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São Francisco de Assis lutou contra a decadência da Idade Média

Filho de um rico negociante de tecidos, São Francisco nasceu em Assis – Centro da Itália –, em 1182. Desde menino aprendeu latim e francês e, ao se tornar jovem, seu pai o introduziu no comércio que dirigia.

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Redação (09/10/2023 17:21, Gaudium Press) Possuindo bastante fortuna, Francisco passou a ter uma vida de festins, mas, por especial graça de Deus, não se afundou na lascívia. Admirador da Cavalaria, em suas andanças pelas ruas proclamava canções de gesta. Queria ser armado cavaleiro.

Desejando participar de uma guerra, em 1205 incorporou-se num batalhão que investia contra os alemães e, na cidade de Espoleto, ouviu uma voz que lhe ordenou voltar para Assis. Ele obedeceu, passou a rezar e fazer penitências; assim começou sua conversão.

Viajou à Roma, permutou seus ricos trajes pelos de um pobre e se pôs a mendigar de porta em porta. Regressou a Assis e, na Igreja de São Damião, rezando diante de um crucifixo, Jesus lhe disse: “Vê e restaura minha casa que ameaça ruir!”[1]

Com o dinheiro obtido pela venda de seu cavalo e de alguns tecidos da loja de seu progenitor, ele efetuou a restauração daquela igreja e de outras duas que precisavam de reformas.

Indignado, seu pai apresentou uma queixa aos cônsules dirigentes de Assis. Mas Francisco, enquanto servidor da Igreja, apelou para o bispo da cidade. Isso ocorreu em 1207, tendo o Santo 25 anos de idade.

Pai e filho compareceram diante do prelado; aconteceu, então, um fato demonstrativo da radicalidade de São Francisco no amor de Deus e desapego das coisas do mundo.

Ele retirou suas vestes e as entregou ao progenitor, juntamente com o pouco dinheiro que possuía. Estando apenas com um cilício sobre seu corpo, declarou:

“Agora poderei dizer com toda a exatidão: Pai nosso que estais nos Céus!”

O bispo revestiu-o com o próprio manto, e o pai de Francisco se retirou…

Diante do sultão do Egito

São Francisco percorreu várias localidades e congregou muitos discípulos. Em Gúbio, existia um lobo que assolava a região. Certo dia, o animal apareceu causando pânico em toda a população, mas o Santo foi ao seu encontro. A fera deitou-se aos seus pés e ele disse: “Meu irmão lobo, tu atacas e matas as criaturas de Deus, és um assassino! Quero que me prometas não mais praticar o mal, se te alimentarem”. O lobo pousou suas patas nas mãos do varão de Deus, e nunca mais causou qualquer prejuízo; quando aparecia na cidade, o povo lhe fornecia comida.

Os milagres realizados por ele se multiplicavam. Certa ocasião, trouxeram-lhe um menino de Bagnoregio – Itália central – que padecia grave enfermidade. O Santo fez um sinal da Cruz sobre sua fronte, dizendo “Ó boa ventura!” A criança ficou curada, passou a ser chamada com esse nome e se tornou o grande São Boaventura, Doutor da Igreja.

Em 1209, acompanhado de vários discípulos, ele se dirigiu a Roma onde o Papa Inocêncio III o acolheu com grande estima, pois compreendeu tratar-se de um varão de Deus que sustentaria a Igreja, conforme lhe fora revelado em sonho. Todos fizeram os votos solenes de obediência, castidade e pobreza nas mãos do pontífice o qual nomeou São Francisco superior geral da Ordem religiosa que nascia.

A nova instituição recebeu o título de “Ordem dos Frades Menores” e cresceu tanto que, em seu primeiro capítulo geral, realizado em Porciúncula, compareceram mais de 5.000 frades.

Inflamado pelo desejo de converter os pagãos, São Francisco, acompanhado de um discípulo, viajou para a Terra Santa, por volta de 1218. Mas no caminho foram presos por maometanos que os flagelaram com chicotes e os conduziram ao sultão do Egito.

Diante do chefe dos infiéis, ele fez uma exposição sobre Nosso Senhor Jesus Cristo e propôs que acendessem uma fogueira na qual ele entraria; se permanecesse ileso, os maometanos se converteriam. O sultão rejeitou a ideia, entretanto deu liberdade ao Santo que, com seu acompanhante, regressou à Itália.

Cinco chagas de Cristo

Em 1224, São Francisco foi ao Monte Alverne, na Toscana – Centro-Oeste da Itália –, para jejuar e rezar pedindo a Deus pela Igreja e Cristandade. Ali passou vários dias e, em certo momento, um Serafim – pertencente ao mais alto coro angélico – imprimiu no lado direito de seu peito, em suas mãos e seus pés chagas simbolizando as de Nosso Senhor Jesus Cristo ao ser crucificado.

Essas cinco chagas causaram-lhe intensos sofrimentos; a do lado direito do peito sangrava frequentemente. Pressentindo que iria morrer, pediu que o levassem à Igreja de Santa Maria da Porciúncula e exortou os monges a crescerem no amor de Deus e na execração do pecado.

Em certo momento, rogou que lessem em voz alta os trechos do Evangelho de São João sobre a Paixão de Cristo e entregou sua bela alma ao Redentor. Seu corpo exalava suave perfume. Era o dia 4 de outubro de 1226.[2]

São Francisco de Assis viveu num tempo em que a Idade Média apresentava sinais de decadência, como explica Dr. Plinio Corrêa de Oliveira:

Nessa época “há um paulatino deperecimento da seriedade e da austeridade dos antigos tempos. Tudo tende ao risonho, ao gracioso, ao festivo. Os corações se desprendem gradualmente do amor ao sacrifício, da verdadeira devoção à Cruz, e das aspirações de santidade e vida eterna. A Cavalaria, outrora uma das mais altas expressões da austeridade cristã se torna amorosa e sentimental, a literatura de amor invade todos os países, os excessos do luxo e a consequente avidez de lucros se estendem por todas as classes sociais”.[3]

Pelo seu exemplo, amor à Cruz e desapego dos bens deste mundo, ele batalhou heroicamente contra essas más tendências e ideias. O mundo atual está enovelado em péssimas doutrinas e enchafurdado nos vícios mais execrandos. Imploremos a ajuda de São Francisco para aumentar nosso amor ao bem e ódio ao mal, a fim de glorificarmos a Deus e salvar nossas almas.

Por Paulo Francisco Martos

Noções de História da Igreja


[1] VILLOSLADA, Ricardo Garcia. Historia de la Iglesia Católica – Edad Media.3. ed. Madri: BAC, 1963, v. II, p. 673.

[2] Cf. DARAS. É. Les vies de Saints et fêtes de toute l’année. Paris: Louis Vivès. 1857, 2. ed., v. X, p. 54-83. ROHRBACHER, René-François. Vida dos Santos. São Paulo: Editora das Américas. 1959, v. XVII, p. 304-316. VILLOSLADA, Ricardo Garcia. Historia de la Iglesia Católica – Edad Media.3. ed. Madri: BAC, 1963, v. II, p. 672-683.

[3] CORRÊA DE OLIVEIRA, Plinio. Revolução e Contra-Revolução. 5. ed. São Paulo: Retornarei. 2002, p. 27.

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