São Tomás de Aquino: Conselheiro de Papas e do Rei São Luís IX
Na Universidade de Paris, São Tomás de Aquino teve por mestre Santo Alberto Magno, também dominicano e, mesmo em vida, chamado “Doutor Universal”.
Redação (27/01/2024 19:24, Gaudium Press) Depois que São Tomás concluiu o curso de bacharelado, Santo Alberto, maravilhado pela inteligência e, sobretudo, pelas alcandoradas virtudes de seu jovem aluno, levou-o ao mosteiro da Ordem dos Pregadores de Colônia – Oeste da Alemanha –, onde foi ordenado sacerdote em 1248.
Regressando a Paris, São Tomás começou a lecionar na Universidade, e “chamou extraordinariamente a atenção dos alunos e mestres pela novidade de seu método claro, preciso, rigorosamente lógico, bem como pela calma e serenidade da exposição.”[1] Em 1256, recebeu o título de Doutor juntamente com São Boaventura.
Ser professor na Universidade de Paris, no século XIII, era uma altíssima honra. Nela haviam estudantes franceses, espanhóis, italianos, alemães, ingleses, holandeses, portugueses, gregos. Os mestres faziam suas exposições em latim. Tal a importância dessa universidade que “era a terceira potência da Cristandade, ao lado do Pontificado e do Império”.[2]
Lauda Sion
Em 1259, o Papa Urbano IV convocou São Tomás para ser seu teólogo-consultor e acompanhar a Corte Pontifícia em suas viagens. Ele permaneceu em Roma durante uns dez anos atendendo aos pontífices, e foi nessa época que iniciou a escrever a Suma Teológica, sua obra-prima.
Desejando estabelecer um ofício para a solenidade de Corpus Christi, instituída pouco tempo antes, o Papa solicitou a alguns dos principais teólogos que compusessem um texto e o levassem a Roma para lhe ser apresentado.
Terminado o prazo, eles se reuniram junto ao Pontífice e São Tomás foi o primeiro escolhido para ler seu escrito, intitulado Lauda Sion. Os louvores que o Doutor Angélico, nesse cântico, entoou à Sagrada Eucaristia causaram tanto maravilhamento nos presentes que São Boaventura rasgou o pergaminho no qual anotara seu texto, sendo imitado pelos demais teólogos.
À mesa com São Luís Rei
Aproximadamente em 1269, São Tomás regressou a Paris, continuou suas aulas na Universidade e a escrever tratados para a formação dos católicos, bem como a condenação dos erros que então se espalhavam.
A rogos de São Raimundo de Peñafort, ele redigiu a Suma contra os gentios, na qual demonstra, pela luz da razão, para as pessoas que não possuem Fé os motivos para crer.
O Rei da França São Luís IX, tendo tomado conhecimento da santidade e sabedoria do Doutor Angélico, nomeou-o seu conselheiro.
Certa vez, o santo monarca convidou-o a participar de uma refeição à sua mesa, mas ele respeitosamente afirmou que não podia, pois estava ditando a Suma Teológica.
O rei se dirigiu então ao superior do Santo, que lhe ordenou comparecer ao ato. Enquanto os comensais conversavam vivamente, Frei Tomás mantinha-se em silêncio. De repente, ele bateu na mesa exclamando em alta voz: “Modo conclusum est contra hæresim Manichæi! – Está concluída assim a refutação contra a heresia dos maniqueus!”
O superior lhe repreendeu dizendo que estava em presença do monarca, mas este ordenou ao seu secretário pessoal anotar as palavras que o Doutor Angélico passaria a ditar.[3]
A caminho de Lyon, atacado por estranha enfermidade
Por insistente pedido de Charles I de Anjou – irmão de São Luís IX e Rei de Nápoles e da Sicília –, o superior de São Tomás o enviou à Nápoles, a fim de reorganizar o ensino de Teologia na universidade. Autoridades eclesiásticas rogaram-lhe que se tornasse Arcebispo de Nápoles, mas ele não aceitou e passou a lecionar Teologia.
Além de suas aulas, ditou a III parte da Suma Teológica e comentários a Aristóteles. Celebrava frequentemente Missas para o povo fiel, durante as quais proferiu magníficas homilias sobre o Credo, Pai-Nosso, o Decálogo e a Ave-Maria.
Em 1274, o Papa Beato Gregório X convocou São Tomás a fim de participar do IV Concílio de Lyon, na França. Ele se pôs a caminho certamente a pé – poucas vezes viajava a cavalo –, acompanhado de seu fiel secretário Frei Reginaldo de Piperno, “mas foi atacado por estranha enfermidade”[4].
Conduziram-no ao Castelo de Maenza – Itália central – pertencente a sua sobrinha, que era condessa. Notando ser grave seu estado, pediu que o levassem à Abadia cisterciense de Fossanova, pois ele queria morrer numa casa religiosa.
Os monges o acolheram com transportes de admiração, cuidaram do Santo com esmero. A rogo deles, São Tomás passou a tecer comentários sobre o Livro da Sagrada Escritura “Cântico dos cânticos”.
Simplicidade, clareza e energia sobrenaturais
Estando às portas da morte, pediu o Santo Viático. Ao ver Jesus Sacramentado entrar em seu aposento, apesar de sua extrema debilidade, levantou-se do leito e prosternou-se diante do Santíssimo Sacramento por um longo tempo, enquanto rezava o Confiteor. Depois, pôs-se de joelhos e fez esta comovedora oração:
“Corpo Sacratíssimo, preço de minha alma, viático de minha peregrinação!… Por vosso amor, meu Jesus, estudei, preguei, ensinei e vivi. Meus dias, meus suspiros, meus trabalhos foram todos para Vós. Tudo quanto escrevi o fiz com a reta intenção de agradar-Vos.
“Contudo, se houver algo não conforme à verdade, eu o submeto à autoridade da Igreja Romana, em cujo seio e obediência desejo morrer.”[5]
Assim que comungou, entrou num profundo êxtase e sua alma foi levada ao Céu. Era o dia 7 de março de 1274. Tinha apenas 49 anos de idade.
Pleno de admiração pelo Doutor Angélico, Dr. Plinio Corrêa de Oliveira escreveu:
“São Tomás de Aquino foi um grande luzeiro posto por Deus no meio de sua Igreja a fim de esclarecer, confortar e animar as almas pelos séculos afora para que mais galhardamente resistissem às investidas da heresia.
“Enfrentando com sua inteligência possante e sua piedade ardente todos os problemas que em seu tempo estavam franqueados à investigação da mente humana, percorreu ele as mais áridas, as mais obscuras e as mais traiçoeiras regiões do conhecimento, com uma simplicidade, uma clareza e uma energia verdadeiramente sobrenaturais.”[6]
Por Paulo Francisco Martos
Noções de História da Igreja
[1] VILLOSLADA, Ricardo Garcia. Historia de la Iglesia Católica – Edad Media.3. ed. Madri: BAC, 1963, v. II, p. 795.
[2] Idem, ibidem. v. II, p. 773.
[3] Cf. GUILHERME DE TOCCO. Ystoria Sancti Thome de Aquino. Toronto: PIMS, 1996, p.174-175.
[4] FABRO, Cornélio. Breve introdução ao tomismo. Brasília: Edições Cristo Rei. 2020, p. 15.
[5] SAINZ, OP, Manuel de M. Vida del angélico maestro Santo Tomás de Aquino, patrono de la juventud estudiosa. Vergara: El Santísimo Rosario, 1903, p.177.
[6] CORRÊA DE OLIVEIRA, Plinio. O Legionário, São Paulo. 10-3-1940.
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