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Flagelado e coroado de espinhos, mas com majestade do Rei

Redação (Terça-feira, 29-10-2019, Gaudium Press) Pilatos declarou que não havia encontrado nenhuma culpa em Nosso Senhor. Entretanto, com medo de perder seu cargo, ele mandou que o Redentor fosse açoitado.

Flagelado e coroado de espinhos, mas com majestade do Rei.Foto Gaudium Press.jpg

Reparar os pecados de sensualidade

Então, os soldados do governador romano arrancaram a roupa de Jesus (cf. Mt 27, 28).

Comenta Monsenhor João Clá:
“Sendo Nosso Senhor Jesus Cristo o arquétipo de toda a humanidade, seu senso de pudor é o mais excelente possível. Que deve ter sentido Ele em seu interior quando passou por extremo tão horroroso?! Ele permitiu tal humilhação para reparar os pecados de sensualidade. Quantos desvios há por vaidade, por ostentação na indumentária, por extravagância das modas!

“Por causa disso, quanta perda do senso moral e do pudor! E nós, como controlamos nossa sensualidade? Esforçamo-nos por evitar as ocasiões próximas de pecado?”

E Dr. Plinio Corrêa de Oliveira afirma:
A “vestimenta sagrada [do Divino Salvador] era a túnica inconsútil – que não tem costura -, a qual havia sido tecida por Nossa Senhora, e não tinha sujeira nenhuma, pois o Corpo divino só podia irradiar a mais alva limpeza.

“Por um ato de vontade do Redentor, nada podia macular esta túnica, e os verdugos jogam-na ao chão, com raiva. Ele pensa nas mãos de Nossa Senhora que a teceram, mas nada diz: era mais uma dor que Nosso Senhor queria sofrer.”

Gemidos de dor mais harmoniosos que os sons de qualquer orquestra

Então, os verdugos começaram a flagelar o Redentor. Os açoites eram feitos de tiras de couro, munidos de pontas de ferro, fragmentos de ossos ou bolas de chumbo; rasgavam a pele e as carnes voavam em pedaços.

“Levam-No para junto de uma coluna e, certamente com bofetadas, empurrões, gargalhadas, amarram aquela corda que prendia suas mãos em alguma argola da coluna – porque assim se faziam as flagelações. E aqueles homens – que homens! -, com terríveis açoites, começam a fustigá-Lo com toda a força, e Ele a gemer.

“Podemos imaginar a doçura, a beleza harmoniosa desse gemido, aquele Corpo santíssimo que se contorcia de dor, pela brutalidade do tormento que estava sofrendo; pedaços de carne caíam ao solo: eram carnes do Homem-Deus! Seu Sangue salvador corria aos borbotões. […]

“Se algumas pessoas chegassem perto do lugar onde Jesus estava sendo flagelado, ouviriam lancinantes gritos de dor d’Ele. Mas esses gritos eram mais harmoniosos e mais bonitos que os sons de qualquer orquestra, mais atraentes que as exclamações de qualquer orador, por mais famoso que fosse.

“Ele naquela púrpura de seu Sangue, jorrando sobre todo o seu Corpo sagrado, era mais majestoso do que um rei na púrpura de seu manto real. Os carrascos viam isso e O flagelavam porque queriam a vulgaridade, a indecência, a imoralidade. Então mais flagelavam, e Jesus gemia.

“Gemia por seu Corpo sagrado – um homem geme quando sente isso -, porém muito mais por causa das almas tão ruins que O açoitavam, como Ele via o que aconteceria até o fim dos séculos Nosso Senhor nos olharia passando […] indiferentes aos gemidos, às dores d’Ele, e diria: ‘Até vós, a quem Eu chamei para um amor especial? Vós ouvis os meus gemidos, Me contemplais coroado de espinhos, como em outros episódios da minha Paixão, e também sois indiferentes!’ E Jesus dando brados e gemidos por causa de nossa indiferença. […]

“Terminada a flagelação, mandaram-No – os tempos eram de mais pudor do que os de hoje – apanhar a túnica. Com dores inimagináveis devido aos movimentos, Ele foi buscá-la e a revestiu, sabendo que iria começar a Via Crucis. Quer dizer, Ele entrava em outra sequência enorme de tormentos de toda ordem.”

