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A pior guerra de todos os tempos

Mal deixamos de acompanhar a cobertura da Guerra da Ucrânia, que continua em curso mas cessou de figurar nos noticiários e nos sobrevém a notícia de um ato terrorista e o início de uma nova guerra envolvendo israelenses e palestinos. Até onde a belicosidade humana irá nos levar?

Hamas angriber Israel 7. oktober 2023

Redação (19/10/2023 09:31, Gaudium Press) Como todos, tenho acompanhado as tristes notícias sobre mais um sangrento conflito no Oriente Médio, cujas proporções podem se sobrepor aos conflitos anteriores e provocar a morte de uma quantidade inimaginável de militares e civis.

Pessoas que estão em suas casas, levando as suas vidas e, de um momento a outro, veem tudo desmoronar devido às bombas que caem. Alguns enfrentam um ataque ainda pior; homens violentos invadem as suas casas, agarram as suas mulheres e os seus filhos e matam a todos, decepando-lhes as cabeças, numa ação terrorista sem precedentes.

Alguém comentou num programa de TV que os combatentes que têm esse tipo de atitude são piores que os animais. Eu, porém, não vejo ponto de comparação. Não existe animal que faça algo assim. Animais ferozes matam para se alimentar, não decapitam suas presas por maldade ou para demonstrar força, crueldade e intrepidez.

Quem merece o seu apoio, o Hamas ou Israel?

Antes que me acusem de estar tomando partido por criticar o Hamas e defender Israel, já me retrato, porque a proporção dos contra-ataques israelenses, considerando o seu poderio bélico, será tão grave ou até pior que os ataques da milícia terrorista, e o presidente de Israel deixou isto bem claro em sua primeira declaração após a tragédia dos atentados de 7 de outubro: “Estamos em guerra e vamos vencer. O inimigo pagará um preço que nunca conheceu”.

Quando o ódio se torna a moeda de troca, não há limites para a destruição. Soldados – oficiais ou clandestinos – são pessoas preparadas para matar ou morrer. Cidadãos comuns, não. E essa “escolha de lado para apoiar” é um dos piores aspectos dessa guerra que, infelizmente, atinge a cada um de nós.

É racional e humano concordar que os remanescentes do povo hebreu pudessem voltar para casa, voltar para a terra da promessa, objeto da aliança entre Deus e Abraão e conquistada pelos filhos de Jacó, liderados por Moisés. Mas precisamos entender também que, durante todo o tempo que este povo esteve impedido de voltar para a sua terra, outras pessoas ocuparam aquele lugar, uma nação ali se desenvolveu.

Os palestinos que hoje habitam o território que lhes foi destinado após a criação do Estado de Israel também têm direito àquela terra, pois eles e seus ancestrais nasceram ali. Foram mais de 1.800 anos até que os judeus retornassem. São 18 séculos e muitas coisas acontecem em 18 séculos.

Dessa forma, tanto uns quanto outros estão certos e, tanto uns quanto outros estão errados nesse desentendimento que remonta ao nascimento dos filhos de Abraão, Isaac e Ismael. Um dando origem ao povo hebreu e outro, ao povo árabe, dos quais fazem parte os ocupantes da Cisjordânia e da Faixa de Gaza. Uma situação que o mundo inteiro torce para que se resolva pacificamente. No entanto, os excessos de um grupo extremista colocam em risco tanto os seus inimigos quanto os seus próprios irmãos.

Comentários cruéis

É óbvio que a guerra entristece, que as imagens que a televisão e a internet mostram continuamente estarrecem, contudo, sabe o que mais me causa pesar? Os comentários estúpidos que são feitos. Aqui e em muitas partes do mundo, pessoas que estão seguras em suas casas, com comida na mesa, energia elétrica, trabalho, liberdade religiosa, com os seus familiares junto de si, podendo desfrutar de repouso e lazer, neste momento difícil, olham para a desgraça provocada pela guerra e emitem opiniões deploráveis.

A diferença entre quem pega numa arma e mata o seu semelhante e quem faz comentários cruéis a respeito das vítimas desse conflito é apenas a arma. Enoja-me ver políticos oportunistas no palco das redes sociais usando a desgraça de milhões de pessoas para fazer campanha, criticar adversários e se autopromover. Nós sabemos que, mesmo com tanta gente morrendo ou ficando desabrigada, decisões estratégicas, fora da Palestina, serão calculadamente tomadas visando efeitos em eleições futuras.

Nessa guerra, para nós que estamos fora e distantes dela, não há lado, a não ser o lado da razão, o lado da fé, o lado de quem dobra os joelhos e reza.

A pior de todas as guerras

Eu já li comentários de pessoas dizendo que os judeus merecem estar passando por isso ou que Israel tem mesmo que exterminar os palestinos que ocupam a Faixa de Gaza. Há pessoas que, se comerem um pastel estragado na feira e tiverem uma intoxicação, vão parar no hospital em desespero, achando que vão morrer. Como é que pessoas assim podem falar tais atrocidades de gente que convive diariamente com o risco de atentados e de guerras? Quem não aguenta uma unha encravada não tem o direito de abrir a boca para ofender aqueles que nascem e morrem convivendo com o terror!

Sobre esse assunto, eu nem me alongarei muito, porque a minha opinião também não é importante, pelo simples fato de ela não fazer a menor diferença dentro da dimensão desse conflito.

O que tenho a dizer, diante desse lamentável cenário, é que existe uma guerra muito pior do que a guerra da Ucrânia ou a guerra entre o Hamas e Israel: é a guerra entre o bem e o mal. Esta, está ao nosso redor e, diante dela, nenhum de nós fica imune: somos vítimas, oponentes ou impulsionadores.

Uma milícia que não enfrenta oposição

Como diz São Paulo em sua carta aos Efésios, “não é contra a carne e o sangue que temos que lutar”, graças a Deus, porque esses valentões de plantão que gastam o seu tempo em grupos de discussão ou em listas de comentários para acusar judeus ou palestinos não aguentariam um milésimo do que sofre aquela população, de ambos os lados. Nossa luta é “contra principados e potestades, contra os príncipes deste mundo tenebroso, contra as forças espirituais do mal espalhadas pelos ares.” (Ef 6,12).

Lamentavelmente, essa milícia espiritual enfrenta muito menos resistência do que os soldados de Israel ou os militantes do Hamas, porque aqueles que vivem na soberania do conforto e nos domínios supérfluos das mídias digitais não opõem nenhuma dificuldade abrem suas casas, expõem as suas famílias e se curvam, submissos, à força de Satanás que faz prisioneiros em todas as partes do mundo. Prisioneiros que vão para o inferno cantando alegremente porque, para eles, o problema são os outros, os errados são os outros. Demonstram um desprezo à fé, um desrespeito ao próximo e uma fraqueza tão repugnante que o próprio demônio os deve desprezar.

Neste momento, se nossa posição política ou estratégia nos permitir fazer algo de concreto em favor dessas populações sob o domínio do terror, façamo-lo, mas, se não for o caso, devemos respeitar quem está em posição de fazer, apanhar nossos rosários e intensificar as nossas orações para que os inocentes possam ser amparados, para que corredores humanitários sejam abertos e os cidadãos possam receber a ajuda e o abrigo que necessitam.

Quando, meu Deus, essa humanidade vai acordar? Serão necessários bombas e mísseis sobre as nossas cabeças para entendermos o tamanho e a gravidade da guerra espiritual na qual estamos inseridos?

Por Afonso Pessoa

 

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