Santo Antônio de Pádua: Doutor Evangélico
Em suas pregações na Itália e na França, Santo Antônio de Pádua afervorava os fiéis e combatia os hereges. Quando foi exumado, sua língua estava intacta.
Redação (01/11/2023 15:10, Gaudium Press) Santo Antônio nasceu em Lisboa, em 1295. Sendo seu pai aparentado com o comandante da I Cruzada, Godofredo de Bouillon, recebeu no Batismo o nome de Fernando de Bulhões. Na infância, estudou na escola existente junto à Catedral de Lisboa e, na adolescência, num mosteiro de Coimbra.
Nessa cidade, conheceu alguns frades franciscanos e quis integrar-se nessa congregação religiosa. São Francisco de Assis, que se encontrava na Itália, apareceu-lhe numa visão mística e recomendou-lhe entrar na Ordem dos Frades Menores. Em 1220, ele passou a usar um hábito e mudou seu nome para Antônio.
Almejando derramar seu sangue pela Igreja, dirigiu-se ao Marrocos, Norte da África, dominado pelos maometanos. Mas, atingido por grave enfermidade, tomou um navio para regressar a Portugal.
Devido a uma terrível tempestade, a embarcação estacionou na Ilha da Sicília. Caminhando a pé, visitou diversos conventos franciscanos da Itália pedindo que o aceitassem como religioso, pois ele pertencia à Ordem dos Frades Menores. Entretanto era sempre rejeitado.
Por fim, um convento da Romagne, Norte da Itália, o acolheu por compaixão. Ele aí levou uma vida de oração, penitência e estudo.
Pureza e serenidade extraordinárias
Analisando uma pintura de Santo Antônio de Pádua, feita na época em que ele vivia, Plinio Corrêa de Oliveira assim o descreve:
“O nariz adunco (…) tem qualquer coisa do bico de uma ave de rapina. No arcado das sobrancelhas, uma delicadeza, uma precisão e uma força que sobretudo o olhar exprime.
“É um olhar, sob certo ponto de vista, glacial. Não deixa transparecer emoção alguma. O que aparece é a análise — esse tipo de análise que só os pacíficos fazem. Nesse olhar vê-se toda a precisão de quem já passou por todos os desencantos; já viu tudo como é, conhece o pecado original e seus efeitos, satanás com suas pompas e suas obras. Tudo está analisado, catalogado, ele tem um discernimento extraordinário.
“A ponta dos lábios é fina e muito ordenada. Ele tem a resposta que faz dele um martelo que está preparando o seu golpe. Há uma pureza, uma castidade e uma serenidade extraordinárias”.[1]
Professor de Teologia e pregador popular
Certo dia, houve uma cerimônia de ordenação sacerdotal em Romagne. O bispo que a presidia, sem nenhum prévio aviso, após a leitura do Evangelho indicou Santo Antônio para fazer a homilia.
Com total despretensão, o varão de Deus demonstrou tal conhecimento da Sagrada Escritura que todos ficaram admirados.
Ao ser informado desse fato, São Francisco ordenou-lhe estudar Teologia em Verceil – situada entre Milão e Turim –, com o célebre Thomas Gallo. Pelo brilho de sua inteligência, ele causou assombro aos professores e alunos, e Thomas disse que “os progressos do novo discípulo nas Ciências Sagradas pareciam ser mais fruto do ardor de sua alma do que do desenvolvimento intelectual”.[2]
Concluído o curso, recebeu ordem de ensinar Teologia nos conventos franciscanos da Itália e Sul da França. Paralelamente pregava ao povo, formando os fiéis, impugnando os hereges – valdenses e albigenses – e realizando milagres prodigiosos.
Milagres da mula e dos peixes
Entre os milagres, citamos os seguintes.
Um albigense negava a presença real de Cristo na Eucaristia. Dizia que somente acreditaria se uma mula faminta manifestasse algum respeito diante da Hóstia.
Santo Antônio colocou sobre uma mesa um cibório com o Santíssimo Sacramento e ordenou abrirem o cercado onde estava a mula, que ficara sem ração durante três dias. Ao passar diante da mesa, o animal voltou-se para a Hóstia e ajoelhou; depois foi comer a aveia…
“Estando certa vez num povoado marítimo — o qual era repleto de hereges —, Santo Antônio dispôs-se a fazer uma pregação sobre a onipotência divina. Como ninguém vinha escutá-lo, voltou-se para o mar e disse: ‘Já que não há aqui ninguém que queira ouvir a palavra de Deus, vós, puras criaturas, vinde ouvir-me a fim de ser confundida a indocilidade destes ímpios.’
“Logo surgiram milhares de peixes, os quais, pondo a cabeça para fora da água, pareciam prestar grande atenção na pregação de Santo Antônio. Ao fim de sua exortação, deu-lhes a bênção e despediu-os.
“Diante de tal milagre, todo o povo converteu-se.”[3]
Em Roma, prega à imensa multidão
O Papa Gregório IX ordenou que ele fosse a Roma a fim de pregar aos peregrinos que lá estariam para as cerimônias da Semana Santa.
Santo Antônio de Pádua obedeceu e fez um sermão para uma imensa multidão. Além dos italianos, ali se encontravam iberos, gregos, franceses, alemães, eslavos, ingleses. Houve, então, um milagre semelhante ao ocorrido com São Pedro no dia de Pentecostes: todos o entenderam em seu próprio idioma.
Frei Elias de Cortona, sucessor de São Francisco de Assis no cargo de Superior geral dos franciscanos, “via em nosso Santo um adversário de seus projetos de relaxamento”. [4]
Seu desleixo no cumprimento da Regra fomentou outras desordens morais. Elias tornou-se partidário do nefando Imperador Frederico II, que se revoltara contra o Papa Gregório IX e foi excomungado. Pouco tempo depois, esse pontífice excomungou Elias de Cortona.
“Martelo dos hereges”
Em 1229, o varão de Deus mudou-se para Pádua – Norte da Itália – onde suas pregações e seus milagres atraíam multidões. Certo dia, estando numa aldeia sentiu-se mal e pediu para ser levado à cidade de Pádua. No caminho, seu estado agravou-se e conduziram-no a um convento de clarissas, em Arcelli, onde entregou sua alma a Deus. Era o dia 13 de junho de 1231.
Tal o número de milagres feitos através dele que Gregório IX o canonizou onze meses após sua morte. Uma esplendorosa basílica em sua honra foi edificada em Pádua.
Quando se providenciou a transferência de seus restos mortais para a novo templo, verificou-se que sua língua estava intacta. Santo Antônio de tal modo empregara esse órgão para combater os inimigos da Igreja que foi cognominado “Martelo dos hereges”.
Em 1946, Pio XII o glorificou com o título de “Doutor Evangélico”.
Por Paulo Francisco Martos
Noções de História da Igreja
[1] CORRÊA DE OLIVEIRA, Plinio. Ansiedade jubilosa do maravilhoso. In Dr. Plinio. Ano XIX, n. 225 (dezembro 2016), p. 35.
[2] VACANT, A., MANGENOT, E. Dictionnaire de Théologie catholique. Paris: Letouzey et Ané. 1909, v. 1-I, coluna 1446.
[3] Idem. Operando maravilhas…In Dr. Plinio. Ano XIII, n. 147 (junho 2010), p. 2.
[4] VACANT, A.; MANGENOT, E. Dictionnaire de Théologie catholique. Paris: Letouzey et Ané. 1909, v. 1-I, coluna 1446.
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