Há 11 anos, Padre Pedro Kasui era beatificado com seus 187 companheiros
Redação (Segunda-feira, 25-11-2019, Gaudium Press) Apesar do tempo borrascoso o dia 24 de novembro de 2008 foi um belíssimo dia para a Igreja Católica no Japão.
Neste dia, em Nagasaki, há exatos onze anos, foi celebrada a primeira beatificação em terras japonesas, na qual, não obstante o clima severo, tomaram parte cerca de 30.000 fiéis.
Como delegado do Papa estava o cardeal José Saraiva Martins, prefeito emérito da Congregação para as Causas dos Santos que lá estava para o reconhecimento 188 mártires japoneses que se juntaram aos 395 Beatos e 42 Santos com os quais a Igreja local já podia se orgulhar.
Nagasaki
Aquela foi a primeira vez que esta cerimônia estava sendo celebrada no Japão, em Nagasaki, exatamente onde vivem 60% dos católicos japoneses.
A cidade que, juntamente com Hiroshima, foi “mártir” na segunda Guerra Mundial sempre teve, também junto com Hiroshima, uma densidade grande de católicos entre seus habitantes, contrariamente ao que acontece nas outras cidades do Japão.
“kakure kirisitan”
A cerimônia foi realizada quando havia já muito tempo que terminara a era dos “kakure kirisitan”, os “cristãos escondidos” de um dos países onde os fiéis pagaram um dos mais altos preços em sangue da história recente e não só, como no caso dos 188, todos martirizados entre 1603 e 1639, em diferentes cidades.
Entre eles, o padre jesuíta Pedro Kasui Kibe, outros dois sacerdotes da Companhia de Jesus, um agostiniano e muitos, muitos leigos, incluindo nobres, camponeses, mulheres, até crianças muito pequenas, e mesmo famílias inteiras das quais as dioceses do país fazem memória litúrgica em 1º de julho de cada ano.
Padre Pedro Kasui, sonho e martírio
O padre Pedro nasceu em Urube, no Japão, apenas 38 anos após o desembarque de São Francisco Xavier no país em 1549.
Seus pais eram convertidos de primeira geração de católicos japoneses.
Inscreveu-se com seu irmão no Seminário e, após seis anos de estudos, pediu para entrar na Companhia de Jesus, mas lhe foi negado.
No entanto, em 1614, o Shogun Tokugawa emitiu um decreto com o qual foram expulsos todos os sacerdotes e religiosos do país.
Assim, ele foi forçado a buscar refúgio em Macau.
Quando também lá foi fechado o Seminário jesuíta, Pedro empreendeu uma viagem aventureira que o levou primeiro a Goa, na Índia, e dali, a pé pela antiga Rota da Seda, chegou à Terra Santa.
Depois de ter visitado os lugares onde Jesus viveu, chegou a Roma para pedir, finalmente, sua ordenação ao Padre Geral, padre Claudio Aquaviva que, impressionado, o acolhe no Seminário diocesano. Uma semana mais tarde, é ordenado na Basílica São João de Latrão.
Em 1623 partiu novamente, ansioso para levar a Palavra do Senhor aos irmãos japoneses.
Sete anos depois, junto com outros dois companheiros, conseguiu retornar clandestinamente ao país, vindo a se estabelecer perto de Osaka.
Em 1639 foi preso em Honshu e de lá transportado para Edo – a atual capital Tóquio – onde, tendo se recusado a abjurar de sua fé, foi morto com horríveis torturas em uma fossa de esgoto.
O martírio do samurai com a Cruz
A mesma sorte do padre Kasui estava reservada a outros dois jesuítas:
Giuliano Nakaura, que por 19 anos trabalhou como missionário escondido no Japão e Diogo Yuri Ryosetsu, membro da antiga família do Shogun Ashikaga, que viajou por todo o país para encorajar os cristãos e converter os outros, entrando até mesmo em prisões para levar os Sacramentos aos prisioneiros.
Mas, não eram apenas Jesuítas que ali se santificaram.
Há também um agostiniano, Thomas Jihyoe, nome de batalha “Kintsuba”, que secretamente evangelizou no vale com o mesmo nome.
Todos testemunhas da Igreja “ide e anunciai”, da realidade da Igreja missionária, que às vezes também é a Igreja de sangue, como recordou 10 anos atrás, aos microfones da Rádio Vaticano, o prefeito emérito da Congregação para as Causas dos Santos, cardeal José Saraiva Martins:
“É interessante recordar que entre esses mártires japoneses há famílias inteiras – observou ele -, portanto, é uma mensagem para a família de hoje que é obrigada a testemunhar a fé, a vivê-la em profundidade, pais e filhos, como uma verdadeira Igreja doméstica”.
O Japão dos Shoguns até hoje
Não era um contexto fácil em que viviam os primeiros cristãos japoneses de 1600.
Naturalmente, havia estrangeiros no país que iam para lá por razões econômicas, mas em relação a toda a cultura ocidental e, portanto, também em relação à religião católica, existia uma desconfiança natural que eclodiu, mais tarde, em uma perseguição declarada após um período inicial de tolerância e até de florescimento.
A crueldade não poupou mulheres e crianças, mortas como verdadeiros mártires, “in odium fidei” simplesmente porque eram cristãos. Aos sacerdotes e religiosos, como vimos, era pedido sob tortura que renegassem sua fé, à qual haviam se consagrado, e as execuções, mesmo em sua truculência, eram públicas porque precisavam servir de advertência ao resto da população.
Somente alguns séculos mais tarde os sacerdotes puderam retornar ao Japão sem medo e, desde então, a presença jesuíta é muito forte, tanto que até o padre Pedro Arrupe – superior geral da Companhia de Jesus de 1965 a 1983, passou muito tempo na Terra do Sol Nascente.
(Da Redação Gaudium Press, com informações Vatican News)
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