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Palavras de Jesus no alto da Cruz

Redação (Terça-feira, 26-11-2019, Gaudium Press) Após chegarem ao alto do Monte Calvário, os carrascos colocaram Jesus deitado sobre a Cruz e pregaram suas mãos e pés com longos cravos, causando-Lhe lancinantes dores. Isso não fazia parte do costume, pois normalmente os condenados à crucifixão eram amarrados no madeiro, como sucedeu com os dois ladrões.

Palavras de Jesus no alto da Cruz-Foto Gaudium Press.jpg

Divino pedestal para proclamar suas últimas súplicas e decretos

Tendo a Cruz sido levantada, os tormentos se multiplicaram inclusive com sensações de asfixia. Mais terríveis do que os sofrimentos físicos foram as dores morais, vendo os pecados dos homens ao longo da História.

E o Redentor teve também consolações, por exemplo, contemplando os heróis da I Cruzada que conquistaram Jerusalém e entraram na cidade numa Sexta-Feira Santa, às três horas da tarde.

Mas seu imenso conforto foi a presença aos pés da Cruz de Nossa Senhora, acompanhada pelo Apóstolo virgem, pelas Santas

Mulheres e por Nicodemos e José de Arimateia.

Pouco antes de morrer, o Divino Salvador pronunciou diversas frases maravilhosas, conhecidas como as sete palavras, nas quais “encontramos uma rutilante síntese de sua vida: constante e elevada oração ao Pai, apostolado através da pregação, conduta exemplar, milagres e perdão.

“A Cruz foi o divino pedestal eleito por Jesus para proclamar suas últimas súplicas e decretos. No alto do Calvário se esclareceram todos os seus gestos, atitudes e pregações. Maria também compreendeu ali, com profundidade, sua missão de Mãe.”

Carinho de um Deus por sua Mãe Santíssima

Recordemos algumas dessas palavras divinas.

Dimas, o Bom Ladrão, pediu a Jesus: “Senhor, lembra-Te de mim, quando tiveres entrado no teu Reino!” (Lc 23, 42).
“Ao referir-se a Jesus enquanto Senhor, o Bom Ladrão professa sua condição de escravo e reconhece-O como Redentor. […] [Ele] confessa publicamente a Nosso Senhor Jesus Cristo, ao contrário até mesmo de São Pedro, que havia três vezes negado o Senhor.

Tal gesto fez o Bom Ladrão merecer de Jesus este prêmio: ‘Em verdade te digo: hoje estarás comigo no Paraíso’ (Lc 23, 43).”

Dirigindo-Se à Santíssima Virgem, Jesus afirmou:

“Mulher, eis aí teu filho”. Depois disse ao discípulo: ‘Eis aí tua Mãe’. E dessa hora em diante o discípulo A levou para a sua casa” (Jo 19, 26-27).

“É arrebatador constatar como Jesus, numa atitude de grandioso afeto e nobreza, encerrou oficialmente seu relacionamento com a humanidade, na qual Se encarnara para redimi-la.

“Do auge da dor expressou o carinho de um Deus por sua Mãe Santíssima, e concedeu o prêmio para o discípulo que abandonara seus próprios pais para segui-Lo: o cêntuplo nesta Terra (cf. Mt 19, 29).

“É perfeita e exemplar a presteza com que São João assume a herança deixada pelo Divino Mestre: ‘E dessa hora em diante, o discípulo A levou para a sua casa’ (Jo 19, 27).”

Sede de almas

Em determinado momento, disse Nosso Senhor: “Tenho sede” (Jo 19, 28).

“Todos os intérpretes estão de acordo em dizer que Jesus sentia muita sede corporal, o que é explicável por ter vertido muito Sangue; mas isso era um símbolo da verdadeira sede d’Ele, que era a de almas. Sede da alma de cada um de nós.

