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O Pão dos fortes

Redação (Segunda-feira, 03-02-2020, Gaudium Press) Pela piedade eucarística que expressa, por seu valor testemunhal, e pela permanente atualidade da mensagem que transmite, resulta oportuno transcrever um trecho de uma conferência de Dr. Plinio Corrêa de Oliveira -fervoroso adorador brasileiro e arauto da Eucaristia- pronunciada em um Congresso Eucarístico Diocesano em Rio Preto, Brasil, em maio de 1940. Reconhecido líder mariano, o Dr. Plinio era então presidente do Conselho Arquidiocesano da Ação Católica de São Paulo e diretor de O Legionário, órgão oficioso daquela Arquidiocese.

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Naquele tempo não distante, se multiplicavam pelo mundo Congressos Eucarísticos nacionais, diocesanos e até paroquiais, que mobilizavam milhares de fiéis com a finalidade de promover o culto ao Santíssimo Sacramento, eixo da piedade católica. O tema da palestra foi “Juventude e a Eucaristia”:

“(…) Muito freqüentemente se ouve censurar a doutrina católica por ser demasiadamente austera, exigindo do homem uma força que sua natureza não possui. Não percebem, os que fazem tais críticas, que estão fazendo o mais magnífico dos elogios.

“Realmente, prejudicado a fundo pelas conseqüências do pecado original, o homem pratica com relutância a maior parte das virtudes e essa relutância cresce a tal ponto que a vontade humana seria incapaz de praticar de modo durável a totalidade dos Mandamentos de Deus. Neste sentido pois, se considerássemos somente a natureza, indubitavelmente, se deveria dizer que ela é incapaz de se alçar ao nível moral estabelecido pela Lei de Deus. (…)

“Por isto Deus dá ao homem o auxílio sobrenatural da graça, que ilumina a sua inteligência e fortifica a sua vontade, de forma a torná-lo apto a perceber as verdades necessárias à salvação e praticar as virtudes (…)

“Mas esta graça, cuja vida maravilhosa Deus franqueia aos fiéis por meio do Batismo; esta graça inestimável perto da qual, segundo a expressão do Apóstolo, todo ouro e prata do mundo não são senão lama; esta graça de que todos os sacramentos são veículos certos e eficazes e que a correspondência de nossa vontade deve valorizar; esta graça toca o coração humano com uma suavidade toda especial, quando medita sobre a Sagrada Eucaristia.

“À Sagrada Eucaristia chama a Igreja de Pão dos Anjos, Pão dos fortes, Vinho sagrado que gera Virgens! Estas afirmações são muito mais do que simples figuras literárias. O Corpo e Sangue de Nosso Senhor Jesus Cristo são verdadeiramente um alimento, e a alma que não beber esse Sangue e não comer esse Corpo não poderá ter a vida da graça. Pão dos Anjos, é a Eucaristia o pão sobrenatural que dá à inteligência humana aquela limpidez necessária para discernir todas as verdades que interessam à salvação. Ela é que nos preserva do erro, nos imuniza contra a heresia, e faz brotar em nós aquele senso católico – “sensus Christi” – que o imortal Pio XI chamava a alma da alma cristã.

“Vinho que gera as virgens, pode-se dizer que, realmente, onde está o Sangue de Cristo, aí há almas virgens. Nenhum alimento é melhor, nenhum meio é mais seguro, nenhum recurso é mais infalível do que a Sagrada Eucaristia, para despertar na alma aquelas virtudes delicadíssimas de que a castidade é como que a cúpula e o coroamento (…)”

***

Quantos ensinamentos nestas palavras que são um convite clamoroso à santidade! Elas são dirigidas a jovens por um jovem de 32 anos. Falar à juventude sobre virgindade e castidade é algo que vai deixando de fazer-se. Consta que existem honrosas exceções, mas o foco geral que se dá à pastoral juvenil nos dias atuais, definitivamente já não é esse; é uma evidência que salta aos olhos. E assim está a juventude e assim está o mundo…

Precisamente, a Eucaristia é um tonificante que faz fortes aos débeis. Sem Ela é impossível praticar a castidade ou qualquer outra virtude; em troca, com a força do Santíssimo Sacramento se vence aos clássicos e permanentes inimigos da alma: o mundo, o demônio e a carne. Esta linguagem pode soar arcaica a ouvidos condicionados pelo relativismo reinante, mas sejamos sinceros e convenhamos: ou isto é assim, ou o projeto cristão é uma quimera irrealizável.

Nossa religião católica é austera e exigente, sim, mas nada tem a ver com os rigores do calvinismo, do jansenismo ou de outras seitas ou espiritualidades puritanas. O recurso ao perdão no Sacramento da Confissão e a devoção terna à Virgem Maria, fazem não apenas possível, mas desejável e atraente a prática dos deveres cristãos. Aí estão os Santos, exemplos maravilhosos do triunfo da graça sobre a natureza. Seria factível, sem a graça de Deus, professar a Fé Católica em um mundo paganizado e cheio de ocasiões de pecado como o nosso?

Parece inverosímil, mas a verdade é que resulta mais difícil aos jovens -aos de hoje e aos de todos os tempos- enfrentar o desprezo dos companheiros, o medo de ir contra a corrente, ou o temor da pressão social, que ir à morte diante das feras no Coliseu, ou das balas em uma guerra.

Crianças, jovens e adultos; todos devem adorar e nutrir-se do Pão dos Fortes que rejuvenesce qualquer etapa da vida, predispondo-a para o Céu. Com a força da Eucaristia, tudo é possível, até as coisas mais árduas. O disse o Apóstolo São Paulo com seu verbo de espada cortante: “Tudo posso nAquele que me fortalece” (Fl 4, 13). E o próprio Jesus Nosso Senhor ensinou no Evangelho, ao sentenciar estas palavras tão consoladoras: “Sem Mim nada podeis fazer” (Jo 15, 5). Ou seja, dito de outra maneira: Comigo, com meu Corpo e com meu Sangue, poderás fazer tudo!

Por Padre Rafael Ibarguren EP – Assistente Eclesiástico das Obras Eucarísticas da Igreja

Traduzido por Emílio Portugal Coutinho

(Publicado originalmente em www.opera-eucharistica.org)

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