A Transubstanciação
A transubstanciação é uma verdade de Fé, e a Fé, segundo São Paulo, “é o fundamento das coisas que se esperam e a garantia das coisas que não se veem” (Hb 11,1).
Redação (25/09/2024 09:51, Gaudium Press) Com a linguagem precisa que cabe nos documentos do magistério eclesiástico, é assim que o Concílio de Trento resume e define o dogma da transubstanciação no Cânon 4 da Sessão n. XIII. É uma frase longa onde os raciocínios se sucedem harmoniosamente, tudo muito bem pesado e medido: “Se alguém disser que no Santíssimo Sacramento da Eucaristia permanece a substância do pão e do vinho juntamente com o Corpo e o Sangue de Nosso Senhor Jesus Cristo e negar aquela maravilhosa e singular conversão de toda a substância do pão no Corpo e de toda a substância do vinho no Sangue, pela qual apenas permanecem as espécies do pão e do vinho (sendo entendidos acidentes), conversão à qual a Igreja Católica com muita propriedade chama de transubstanciação, seja anátema”.
Muitos católicos não professam esta crença com a radicalidade que ela comporta, e nisso tendem a ser mais vítimas do que culpados ao desconhecer, por falta de instrução, a transcendência das palavras da consagração e a ação do Espírito Santo que opera esta transubstanciação durante a Missa.
O espantoso milagre da Transubstanciação não é uma ninharia, faz parte da Revelação, e não se duvida ou ignora uma verdade de Fé sem comprometer a integridade da Fé como um todo. Recentemente, uma pesquisa informou que entre os católicos norte-americanos que dizem que “raramente” assistem à Missa, apenas 51% acreditam na presença real. Outro dado alarmante é que 31% dos católicos que se consideram praticantes naquele país afirmam não acreditar na presença real. Se estas porcentagens forem verdadeiras – as pesquisas de opinião não são ciências exatas e muito menos infalíveis, como o é um dogma… – estaríamos perante um fato esmagador: a incredulidade campeã nas fileiras dos próprios crentes. Este resultado revela o fracasso de um esforço pastoral totalmente equivocado em um assunto central.
Por isso é necessário dar atenção e valor ao que seja a transubstanciação, tanto quanto um tal mistério possa ser acreditado e assimilado. A Igreja desaconselha examinar com curiosidade o modo como se realiza esta conversão, já que não podemos compreendê-la pela lógica humana. Deve-se acreditar também que Cristo está inteiro (corpo, sangue, alma e divindade) em cada uma das espécies consagradas e em cada uma de suas partes, por mais ínfimas que sejam.
Estes tais “católicos incrédulos” de que falávamos – não se pense que existam apenas nos Estados Unidos – não se opõem explícita e conscientemente ao fato das substâncias serem alteradas. Eles simplesmente negam a presença real, considerando a hóstia consagrada como um mero símbolo.
Em sua obra “Filosofia da Eucaristia”, publicada em homenagem ao Congresso Eucarístico Internacional realizado em Chicago em 1926, o renomado filósofo católico espanhol Juan Vázquez de Mella escreveu algumas pinceladas sobre o tema da transubstanciação que valem a pena reproduzir aqui:
“O que significa transubstanciação? A conversão sobrenatural e total da substância inferior em superior, mas não por fusão ou incorporação, o que iria contra o dogma e contra o significado da palavra. O prefixo “trans” nunca significou fusão parcial ou total de uma substância em outra. Indica trânsito, além, troca de uma coisa por outra: transpirenaico, transatlântico, transfiguração, transformação, etc., o provam.
A conversão material e parcial de uma substância em outra na qual está incorporada e na qual permanece como parte ou acidente não é transubstanciação; é uma conversão natural. Na natureza não existe um único exemplo de transubstanciação. Uma substância, o pão e o vinho, existia; outra aparece e a substitui totalmente, pois, embora os acidentes permaneçam, é por ação sobrenatural, e nada resta da primitiva que desaparece, resultando mudada, alterada, naquela que a substitui. Como será chamado esse fato? Está fora e acima das conversões naturais, é sobrenatural e única; então logo teremos a chamada transubstanciação”. (Eugenio Subirana, editor pontifício, Barcelona, 1928).
A transubstanciação é, portanto, uma verdade de Fé, e a Fé, segundo São Paulo, “é o fundamento das coisas que se esperam e a garantia das coisas que não se veem” (Hb 11,1). Esta afirmação paulina pode horrorizar um racionalista, um ateu ou um católico ignorante. Para os católicos de educação moderada, a Fé é o pilar sobre o qual assentam o culto eucarístico e toda a religião. Ora, a Fé é suscetível de aumentar ou diminuir, pode residir na alma em estado robusto… ou raquítico.
Digamos então com o pai da criança possuída por um espírito impuro narrado no Evangelho: “Eu creio, Senhor, mas ajuda a minha falta de Fé” (Mc 9, 24).
Mairiporã, setembro de 2024
Por Padre Rafael Ibarguren EP – Conselheiro de Honra da Federação Mundial das Obras Eucarísticas da Igreja.
Traduzido por Emílio Portugal Coutinho.
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