Sofreu tudo com mansidão

Em determinado momento, os algozes colocaram na Sagrada cabeça do Redentor uma coroa de espinhos e um pau em sua mão direita, à guisa de cetro (cf. Mt 27, 29). “E começaram a saudá-Lo: ‘Salve, rei dos judeus! ‘ Batiam na sua cabeça com uma vara, cuspiam n’Ele e, dobrando os joelhos, se prostravam diante d’Ele” (Mc 15, 18-19).

Essa coroa cobria toda a parte superior da cabeça, à maneira de um capacete, e os golpes violentos que eram desferidos faziam que os espinhos penetrassem nela. Jesus recebeu esse indigno tratamento “com a nobreza e dignidade de um rei”.

Como precisaríamos contemplar essa cena?

“Nosso Senhor coroado de espinhos deveria ser visto com uma forma de majestade, que não seria apenas a majestade do Profeta, habitualmente representada, mas também a majestade do Rei. E, portanto, com algo que lembraria uma invisível coroa de Imperador do Sacro Império, uma dignidade de Imperador do Sacro Império, injuriada e questionada ali, mas realmente presente. “

“Três espinhos dessa coroa sagrada foram parar em mãos de São Luís IX, Rei de França, que para abrigá-los devidamente mandou construir um dos mais belos monumentos da arte medieval e, portanto, de toda a História: a Sainte-Chapelle, verdadeira caixa de cristal com nervuras de granito, onde se celebra o Santo Sacrifício.”

E Jesus sofreu todos esses horrores por amor a cada um de nós, sem Se queixar, como foi profetizado por Isaias: Sicut oves ad occisionem ducetur […], non aperiet os suum – Assim como a ovelha conduzida ao matadouro […], Ele não abriu a boca (Is 53, 7).

Quer dizer, “Ele se deixou estraçalhar, com mansidão. Desta mansidão nasceram todas as mansidões da Terra, e com ela a Igreja conquistou o mundo.

Está escrito: ‘Bem-aventurados os mansos, porque possuirão a Terra’ (Mt 5, 5).”

 

Por Paulo Francisco Martos

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1- CLÁ DIAS, João Scognamiglio. EP. O inédito sobre os Evangelhos. Vaticano: Libreria Editrice Vaticana; São Paulo: Instituto Lumen Sapientiae, 2013, v. VII, p. 339-340.

2- CORRÊA DE OLIVEIRA, Plinio. O Homem-Deus – II. In revista Dr. Plinio, São Paulo. Ano XIII, n. 152 (novembro 2010), p. 18.
3- Cf. FILLION, Louis-Claude. La sainte Bible avec commentaires – Évangile selon S. Matthieu. Paris: Lethielleux. 1895, p. 541.
4- CORRÊA DE OLIVEIRA, Plinio. O Homem-Deus – II. In revista Dr. Plinio, São Paulo. Ano XIII, n. 152 (novembro 2010), p. 18. Divina seriedade de Nosso Senhor. Ano XXI, n. 240 (março 2018), p. 12-13.
5- FILLION, op. cit., p. 543.
6- CORRÊA DE OLIVEIRA, Plinio. Nossa Senhora e a tradição da Igreja. In revista Dr. Plinio, São Paulo. Ano XVI, n. 185 (agosto 2013), p. 24.
7- Idem. “Tu o dizes. Eu sou Rei!” In revista Dr. Plinio. Ano XVIII, n. 212 (novembro 2015), p. 16.
8- Idem. Conferência. São Paulo. 12-7-1973.

 

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