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São Leão IX: batalhou contra a corrupção do clero

No século XI, houve um Papa que durante todo o seu pontificado combateu ferrenhamente as desordens morais do clero: São Leão IX.

Sao Leao IX

Redação (19/04/2024 07:43, Gaudium Press) Nascido num castelo da Alsácia – Nordeste da França – de uma família de alta nobreza, seu pai era primo do Imperador Conrado, o Sálico. Chamava-se Bruno e foi educado na escola episcopal de Toul, na Lorena – região fronteiriça da Alsácia. Tornou-se sacerdote e ficou responsável pela capela do Palácio Imperial.

Com o falecimento do Bispo de Toul, Bruno foi eleito como seu sucessor, em 1027, tendo apenas 25 anos de idade.

Simplicidade da pomba e prudência da serpente

Era mais alto que o comum dos homens e seu porte lembrava a elegância e a majestade de Carlos Magno. “Sua fisionomia imponente e afável tinha um brilho notável. Seu caminhar, seus gestos, o tom de sua voz, tudo nele era charmoso. À simplicidade da pomba ele sabia aliar, segundo a palavra evangélica, a prudência da serpente. Os políticos do século ficavam encantados pela sua sabedoria, os teólogos pela sua ciência, todas as pessoas pela sua admirável pureza.”

Tendo o Papa Dâmaso II falecido, Bruno foi escolhido para sucedê-lo, mas rejeitou peremptoriamente. Então o clero, o imperador e todo o povo lhe imploraram que aceitasse. Ele pediu três dias para responder e durante esse tempo praticou um jejum rigoroso: nada comeu nem bebeu. Por fim, derramando lágrimas, fez uma confissão pública diante dos dignitários eclesiásticos, procurando dessa forma “provar” que era indigno; porém suas faltas nem eram pecados veniais…

Encontro de três grandes santos

Bruno resolveu ir a pé até Roma, usando traje de peregrino. Santo Hugo de Cluny, levando consigo o arquidiácono romano Hildebrando – futuro Papa São Gregório VII –, foi saudá-lo em Besançon, situada no Leste da França, nas proximidades da Suíça. Que belíssima cena: o encontro de três grandes santos!

Continuando sua caminhada, acompanhado por Hildebrando, Bruno chegou a Roma onde foi acolhido triunfalmente por toda a o população e assumiu o papado com o nome Leão IX.

Um bispo declarou que esse nome “devia personificar o leão da tribo de Judá pelas suas vitórias contra a simonia, o cisma, a impiedade. Aos rugidos deste leão o universo inteiro tremeu, os sacrílegos se aterrorizaram, os inimigos da Igreja caíram, seus batalhões foram aniquilados.”

Terminadas as solenidades, São Leão IX nomeou Hildebrando administrador da Igreja romana, pois o tesouro de São Pedro havia sido pilhado…

Concílios para combater os vícios existentes no clero

A situação moral do clero era gravíssima; sobretudo a simonia e os pecados contra a castidade carcomiam as almas. São Pedro Damião, abade de um mosteiro da Itália, escreveu uma obra intitulada Livro de Gomorra e a remeteu ao Papa, que lhe agradeceu mediante uma carta na qual dizia:

“Vossa palavra, conservando a reserva de um pudor santo, golpeia como a lâmina da espada vingadora. Sinto uma alegria inenarrável ao pensar que vós não somente profligais o vício pelos vossos discursos, mas ensinais a santidade por vossos exemplos.

“Não duvideis da vitória; o Filho da Virgem Maria acrescentará à vossa coroa, como florões gloriosos, a multidão das almas arrancadas por vós das armadilhas de satanás.”

São Leão visitou importantes dioceses do Ocidente, promovendo concílios a fim de combater os vícios que carcomiam muitos integrantes do clero.

Em Pavia – Norte da Itália – condenou a simonia e a impureza. Em seguida, dirigiu-se ao Mosteiro de Cluny onde foi recebido pelo Abade Santo Hugo e confirmou por escrito que a Ordem de Cluny só dependia da Santa Sé, e não de bispos ou qualquer detentor do poder temporal.

No concílio realizado em Reims – Nordeste da França –, Santo Hugo interveio com intrepidez e o Papa puniu diversos prelados. Por exemplo, o Bispo de Langres foi excomungado devido a seus pecados infames. Depois ele recebeu a graça de verdadeiro arrependimento e se dirigiu à Roma, onde caminhou pelas ruas descalço, tendo nas mãos uma vara e pedindo aos transeuntes que o açoitassem. Ajoelhou-se diante de São Leão e rogou-lhe perdão, no que foi atendido.

Bela, nobre e rutilante Idade Média

Sendo o clero a primeira classe da sociedade medieval, seguida pela nobreza e pelo povo, a corrupção dos elementos eclesiásticos apodrece todo o corpo social; e sua purificação o vivifica.

Assim, pode-se afirmar que as lutas heroicas de São Leão IX foram fatores decisivos para que a Idade Média atingisse todo seu esplendor no século XIII.

Afirma Dr. Plinio Corrêa de Oliveira:

“A Idade Média, tão bela, nobre, rutilante, Deus a amou com todo o amor, era a obra-prima d’Ele. Nem a Cristandade do tempo dos mártires tinha sido tão pulcra quanto a Idade Média em seu apogeu.”

Pressentindo a chegada da morte, São Leão IX se dirigiu à Basílica de São Pedro e rogou que fosse celebrada uma Missa. Após a Comunhão, tendo a seu lado Hildebrando, ele entregou sua bela alma a Deus. Era o dia 19 de abril de 1054. Os sinos das torres soaram com toda intensidade sem que ninguém os tocasse.

“Entre aqueles que o assistiam na hora de sua morte estava Hildebrando, que era a uma vez seu inspirador e secretário, e mais tarde viria a ser seu sucessor com o nome de São Gregório VII. Imagine ter como secretário um santo, o qual, a meu ver, foi ‘o Papa’, não comparando a santidade, mas sim a missão, e o papel na História da Igreja.

“Que sublimidade, maravilha e grandeza devia ter aquela cena na qual um santo contempla outro expirar, onde São Gregório VII, ainda moço, permanece ao lado de São Leão IX, rezando até a hora em que a alma dele se desprende do corpo e sobe ao Céu!”

Quando da edificação da nova Basílica de São Pedro, no século XVI, seu corpo foi encontrado incorrupto. Que São Leão IX nos ajude a lutar contra os inimigos velados ou declarados da Igreja, certos de que em breve serão esmagados pela Virgem Maria.

Por Paulo Francisco Martos

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