Gaudium news > Epifania do Senhor: é tempo de refletir sobre ela…

Epifania do Senhor: é tempo de refletir sobre ela…

Redação (Terça-feira, 07-01-2020, Gaudium Press) A Igreja celebra a Epifania, a manifestação de Jesus aos povos pagãos, os que não eram judeus, no dia 6 e janeiro; mas no Brasil está autorizada a sua celebração no domingo após o da Sagrada Família.

Epifania do Senhor-é tempo de refletir sobre ela... Foto-Cleofas.jpg
O Senhor manifesta a seu povo através dos pastores de Belém.
Manifesta-se ao mundo pagão na pessoa dos Magos.
Foto: Cleofas

O Evangelho e a História

Além do Evangelho de São Mateus, há documentos apócrifos no Vaticano, muito antigos e de grande valor, que relatam a visita dos Reis Magos ao Menino Jesus.

Existe um mosaico sobre eles em Ravenna, Itália, do século VI, com os nomes dos três: Baltazar, Melquior e Gaspar.

Os Reis Magos teriam vindo da Pérsia. Eram reis (talvez apenas de uma pequena cidade, como era comum), mas que aguardavam a chegada do Messias, uma vez que a fé dos judeus havia se espalhado também pelo Oriente.

Epifania: primícias das nações que acolhem a Boa Nova da salvação

Trata-se de uma Solenidade litúrgica da maior importância.

Os Padres da Igreja viram nesta visita dos sábios Magos do Oriente a Jesus Menino, o símbolo e a manifestação do chamado de todos os povos pagãos à vida eterna.

Os magos foram a declaração explícita de que o Evangelho era para ser pregado a todos os povos.

O nosso Catecismo da Igreja Católica diz: “A epifania é a manifestação de Jesus como Messias, Filho de Deus e Salvador do mundo…

Nesses “magos”, representantes das religiões pagãs circunvizinhas, o Evangelho vê as primícias das nações que acolhem a Boa Nova da salvação pela Encarnação.

A vinda dos magos a Jerusalém para “adorar ao Rei dos Judeus” mostra que eles procuram em Israel, à luz messiânica da estrela de Davi, aquele que será o Rei das nações.

Sua vinda significa que os pagãos só podem descobrir Jesus e adorá-lo como Filho de Deus e Salvador do mundo voltando-se para os judeus e recebendo deles sua promessa messiânica, tal como está contida no Antigo Testamento.

A Epifania manifesta que “a plenitude dos pagãos entra na família dos patriarcas” e adquire a “dignidade israelítica” (n.528 CIC).

Santo Agostinho e os Reis Magos

Comentando a adoração dos reis Magos que vieram do Oriente, diz S. Agostinho:

“Ó menino, a quem os astros se submetem! De quem é tamanha grandeza e glória de ter, perante seus próprios panos, Anjos que velam, reis que tremem e sábios que se ajoelham!

Quem é este, que é tal e tanto?

Admiro de olhar para panos e contemplar o céu; ardo de amor ao ver no presépio um mendigo que reina sobre os astros. Que a fé venha em nosso socorro, pois falha a razão natural”.

São Gregório Nazianzeno

O doutor da Igreja São Gregório Nazianzeno (†379) chama a Epifania de “festa das luzes” e a contrapõe à festa pagã do sol invicto, deus dos romanos.

Tanto no Oriente como no Ocidente, a Epifania tem o caráter de uma solenidade mística que transcende os episódios históricos particulares.

Os Magos descobriram no céu os sinais de Deus.

São Paulo: a Israel e ao Mundo

Tendo como ponto de partida a natureza os pagãos podem “cumprir as obras da lei” (cf.At 14,15-17), diz S. Paulo.

Depois de ter se manifestado a seu povo, Israel, através dos pastores de Belém, Cristo se manifesta ao mundo pagão na pessoa dos Magos que vieram do Oriente e o reconheceram como Deus.

São Paulo expressou isso dizendo:

“Este mistério Deus não o fez conhecer aos homens das gerações passadas, mas acaba de o revelar agora, pelo Espírito, aos seus santos apóstolos e profetas: os pagãos são admitidos à mesma herança, são membros do mesmo corpo, são associados à mesma promessa em Jesus Cristo, por meio do Evangelho” (Ef 3,5).

São Leão Magno

São Leão Magno (†460), Papa e doutor da Igreja, ensinou que: “Tendo a misericordiosa Providência de Deus decidido vir nos últimos tempos em socorro do mundo perdido, determinou salvar todos os povos em Cristo” (Sermão 3 do domingo da Epifania).

Os Salmos

O salmista já cantava este mistério ainda envolto em véu:

“Os reis de Társis e das ilhas hão de vir e oferecer-lhe seus presentes e seus dons. E também os reis de Seba e de Sabá hão de trazer-lhe oferendas e tributos.

Os reis de toda a terra hão de adorá-lo, e todas as nações hão de servi-lo.

