Recomendações de São Luís IX ao príncipe herdeiro
A fim de libertar Jerusalém dominada pelo sultão do Egito, São Luís Rei iniciou uma Cruzada em 1247, comandando um exército de 60.000 guerreiros.
Redação (11/03/2024 11:17, Gaudium Press) Devido a várias dificuldades, a armada real somente chegou a Damieta, no delta do Nilo, em junho de 1249. Tal o ímpeto do Santo que, antes de seu navio atracar, com espada, escudo e elmo dourado lançou-se nas águas que chegavam até o peito.
Os sarracenos fugiram e os Cruzados, cantando o Te Deum, tomaram Damieta e outras localidades próximas.
O rei ficou aguardando os reforços transportados por seu irmão, Afonso de Poitiers, durante vários meses. Enquanto os Cruzados caíam na indisciplina e moleza, os inimigos se reorganizaram e acabaram vencendo-os na batalha de Mansurá. O Bispo de Soissons demostrou grande heroísmo: com alguns cavaleiros lançou-se contra os maometanos e foi morto.
“Faze-te cristão e eu te farei cavaleiro!”
Os muçulmanos aprisionaram São Luís e chacinaram grande número de Cruzados. A rainha permaneceu em Damieta e, conhecendo a malícia dos maometanos, pediu a um cavaleiro de 80 anos que cortasse a cabeça dela, caso eles se aproximassem. Pouco depois deu à luz um menino que recebeu o nome João Tristão, devido à triste situação na qual nascera.
Certo dia, o chefe dos mamelucos, que haviam assassinado o sultão do Egito, entrou na tenda de São Luís e ordenou que todos os guardas saíssem do local. Apontando sua espada para o rei, disse: “Faze-me cavaleiro ou estás morto! Faze-te cristão antes, replicou o monarca, e eu te farei cavaleiro!”[1]
O chefe se retirou e, algum tempo depois, a tenda ficou repleta de guerreiros muçulmanos armados para aterrorizar São Luís. Mas, impressionados pela sua grandeza, retidão e serenidade, inclinaram-se até o chão em atitude de respeito e saíram.
Morte de Branca de Castela
Tendo sido pago o preço de seu resgate, o rei foi libertado. Durante quatro anos, visitou lugares marcados pela presença de Cristo e promoveu a defesa das regiões que permaneciam católicas.
Más notícias chegaram da França. Um velho, usando batina e mitra, reuniu perto de 30.000 homens do campo que percorreram diversas regiões efetuando graves desordens e crimes, a pretexto de organizar nova cruzada.
Branca de Castela faleceu em 1252. Tivera doze filhos; dois deles obtiveram a glória dos altares: São Luís IX e Beata Isabel de França.
Esta renunciara a se casar com o filho do imperador do Sacro Império Romano Alemão, e fundou um convento de clarissas em Longchamp, nas proximidades de Paris, onde se tornou religiosa. São Boaventura, o Doutor Seráfico, ali pregou várias vezes e, a pedido da Beata Isabel de França, redigiu um tratado intitulado “Sobre a perfeição da vida para as irmãs”.
Então, o Santo monarca resolveu voltar ao seu reino, levando consigo a rainha e três filhos que tiveram no Oriente; entrou na cidade de Paris, em 7 de setembro de 1254.
Continuou a governar a França sapiencialmente. Aprovou leis favorecendo a ordem, a honra, a compostura, e condenando vícios tais como as blasfêmias e imoralidades. Era venerado pelos franceses e muitos o consideravam santo.
“Ame o que é bom e odeie tudo quanto é mau”
Em seu ardente desejo de glorificar a Deus, São Luís promoveu nova Cruzada, a segunda realizada por ele e a oitava no conjunto dessas expedições.
Convocou os principais personagens para comparecerem ao Palácio do Louvre, em Paris, no dia 25 de março de 1267 – solenidade da Anunciação da Santíssima Virgem.
Estando todos reunidos no salão principal, o santo monarca ali entrou levando nas mãos a Coroa de espinhos de Nosso Senhor, e os adjurou a libertar a Terra Santa.
Dias depois foi à Basílica de Saint-Denis, nos arredores da capital, onde recebeu um grande crucifixo e colocou o reino sob a proteção dos apóstolos da França. Regressou a Paris e, descalço, com traje de peregrino e bordão, caminhou de seu palácio até a Catedral de Notre-Dame, na qual uma Missa solene foi celebrada.
Partindo de um porto da Sardenha, a frota real chegou a Túnis, capital da atual Tunísia, em 18 de julho de 1270. O califa dessa cidade prometera rejeitar o maometanismo e receber o Batismo. Depois de conquistar o Norte da África, São Luís pretendia zarpar rumo à Jerusalém.
Devido ao calor e à água contaminada, a peste se alastrou. São Luís ficou gravemente enfermo e seu filho Tristão, tendo vinte anos de idade, morreu. O santo rei, então, chamou Felipe, o príncipe herdeiro, e disse-lhe:
“A primeira coisa que te recomendo é que ames a Deus, pois sem isso ninguém pode ser feliz. Deverás preferir sofrer todos os tormentos do que cometer um pecado mortal. Confessa-te frequentemente.
“Conserva os bons costumes de teu reino e elimina os maus. Reza muito e procura obter indulgências. Ama o que é bom e odeia tudo quanto é mau, onde quer que este se encontre. Esforça-te em extirpar todos os pecados abjetos e a heresia”.[2]
Num leito coberto de cinzas, entregou sua alma a Deus
São Luís recebeu o Sacramento da Unção dos enfermos e comungou. Na madrugada de 25 de agosto 1270 entrou em agonia. Várias vezes dizia com voz fraca “Jerusalém! Jerusalém! Iremos a Jerusalém!”, mostrando como ele sempre pensava na guerra santa para a glorificação da Igreja e derrota dos inimigos de Deus.
Perto do meio-dia, afirmou com firmeza: “Fazei, Senhor, que possamos desprezar a prosperidade do mundo e enfrentar a adversidade!”[3]
Percebendo que a morte se aproximava, ordenou que o cingissem com um cilício e o colocassem num leito coberto de cinzas. Olhou para o céu, dizendo: “Senhor, entrarei em vossa casa e Vos adorarei no vosso santo tabernáculo!”
E às três horas da tarde, momento em Jesus morreu na Cruz, entregou sua alma a Deus.
Seus restos mortais, conduzidos à Basílica Saint-Denis, foram venerados por todo o povo durante muito tempo. Canonizado em 1297, sua memória se celebra em 25 de agosto.
Durante a Revolução Francesa, movidos por ódio satânico, revolucionários destruíram a caixa que continha suas relíquias e as dispersaram…
Roguemos a São Luís que nos obtenha de Nossa Senhora o espírito de oração e penitência, bem como a combatividade invencível a fim de lutarmos varonilmente para a glorificação da Igreja e o esmagamento de seus inimigos.
Por Paulo Francisco Martos
Noções de História da Igreja
[1] MICHAUD, Joseph-François. História das Cruzadas. São Paulo: Editora das Américas. 1956, v. 5, p. 88.
[2] DARRAS, Joseph Epiphane. Histoire Génerale de l’Église. Paris: Louis Vivès. 1882, v. 29, p. 435.
[3] MICHAUD, Joseph-François. Op. cit., p. 258.
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