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Nosso Senhor suou Sangue

Redação (Sexta-feira, 27-09-2019, Gaudium Press) Terminada a sublime prece dirigida a Deus Pai – chamada Oração Sacerdotal -, Nosso Senhor saiu do Cenáculo e, cantando um hino, dirigiu-Se com os Apóstolos ao Horto das Oliveiras.

Começou a sentir pavor e angústia

Ao chegar ali, o Redentor escolheu Pedro, Tiago e João – os mesmos que haviam assistido à Transfiguração, no Tabor – para acompanhá-Lo numa parte mais retirada.

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Jesus, então, “começou a sentir pavor e angústia” (Mc 14, 33) e disse aos três Apóstolos “Ficai aqui e vigiai!” (Mc 14, 34). Foi sozinho um pouco mais adiante, ajoelhou-Se e pediu a Deus Pai que, se fosse possível, afastasse d’Ele o cálice da dor, mas que não se fizesse sua vontade e sim a do Padre eterno.

Quando voltou, encontrou os Apóstolos dormindo. “Então disse a Pedro: ‘Simão, estás dormindo? Não foste capaz de ficar vigiando uma só hora? Vigiai e orai, para não cairdes em tentação! O espírito está pronto, mas a carne é fraca.’

“Jesus afastou-Se outra vez e orou, repetindo as mesmas palavras. Voltou novamente e encontrou-os dormindo. […] Ao voltar pela terceira vez, Ele lhes disse: ‘Ainda dormis e descansais? Basta! Chegou a hora! Vede, o Filho do Homem está sendo entregue às mãos dos pecadores. Levantai-vos! Vamos! Aquele que vai Me entregar está chegando'” (Mc 14, 37-42).

Gotas de Sangue rolam pelo solo

São Lucas acrescenta que, enquanto o Redentor orava, gotas de seu Sangue caiam no chão (cf. Lc 22, 44).

Comenta Dr. Plinio Corrêa de Oliveira:

“De todos os seus poros o Sangue começa a brotar. A Ciência moderna explica que a perspectiva de dores e sofrimentos atrozes pode provocar no organismo essa transpiração de sangue. E foi o que se passou com Jesus: sem ninguém ter tocado n’Ele, a previsão dos tormentos Lhe arrancou o primeiro sangue.

“Ele sente em si a incapacidade de sua natureza humana e suplica: ‘Meu Pai, meu Pai, se é possível afaste de Mim esse cálice, mas – é a vitória da lógica – faça-se em Mim a vossa vontade e não a minha.’ É como se Ele dissesse: ‘Eu não sei como prosseguir, não tenho forças para a enormidade da Cruz que devo carregar, porém uma coisa não farei: é pô-la de lado. Cumprirei a vontade de meu Pai!’

“E o Padre Eterno poderia ter dito: ‘Meu Filho, contento-me com seu oferecimento, e O dispenso da Paixão!’ Não o fez. Mandou um Anjo para consolá-Lo, sem remover o sofrimento do caminho d’Ele! Jesus se sentiu fortificado. E compreendeu na sua natureza humana – na divina Ele o sabia desde todo o sempre – que não havia volta atrás.”1

Os sofrimentos da alma são mais intensos que os do corpo

“O homem sofre mais na alma do que no corpo. Esta é a razão pela qual, de todos os episódios da Paixão de Nosso Senhor Jesus Cristo, eu tenho uma veneração mais profunda e mais fácil pela agonia no Horto, porque ali Ele, a bem dizer, sofreu sua crucifixão psicológica, sua crucifixão moral.

“O Redentor previu tudo quanto se faria com Ele até o fim e aceitou. E ali mesmo teve que Se sujeitar inclusive ao sono e à infidelidade dos Apóstolos; e depois veio todo o resto.

