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Artigo: Por que Cristo Nosso Senhor não permaneceu entre nós, após sua Ressurreição?

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A Ressureição de Jesus Cristo sempre causa uma profunda sensação de admiração

São Paulo (Sexta-feira, 14-05-2010, Gaudium Press) A Ressurreição de Nosso Senhor Jesus Cristo sempre causa uma profunda sensação de admiração. Claro está que, em primeiro lugar, pela maneira esplendorosa com que Nosso Senhor confirma a própria profecia a seu respeito e nos dá a maior das comprovações de nossa Fé. Nossa fé seria vã, diz bem São Paulo (I Cor – 15, 14), se não fosse a Ressurreição.

Depois de termos passado a Quaresma e, sobretudo, o período da Semana Santa, na contemplação dos inenarráveis sofrimentos a que quis submeter-se o Divino Mestre por amor a nós, e desfechando em sua morte trágica, é inegável sentirmos um grande consolo ao tomarmos conhecimento de que Ele verdadeiramente ressuscitou, voltando ao convívio dos homens.

São Tomás de Aquino levanta uma consideração sumamente atraente a respeito deste tema (Suma Teológica – Parte III – Questão 57):

O Filho de Deus tendo assumido a natureza humana para nossa salvação, não teria sido mais salutar para os homens que Ele convivesse sempre conosco na terra [grifo nosso], como Ele mesmo disse a seus discípulos: “Dias virão em que desejareis ver um só dos dias do Filho do Homem, e não o vereis”? Logo, parece que não foi conveniente ter Cristo subido ao céu.

A primeira conclusão aparentemente nos consola, pois parece que efetivamente teria sido melhor Nosso Senhor não ascender ao céu, mas ficar conosco.

Todavia, conhecendo o método adotado por São Tomás em suas exposições, já se sabe que ele levanta a dúvida e depois conclui no sentido oposto ao que aparentemente se levaria a imaginar. O que, diga-se de passagem, revela uma inteligência muito segura de si; além de não fugir ao debate e até mesmo à contestação de suas teses, ele mesmo ainda suscita argumentos contrários a ela!

E responde o Aquinate com seu atilamento intelectual fora de série:

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Convinha ao Filho de Deus que ascendesse ao céu porque algo se lhe acrescentou no que diz respeito ao decoro do lugar

O lugar deve ter proporção com o quê nele está. Ora, Cristo, após a ressurreição, deu início a uma vida imortal e incorruptível, e o lugar em que habitamos é lugar de geração e de corrupção, ao passo que o lugar celeste é um lugar de incorrupção. Logo, não era conveniente que Cristo, após a ressurreição, permanecesse na terra, e, sim, que subisse ao céu.

E completa a seguir:

Deve-se dizer que pelo fato de Cristo ter subido ao céu nada lhe foi acrescentado em relação à essência da glória, quer no corpo, quer na alma, mas algo se lhe acrescentou no que diz respeito ao decoro do lugar [grifo nosso], o que redunda em bem da glória. Não que seu corpo tivesse se aperfeiçoado ou se mantido por causa de um corpo celeste, mas apenas por certo decoro [grifo nosso]. O que, em certo sentido, tinha relação com sua glória. E desse decoro [grifo nosso] lhe advinha certa alegria – não porque então começasse de novo a gozar daquele lugar, ao subir para o céu – mas porque passou a gozá-lo de um modo diferente, como de algo que se completa.

O cerne da razão alegada por São Tomás para concluir pela necessidade de Cristo não ter permanecido na Terra é o decoro. À primeira vista alguém poderia imaginar que uma simples razão de decoro por si só não teria tanta importância. Nada mais falso! É o próprio São Tomás que o lembra. Convinha, como de fato conveio, ao Filho de Deus, Ele mesmo Pessoa Divina, que ascendesse ao céu, porque “algo se lhe acrescentou no que diz respeito ao decoro do lugar”.

Não é em outro sentido, aliás, que o saudoso Papa João Paulo II insistisse em lembrar a necessidade do decoro na celebração Eucarística (Encíclica Ecclesia de Eucharistia). Todo o capítulo V deste documento trata precisamente do assunto.

Como vemos, a preocupação com o decoro lembrada e revigorada pela Santa Igreja já fazia parte, segundo São Tomás, dos divinos anseios de Nosso Senhor para ascender aos céus.

Guy de Ridder

 

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