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A Vítima que se dá em alimento

Redação (Quarta-feira, 09-01-2013, Gaudium Press) Publicamos hoje a “Mensagem do Assistente Eclesiástico” do movimento “Mundialis Foederatio Operum Euchatisticorum Ecclesiae” , Padre Rafael Ibarguren, EP, sobre a Eucaristia:

A Eucaristia é um sacrifício ou um banquete? Mais de uma vez ouvimos a afirmação de que é uma ou outra coisa, e, às vezes, em oposição excludente. Temos que precisar a resposta com o máximo cuidado de não desvirtuar em nada o tesouro da Eucaristia, que é “fonte e cume de toda a vida cristã” (Lumen Gentium 11).eucaristia.jpg

Antes de tudo, é bom dizermos que com a palavra Eucaristia pode-se referir indistintamente tanto à celebração da Santa Missa como à presença real que se adora e que se recebe em comunhão.

Vamos tomar a acepção que se refere à celebração eucarística, a nossa Missa, e veremos se a Missa é um sacrifício, se é um banquete, se é ambas as coisas e se o é em igual ou diferente dimensão.

A celebração eucarística é antes de tudo um sacrifício. Realiza-se sobre um altar, que é o lugar próprio onde se imolam as vítimas. Subsidiariamente, é também um banquete em que Cristo se da em alimento. Porém a nota dominante da celebração eucarística é o fato de ser um sacrifício.

Diz o Catecismo da Igreja Católica no número 1323, citando a “Sacrosanctum Concilium” n° 47, do Concilio Vaticano II: “Nosso Salvador, na última Ceia, na noite, em que foi entregue, instituiu o sacrifício eucarístico de seu corpo e seu sangue para perpetuar pelos séculos, até sua volta, o sacrifício da cruz e confiar assim sua Esposa amada, a Igreja, o memorial de sua morte e ressurreição; sacramento de piedade, signo de unidade, vínculo de amor, banquete pascoal no qual se recebe a Cristo, a alma se enche de graça e se nos dá o penhor da gloria futura”.

Esta aproximação com o mistério eucarístico põe em relevo o aspecto sacrifical:

1.- Nos fala de “a noite em que foi entregue”, quer dizer, em que foi traído, julgado, flagelado e, finalmente, sacrificado;

2.- Nos fala também da instituição do “sacrifício eucarístico de seu corpo e de seu sangue”, desse corpo que será entregue e desse sangue que será derramado como sacrifício propiciatório para o perdão dos pecados;

3.- Nos diz que a instituição da celebração é para “perpetuar o sacrifício da cruz”, ou seja, a imolação de sua Pessoa que se entregou à morte; e

4.- Que é instituído para “confiar a sua Igreja o memorial de sua morte e ressurreição”, em outros termos, para fazer presente em todo tempo, o mistério pascoal: morte e ressurreição de Cristo.

Todo culto religioso, seja católico ou não, comporta um sacrifício ou oblação, e não existe sacrifício sem sacerdote que tenha a função de oferecê-lo. Religião e sacerdócio são termos que pedem, que exigem sacrifício.

A Antiga Aliança tinha seus sacrifícios rituais. A Nova só tem um que se consumou de uma vez para sempre na cruz: o corpo e o Sangue do Senhor.

São Paulo escreve aos hebreus e explica a novidade cristã: “Irmãos: quando Cristo entrou no mundo disse: “Tu não queres sacrifícios nem oferendas, porém me preparastes um corpo; não aceitas holocaustos nem vítimas expiatórias. Então eu disse o que está escrito no livro: ‘Aqui estou eu para fazer tua vontade.”‘ Primeiro disse: “Não queres nem aceitas sacrifícios nem oferendas, holocaustos nem vítimas expiatórias”, que se oferecem segundo a Lei. Depois acrescenta: “Aqui estou eu para fazer sua vontade.” Nega o primeiro, para afirmar o segundo. E conforme a essa vontade todos ficamos santificados pela oblação do corpo de Jesus Cristo, feita uma vez para sempre”. (Heb. 10, 5-10)

O sacrifício do Calvário é, pois, um sacrifício de redenção, já que Jesus, oferecendo-se ao Pai e morrendo por nós, pagou com acréscimos o resgate por nossas maldades e nos salvou. E a Missa é o mesmo sacrifício da cruz com todo seu valor infinito, já que é o mesmo Sacerdote que oferece e é a mesma Vítima que é oferecida.

Porém, o sacrifício da Nova Aliança que já foi consumado. Isso não bastou? O que acrescenta a Missa ao já acontecido? Por que celebrar então a Eucaristia? Por três razões:

1) Para inserir o sacrifício de Cristo em nosso tempo do qual Ele saiu por sua Ressurreição e ascensão à direita do Pai, e introduzir-nos na celestial e eterna.santa_ceia.jpg

2) Para por à disposição e aplicar os méritos de Cristo às pessoas que assistem e nos lugares que se celebra, propiciando assim, constantemente, a eficácia e fecundidade do sacrifício do Calvário.

3) Para dar ao sacrifício da Cruz um carácter ritual e de cerimônia sagrada àquilo que, odiosa e sacrilegamente, perpetraram os que foram artífices da morte do Redentor.

Há no Sacrifício de Cristo, então, não só o momento do Calvário, senão que um pré e um pós Calvário: O pré Calvário se dá no Cenáculo onde se institui a Eucaristia no curso da última ceia; no Calvário se consume o sacrifício de forma cruenta, quer dizer, com o derramamento de todo Seu sangue. E o pós Calvário é, precisamente, o Sacramento Eucarístico que perpetua o sacrifício até o fim do mundo de maneira incruenta, em cada “banquete pascoal”.

Então, a Missa é sacrifício ou é banquete?

É sacrifício oferecido ao Pai que, num excesso de amor pelos homens, desdobra-se em alimento. Na Eucaristia adoramos a Vítima que se faz alimento; só que já com seu corpo em estado glorioso, como está no céu, e não mais padecente.

Que admirável mistério! Sejamos cuidadosos em não distorcer a fé ou piedade, opondo o banquete ao sacrifício. Há alguns meses o Papa nos dizia em sua alocução de Corpus Christi que a adoração eucarística fora da Missa não ofusca, ao contrário do que alguns pensam, a celebração, muito pelo contrário!

Todo tem sua importância, seu tempo e seu lugar. (JS)

Padre Rafael Ibarguren EP

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