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Catequese sobre os sacramentos (II)

Um Sacramento é uma coisa sensível, instituída por Jesus Cristo para significar e produzir a graça.

Sacramento do matrimonio

Foto: Cathopic/Hopefootage.

Redação (31/01/2024 12:54, Gaudium Press) Concluímos o tema dos sacramentos segundo os escritos do Padre Andrés Azcárate, OSB. Este artigo terá, como o anterior, um perfil didático em vista do desconhecimento bastante generalizado sobre a matéria:

Doutrina dos Sacramentos

1. Definição. Um Sacramento é uma coisa sensível, instituída por Jesus Cristo para significar e produzir a graça. Uma coisa sensível não significa apenas uma coisa material (água, óleo, etc.), mas também tudo o que se enquadra nos sentidos (palavras, gestos, etc.).

Esta coisa sensível foi instituída por Jesus Cristo, não inventada pela Igreja, embora esteja acompanhada de ritos e cerimônias apropriados. Essa coisa sensível significa, isto é, representa a inteligência, através de um rito externo, o que produz, ou seja, a graça santificante.

2. Número. São sete, e isto por uma certa razão de congruência tirada da proporção e conveniência que existe entre a vida natural e a espiritual. Em ambos há um nascimento (Batismo), um crescimento (Confirmação), uma nutrição (Eucaristia), uma restauração da vida e da saúde (Unção dos Enfermos), uma renovação constante da sociedade (Matrimônio) e um governo que administra e dirige (Ordem Sagrada).

Destes sete, os cinco primeiros visam o bem do indivíduo e os outros dois visam o bem da sociedade espiritual. Por ordem de dignidade, a Eucaristia é o primeiro e, segundo São Tomás, todos os outros estão ordenados a este como ao seu fim.

Nenhum dos sete é supérfluo, mas nem todos são igualmente necessários. O Batismo é absolutamente necessário para todos, assim como a Penitência para aqueles que, depois de batizados, pecaram mortalmente. A Eucaristia, a Confirmação e a Unção, em si, são apenas relativa e moralmente necessárias, já que sem elas é difícil salvar-se. A Ordem e o Matrimônio são necessários para a sociedade em geral, mas não para cada indivíduo em particular.

3. Matéria e Forma. Todos os Sacramentos consistem de duas partes essenciais: coisas e palavras; ou, mais propriamente, de matéria e de forma. A matéria são as coisas ou atos externos e sensíveis que servem para conferir o Sacramento; a forma são as palavras que o ministro utiliza na aplicação da matéria, cujo significado precisam.

4. Efeitos. Todos os Sacramentos conferem aos que não colocam obstáculo, dois tipos de graça: a graça santificante e a graça sacramental, e três deles também imprimem um caráter.

a) A graça santificante ou habitual é o que justifica o homem na ordem sobrenatural e o torna filho adotivo de Deus. Se esta graça se infunde naqueles que não a possuem, é chamada de graça primeira, e se acrescenta àqueles que já a possuem, é chamada de graça segunda. Como finalidade primeira da sua instituição, o Batismo e a Penitência conferem a graça santificante primeira, razão pela qual são chamados de “sacramentos dos mortos”, isto é, sacramentos instituídos em favor dos que estão mortos espiritualmente. Os cinco restantes, por si só, conferem a graça santificante segunda e, porque supõem vida espiritual naqueles que os recebem, são “sacramentos dos vivos”.

Acidentalmente, os sacramentos dos “mortos” conferem, algumas vezes, a graça segunda; e por outro lado, segundo a mais comum e provável sentença dos teólogos, os sacramentos dos “vivos” podem conferir a graça primeira. Com relação à Unção isto é moralmente certo; quanto aos demais sacramentos, os autores discordam.

b) A graça sacramental é a graça própria e especial de cada Sacramento, ou seja, aquele auxílio divino necessário para alcançar a finalidade peculiar de cada Sacramento. Este divino auxílio se traduz em um cúmulo de dons e de graças atuais que Deus vai outorgando aos interessados em diferentes momentos da vida, seja ao receber o Sacramento, seja depois, à medida que deles necessitam.

c) O carácter é um sinal espiritual e indelével que é impresso na alma de quem recebe certos Sacramentos. São eles: o Batismo, a Confirmação e a Ordem Sagrada, pelos quais o homem é feito, respectivamente: cristão, soldado e ministro de Cristo.

O caráter cristão (Batismo) nos habilita para receber as coisas sagradas; a de soldado (Confirmação), para defendê-las pública e oficialmente contra os perseguidores da Fé; e o de ministro (Ordem), para confeccioná-las e administrá-las. Pelos primeiros, participamos de modo geral no sacerdócio de Cristo, tornando-nos sacerdotes em um sentido amplo e impróprio; pelo terceiro, no sentido próprio e verdadeiro.

Esse caráter triplo é indelével nesta vida e na próxima; “na outra”, diz São Tomás, “para a glória dos bons e para ignomínia dos maus”. Nenhum destes três Sacramentos pode ser recebido duas vezes na vida.

5. Ministro. O principal ministro de todos os Sacramentos é Jesus Cristo, em cujo nome e autoridade obram os ministros secundários ao administrá-los. Estes são o Bispo, o Sacerdote e o Diácono.

6. Sujeito. O sujeito de um Sacramento é a pessoa a quem ele é administrado. Tenha-se em mente esta gradação: a) Só o ‘homo viator’ (uma pessoa viva) é sujeito apto aos sacramentos. b) Todo ‘homo viator’ é um sujeito capaz do Batismo. c) Só o batizado é sujeito apto para os demais sacramentos. d) Nem todo batizado é sujeito apto para qualquer Sacramento.

***

Para concluir, digamos algo que o Padre Azcárate não diz expressamente em seu livro – não é o seu tema específico – mas que sem dúvida o supõem e compartilharia conosco: uma vez que Maria Santíssima é a medianeira universal de todas as graças pela vontade de Deus, Ela o é das graças sacramentais.

Por Padre Rafael Ibarguren EP – Conselheiro de Honra da Federação Mundial das Obras Eucarísticas da Igreja.

Traduzido por Emílio Portugal Coutinho

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