Seja bendito o seu Nome para sempre! E que dure como o sol Sua memória!

Todos os povos serão Nele abençoados, todas as gentes cantarão o Seu louvor! (Sl 71,10-17).

“Nações que não vos conheciam Vos invocarão e povos que Vos ignoravam acorrerão a Vós” (cf. Is 55, 5).

“As nações que criastes virão adorar, Senhor, e louvar Vosso Nome (Sl 85, 9).

“O Senhor fez conhecer a salvação, e às nações, sua justiça” (Sl 97, 2).

Profeta Isaías

O profeta Isaías já tinha anunciado esse mistério sete séculos antes de acontecer, mostrando que os povos viriam a Jerusalém adorar o Messias:

“Levanta-te, acende as luzes, Jerusalém, porque chegou a tua luz, apareceu sobre ti a glória do Senhor. Eis que está a terra envolvida em trevas, e nuvens escuras cobrem os povos; mas sobre ti apareceu o Senhor, e Sua glória já se manifesta sobre ti.

Os povos caminham à tua luz e os reis ao clarão de tua aurora. Levanta os olhos ao redor e vê: todos se reuniram e vieram a ti; teus filhos vêm chegando de longe com tuas filhas, carregadas nos braços… será uma inundação de camelos e dromedários de Madiã e Efa a te cobrir; virão todos os de Sabá, trazendo ouro e incenso e proclamando a glória do Senhor” (Is 60,1-6).

Os Magos cumpriram esta profecia trazendo o ouro para o Rei, o incenso para o Menino Deus e a mirra para “o Cordeiro que tira os pecados do mundo” (João 1,29), e que seria sepultado com mirra.

Mais comentários

São Leão Magno também nos diz que:

“O serviço prestado por esta Estrela nos convida a imitar sua obediência, isto é, servir com todas as forças essa graça que nos chama todos para Cristo”.

Como podemos hoje levar, nós também, nossa adoração, ouro, incenso e mirra para o Menino Deus?

De muitas maneiras. Podemos ofertar-lhe o ouro da nossa fé, o incenso do nosso louvor e a mirra dos nossos sofrimentos aceitos e as boas obras, oferecidos a Deus pela salvação do mundo. Adorar ao Menino Deus pode significar também, prostrar nosso orgulho, nossa soberba; deixar de lado nossos próprios interesses e submeter nossa vida à ação e à vontade de Deus.

Diz o grande S. Gregório Magno (†604), Papa e doutor:

“As mãos significam as obras virtuosas, os dedos, a discrição. Portanto, as mãos destilam a mirra quando, pelas obras virtuosas, castiga-se a carne; mas os dedos são ditos cheios da mais preciosa mirra, pois é muito preciosa a mortificação que se faz com discrição”.

É impressionante notar que os Reis Magos chegaram a Jerusalém e ninguém sabia do nascimento do Messias; apenas os pobres pastores.

Penso que eles ficaram em dúvida e até decepcionados. Como? Ninguém sabe? Será que nos enganamos? Nem os doutores da lei, nem fariseus e escribas sabiam. “Onde está o rei dos judeus, que acaba de nascer? Nós vimos a sua estrela no Oriente e viemos adorá-lo”.

Mas o inimigo de Deus notou.

O fato foi tão marcante que São Mateus diz que:

“Ao saber disso, o rei Herodes ficou perturbado, assim como toda a cidade de Jerusalém. E Herodes quis matar o Menino, pois pensava que fosse tomar o seu reino. Não sabia que o Reino do Messias “era do outro mundo”.

Isto nos faz pensar

Também para nós Deus pode se manifestar e podemos ficar surdos e cegos à Sua chegada. E muitas vezes não faltam os inimigos que querem eliminá-lo em nossas vidas com receio de que possa tomar o seu poder de nós. Mas, apesar de todas as dificuldades, decepção pelo fato das pessoas não saberem de nada, os Magos continuaram sem desanimar, e a estrela os guiava:

“E a estrela, que tinham visto no Oriente, ia adiante deles, até parar sobre o lugar onde estava o menino. Ao verem de novo a estrela, os magos sentiram uma alegria muito grande”.

Nós também não podemos deixar de caminhar em nossa busca do Senhor.

Às vezes parece que Sua estrela some nas nuvens das tentações e dificuldades da vida, mas é preciso continuar a caminhada até a Manjedoura do Messias.

Nós também vamos sentir uma grande alegria quando o encontrarmos.

E vamos, como os Magos, vendo o Menino com José e Maria, sua mãe, ajoelhar diante dele, e o adorar, oferecendo os nossos presentes.

E voltaremos para casa, como os Magos, por outro caminho, o da fé e da esperança, não o da descrença e da desesperança.

E seremos felizes!

 

Por Prof. Felipe Aquino
(Título e Subtítulos nossos – www.cleofas.com.br)

 

Deixe seu comentário

Notícias Relacionadas