“Ele nos conheceu individualmente, sabia como nos chamaríamos, como seríamos, como O injuriaríamos. Entretanto, conhecia também os momentos de bondade nos quais, Ele tocando nossas almas, nós nos arrependeríamos e voltaríamos para o bom caminho. Ele sabia de tudo e queria que nossas almas Lhe pertencessem. Quer dizer, que nossas almas Lhe fossem fiéis e a graça pudesse viver nelas.

“Foi por ter esta sede desmedida de almas que Ele sofreu também
desmedidamente e verteu seu Sangue sem nenhuma medida, desde o
primeiro instante em que no Corpo sacratíssimo d’Ele, enquanto agonizava no Horto das Oliveiras, começaram a estalar as primeiras veias e Ele principiou a suar Sangue.”

Consumado estava o edifício da Igreja

Disse em seguida o Redentor: “Tudo está consumado” (Jo 19, 30).

“Na Cruz foi vencida a guerra contra o demônio: ‘Agora é o juízo deste mundo; agora será lançado fora o príncipe deste mundo’ (Jo 12, 31).

“No Paraíso Terrestre, o demônio adquirira de modo fraudulento a posse deste mundo, com o pecado de nossos primeiros pais. Jesus a recuperou como legítimo herdeiro.

“Consumado também estava o edifício da Igreja. Este se iniciou com o batismo no Jordão, onde foi ouvida a voz do Pai indicando seu Filho muito amado, e se concluiu na Cruz, na qual Jesus comprou todas as graças que serão distribuídas até o fim do mundo através dos Sacramentos.”

E suas últimas palavras foram: “Pai, nas tuas mãos entrego o meu espírito” (Lc 23, 46).

“Jesus, porém, não tinha necessidade de encomendar sua Alma ao Pai, pois ela havia sido criada no pleno gozo da visão beatífica. Desde o primeiro instante de sua existência, encontrava-se unida à natureza divina na Pessoa do Verbo. Portanto, ao abandonar o Corpo sagrado, sairia vitoriosa e triunfante. ‘Meu espírito’, e não alma, provavelmente aqui significaria a vida corporal de Jesus.”

Golpe com uma lança desferido por Longino

Logo após a morte de Jesus, um soldado romano chamado Longino golpeou com uma lança o peito do Redentor e atingiu seu Coração, do qual “saiu Sangue e água” (Jo 19, 34).

O golpe produziu uma grande abertura, a tal ponto que São Tomé, depois da Ressurreição, nela colocou sua mão. Santo Agostinho afirma que da chaga do lado de Cristo formou-se a Igreja, como Eva foi constituída de uma costela de Adão.

“É em grande parte para perpetuar a lembrança deste mistério que a Igreja ordena a seus padres lançar algumas gotas de água no vinho do Santo Sacrifício.”

Longino arrependeu-se de seus pecados, converteu-se radicalmente e se tornou um santo. Sua memória celebra-se em 16 de outubro.

Por Paulo Francisco Martos

(in “Noções de História Sagrada” – 217)


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1- Cf. CORRÊA DE OLIVEIRA, Plinio. A beleza da luta II. In revista Dr. Plinio, São Paulo. Ano XVIII, -n. 211 (outubro 2015), p. 33.
2-CLÁ DIAS, João Scognamiglio. EP. O inédito sobre os Evangelhos. Vaticano: Libreria Editrice Vaticana; São Paulo: Instituto Lumen Sapientiae, 2013, v. VII, p. 345.
3- Idem, ibidem. v. VII, p. 347-348.
4- Idem, ibidem, v. VII, p. 349.
5- CORRÊA DE OLIVEIRA, Plinio. “Tenho sede”. In revista Dr. Plinio, São Paulo. Ano XX, n. 229 (abril 2017), p. 13-14.
6- CLÁ DIAS, João Scognamiglio. EP. Op. cit. 2013, v. VII, p. 352-353.
7- FILLION, Louis-Claude. La sainte Bible avec commentaires – Évangile selon S. Jean. Paris: Lethielleux. 1887, p. 357.

 

 

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