“Este sofrimento foi tão grande que Ele suou sangue. O Evangelho diz que Jesus começou a sentir tédio, quer dizer, aridez, e pavor diante do que ia acontecer, e chegou a suar sangue, que é uma das manifestações mais terríveis de sofrimento moral.” 2

O Redentor derramou lágrimas e suou sangue porque viu todos os pecados cometidos pelos homens antes, durante e após sua vinda a este mundo. “Ele chorou pelo ódio de todos os maus, de todos os Arios, Nestórios, Luteros, mas chorou também porque via diante de si o cortejo interminável das almas tíbias, das almas indiferentes que, sem O perseguir, não O amavam como deviam.” 3

O sono culposo dos Apóstolos simboliza a moleza, superficialidade, mediocridade, em que se encontram muitos católicos hoje em dia face às ofensas praticadas contra Deus. Somente se preocupam com suas comodidades, seus interesses e prazeres.

“Sou Eu”

Tendo saído dali, Jesus deparou-Se com um bando de soldados romanos e de guardas dos sumos sacerdotes e dos fariseus, encabeçados por Judas. Era noite. Eles traziam tochas, espadas e paus.

O Divino Mestre perguntou-lhes: “‘A quem procurais?’ ‘A Jesus nazareno’, responderam. Ele disse: ‘Sou Eu'”. Eles, então, “recuaram e caíram por terra” (Jo 18, 4-6).

Afirma Monsenhor João Clá:

“Ao declarar ‘Eu sou’, o Divino Mestre quis tornar patente que se quisesse podia suspender a Paixão naquele ato, fazendo os soldados, juntamente com Pilatos, Herodes e o Sinédrio, voltarem ao nada.

“Para acentuar ainda mais essa nota de onipotência, Ele mesmo diz a São Pedro: ‘Crês tu que não posso invocar meu Pai e Ele não Me enviaria imediatamente mais de doze legiões de Anjos?’ (Mt 26, 53). A Paixão inicia-se, pois, com uma manifestação grandiosa da divindade de Jesus Cristo.” 4

Com uma espada, São Pedro corta uma orelha de Malco

São Pedro, que portava uma espada, puxou-a da bainha e cortou uma orelha de um servo do sumo sacerdote, chamado Malco. Então, Jesus ordenou ao Apóstolo que guardasse seu gládio, e em seguida recolocou a orelha do servo (cf. Jo 18, 10; Lc 22, 51).

“O Mesmo que aterroriza, consola. O Mesmo que fala com voz insuportável para os tímpanos, reintegra uma orelha cortada.

“Não há nisto, para nós, algum ensinamento?

“Nosso Senhor é sempre infinitamente bom, e foi bom quando disse aos que O procuravam que era Ele Jesus de Nazaré, como foi bom quando consertou a orelha de Malco.

“Se queremos ser bons, devemos imitar a bondade de Nosso Senhor e aprender com Ele que há momentos em que é preciso saber prostrar por terra com santa energia os inimigos da Fé, como há ocasiões em que é preciso saber curar os próprios males daqueles que nos fazem mal.” 5

Por Paulo Francisco Martos

1 CORRÊA DE OLIVEIRA, Plinio. O sibarita, o herói e o Mártir do Gólgota. In revista Dr. Plinio, São Paulo. Ano VI, n. 68 (novembro 2003), p. 16.
2 Idem. Ser perseguido por amor à justiça. In revista Dr. Plinio. Ano XIV, n. 159 (junho 2011), p. 28.
3 Idem. A cena do Horto se repete. In revista Dr. Plinio. Ano V, n. 48 (março 2002), p. 9.
4 CLÁ DIAS, João Scognamiglio. EP. O inédito sobre os Evangelhos. Vaticano: Libreria Editrice Vaticana; São Paulo: Instituto Lumen Sapientiae, 2013, v. VII, p. 336.
5 CORRÊA DE OLIVEIRA, Plinio. A hora do beijo. In revista Dr. Plinio, São Paulo. Ano III, n. 25 (abril 2000), p. 16.

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