está acontecendo é de sua vontade.
Não devemos, de nenhum modo, nos esquivar do sofrimento, pois este persegue aqueles que fogem dele. São Luís Grignion de Montfort disse certa vez que o sofrimento é como a própria sombra…
Conformidade com a Vontade Divina
Certa vez, perguntaram a São Maximiliano Maria Kolbe como ser santo, ao que o santo respondeu com a fórmula v=V, explicando que a santidade consiste em conformar nossa vontade (v) com a Vontade Divina (V).[1]
Ora, a chave para aceitar a cruz todos os dias está exatamente em nos conformarmos com a Divina Vontade de Nosso Senhor. Essas cruzes podem se apresentar de diversos modos, seja pelo que os teólogos chamam de “vontade manifesta de Deus”, a qual se nos apresenta por uma regra que temos de cumprir ou também pela vontade de um superior, o qual, legitimamente constituído, torna-se representante de Deus. Mas há também o “beneplácito Divino”, isto é, quando Ele manifesta sua vontade de um modo nem sempre claro, como, por exemplo, permitindo-nos alguma doença mais dolorosa.
Seja como for, a conformidade com os sofrimentos nos leva à santidade, se bem aceitos.
Certa vez, um cego esteve diante do túmulo de Santo Antônio de Pádua, a fim de rogar-lhe a restituição da vista, o que de fato obteve. Ora, caindo em si, muito provavelmente por uma ação da Graça, questionou-se sobre se aquilo era ou não conforme a Vontade Divina. Como persistisse na dúvida, rogou ao santo que, se não fosse da Vontade de Deus que ele enxergasse, que tornasse a ser cego. E assim se fez…
Jesus quis sofrer
Visto que todo homem tem uma necessidade intrínseca de se guiar por um modelo, não podemos nos esquecer daquele que para nós é o perfeito exemplo de como se deve sofrer: Nosso Senhor Jesus Cristo.
Por isso, Jesus, ao Se encarnar, quis em tudo ser semelhante a nós, com exceção do pecado (cf. Hb 4,15). Ele, que não precisava sofrer para redimir os pecados dos homens — pois um simples ato de sua vontade seria suficiente para isso —, escolheu, entretanto, essa via, quiçá para nos ensinar o valor do sofrimento e também como suportá-lo. Assim, com exceção da concupiscência, Jesus teve todos os padecimentos que um homem pode ter: sentiu cansaço e dormiu na barca, chorou sobre Jerusalém e pela morte de Lázaro, teve sede e pediu água à cananeia etc.
Contudo, o exemplo máximo de seus sofrimentos foi sua Sacrossanta Paixão, na qual não poupou uma gota de sangue sequer por nós.
A fortaleza cristã em meio aos sofrimentos
Deus sabe o que é melhor para nós e o que precisamos, muito antes que nós o peçamos. Assim sendo, por mais que algo se nos apresente com aparência de desgraça, devemos manter a calma e fazer um ato de confiança em Deus e em Nossa Senhora, tendo a certeza de que ambos tirarão proveito disto. Eis, pois, um modo de darmos ouvidos ao convite de conversão, que tantas vezes nos é feito.
Peçamos a Nosso Senhor, por intermédio de Nossa Senhora, que obtenha a plena conformidade com sua Divina Vontade e nos ensine a suportar com fortaleza cristã todos os sofrimentos de nossas vidas.
Por Guilherme Maia
[1] Cf. LORIT, Sérgio C. 16670, quem era? São Paulo: Cidade Nova, 1966, p. 126.
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